08/10/2018 as 07:41

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EDITORIAL: Campanha atípica

As redes sociais são bons canais de promoção e "queimação" de candidatos.

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Os fatos mais marcantes da campanha eleitoral desse primeiro turno que terminou ontem foram, com certeza, o candidato esfaqueado e o candidato preso substituído por outro na última hora – ambos líderes da disputa. A campanha presidencial de 2018 chega ao fim escrevendo esses e outros fatos inéditos na crônica da história recente.


Essa mesma campanha termina também abalando o prestígio do tradicional marketing político, batido pelas mensagens virais dos aplicativos – boa parte delas constituída pelo mais puro fake news. A força das fake news é algo lamentável. Parece doença.


Ontem as urnas evidenciaram aquilo que vinha sendo mostrado nas pesquisas, no caso, a polarização do eleitorado brasileiro, fortalecida no pleito de 2014 e no impeachment de 2016, tornou-se mais profunda e extensa.


Pela primeira vez, o principal embate alonga-se do campo da centro-esquerda – no qual PSDB e PT medem forças desde a década de 1990 – e chega à extrema-direita.
Jair Bolsonaro (PSL), primeiro colocado nas pesquisas, está posicionado nesse polo. Em sua trajetória de quase 30 anos como deputado, Bolsonaro esforçou-se ao privilegiar temas caros à agenda ultraconservadora, para ser o oponente preferencial da “ideologia esquerdista”.


Nessa condição, rivaliza hoje com Fernando Haddad, o amigo escolhido por Lula para substituí-lo e encabeçar a chapa do PT. Aqui se verifica mais uma situação inusitada: os dois candidatos preferidos são também os que batem recordes de rejeição.  


A eleição presidencial deste ano também soterra a crença de que um candidato já teria maiores chances de se eleger se tivesse tempo razoável de propaganda na TV e no rádio para apresentar um programa bem produzido, e com mensagens eficazes.


Geraldo Alckmin (PSDB), que teve três vezes mais tempo de propaganda do que o PT, o segundo colocado, é o maior exemplo de que o horário eleitoral contou pouco. Alckmin saiu da campanha praticamente do mesmo tamanho que entrou. O marketing dele não soube introduzi-lo na modernidade, fracassou.
Quando a propaganda é extremamente personalista e o partido que ela promove está rachado e tem um presidente da República fraco, nada dá certo. Veja aí o exemplo: Henrique Meirelles (PMDB), que gastou R$ 25 milhões do próprio bolso só com a produção de programas, também não decolou. Bolsonaro, entretanto, com míseros oito segundos, cresceu dia a dia nas pesquisas de intenção de voto.


Na campanha presidencial de 2018, as transmissões ao vivo na internet e as correntes de WhatsApp chegaram ao auge – algo que se desenhou em 2014. As redes sociais – e as notícias falsas que se propagam por elas – se consolidaram como meios de persuasão política. Redes sociais são bons canais de promoção e de “queimação” de candidatos.


Saturados com o desemprego, violência e corrupção – temas em alta e sempre citados entre os cinco principais problemas do País –, os brasileiros chegam à sétima eleição direta para presidente apoiando fortemente a democracia. Isso é bom, mas percebe-se a democracia abalada no Brasil, onde as instituições estão extremamente fragilizadas.


Uma pesquisa realizada pelo instituto Datafolha, feita às vésperas do pleito, mostra que, para 69% dos eleitores, a democracia é sempre a melhor forma de governo.

Esse foi, segundo o instituto, o índice mais alto registrado desde 1989, quando se realizou a primeira eleição direta logo após a promulgação da Constituição, que completou agora 30 anos. Em 1989, o índice era de 43%.


Os percentuais acima deixam claro um exemplo de que a democracia está mais viva do que nunca. E que assim seja.