09/08/2018 as 07:37

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EDITORIAL: Chega de violência

É preciso maior conscientização com relação à Lei Maria da Penha e também chamar atenção para as denúncias.

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As mulheres negras, de acordo com um estudo, são o principal alvo de comentários depreciativos nas redes sociais. Os dados estão na tese de doutorado defendida na Universidade de Southampton, na Inglaterra, pelo pesquisador brasileiro e PHD em Sociologia Luiz Valério Trindade. Ele analisou mais de 109 páginas de Facebook e 16 mil perfis de usuários.


O levantamento também incluiu 224 artigos jornalísticos que abordaram dezenas de casos de racismo nas redes sociais brasileiras entre 2012 e 2016. Luiz Valério constatou que 65% dos usuários que disseminam intolerância racial são homens na faixa de 20 e 25 anos. Já 81% das vítimas de discurso depreciativo nas redes sociais são mulheres negras entre 20 e 35 anos.


As mulheres negras causam muito incômodo em um modelo de construção social machista e racista. As principais vítimas de agressões nas redes são médicas, jornalistas, advogadas e engenheiras negras. Para se tornarem alvos basta ascender socialmente, adquirirem maior escolaridade.


Esse estudo precisa chamar a atenção para a importância do poder público e das empresas que administram as redes sociais de combater a violência contra as mulheres negras na internet. O pesquisador, que é negro, defende o aprimoramento das políticas de privacidade das redes sociais, com mais punição para usuários que disseminam discurso de ódio.


As pessoas têm que responder civilmente por suas atitudes. Elas não estão protegidas por trás da tela do computador da forma como elas imaginam. As escolas de ensino médio e fundamental precisam preparar os jovens para que, na sua vida adulta, não repliquem esse tipo de comportamento.


Essa discussão chega num momento oportuno. Em todo o país se comemora os 12 anos da Lei Maria da Penha, legislação que nasceu para proteger mulheres da violência física e verbal.


Não basta apenas a lei. As mulheres não devem se calar diante de casos de violência doméstica, que infelizmente se torna, muitas vezes, uma rotina na vida da mulher e pode acabar em morte.


É preciso maior conscientização com relação à Lei Maria da Penha e também chamar atenção para as denúncias. Mulheres têm perdido a vida em razão da violência doméstica e o momento de maior risco para elas é quando decidem dizer “não” àquela relação abusiva.


As mulheres precisam saber que a lei existe e que há também outros serviços de acolhimento e atenção às vítimas de violência doméstica, como abrigamento e medidas protetivas.


Nenhuma agressão à mulher negra. Nenhuma agressão às mulheres!