21/11/2018 as 10:40

EDITORIAL: Pouco a comemorar

As redes sociais têm escancarado o racismo como um grave problema social.

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No Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado ontem, pouco ou nada a comemorar. O Brasil, que é considerado pelos próprios negros como uma nação que não respeita seus habitantes de cor, busca avançar com medidas que tentam acabar com esse desequilíbrio, mas há sempre obstáculos a serem transpostos. As redes sociais têm escancarado o racismo como um grave problema social.

O Dia Nacional da Consciência Negra foi escolhido em memória ao dia da morte do líder do movimento negro Zumbi dos Palmares. A lei foi sancionada em 2011 pela então presidente da República Dilma Rousseff. Ou seja, um reconhecimento tardio para uma causa tão importante.

Em Brasília, apenas 77 dos 1.790 políticos eleitos em outubro se autodeclararam pretos, no momento do registro da candidatura. O número representa apenas 4,3% de todos os eleitos para cargos nos poderes Executivo e Legislativo nas esferas estadual, distrital e nacional.

Na eleição de 2014, a primeira em que os candidatos foram obrigados a declarar sua cor, 3,1% dos eleitos disseram ser pretos. Apesar da discreta melhora de uma disputa para outra, os dados confirmam a sub-representação racial na política brasileira. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua trimestral (Pnad Contínua) do 3º trimestre de 2018, também do IBGE, 8,8% dos brasileiros (18.339 pessoas) se autodeclaram pretos.

De 2014 para 2018 houve aumento do número de deputados federais pardos e pretos. Há quatro anos eram 103 congressistas, no ano que vem serão 125. No Senado, em 2014 eram cinco pardos e nenhum preto. Em 2019 serão 11 pardos e três pretos.

Nos estados a falta de representação negra nos parlamentos é preocupante. Sergipe é um dos cinco estados que não tem nenhum deputado estadual negro. Nos três estados da região Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), a porcentagem de políticos brancos é, respectivamente, de 98%, 97,5% e 89%. No Rio Grande do Sul, dos 55 eleitos deputados estaduais, 54 são brancos.

Em todo o país foram realizadas marchas pedindo o fim do racismo, mais direitos e democracia. Em São Paulo os manifestantes carregaram uma faixa onde estavam estampados os rostos de lideranças negras assassinadas, entre elas a vereadora Marielle Franco (Psol), morta em um ataque a tiros.


Pediram ainda combate à intolerância religiosa, à violência contra a população negra e à questão quilombola. Pediram o fim dos ataques aos orixás, da destruição dos quilombos. Enfim, pedem um país mais justo e menos desigual.