29/04/2022 as 08:56

EDITORIAL: Terra arrasada

No Dia Nacional da Caatinga, celebrado ontem, serve para refrescar a memória dos brasileiros e apontar para o descaso com biomas sensíveis e ameaçados

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EDITORIAL: Terra arrasada

No Dia Nacional da Caatinga, celebrado ontem, serve para refrescar a memória dos brasileiros e apontar para o descaso com biomas sensíveis e ameaçados. Não custa lembrar que em setembro de 2018 foi instalada, em Brasília, a Comissão Nacional de Combate à Desertificação, aliás, tirada da gaveta, reinstalada, pois estava com as atividades paralisadas, sem reuniões.

Desde então não se fala mais no projeto. O governo mostrou, na criação da comissão, que tinha o objetivo de deixar um planejamento pronto de atividades para a gestão Jair Bolsonaro, que não mostra, até hoje, nenhuma iniciativa em favor do meio ambiente. O avanço da desertificação no semiárido causa efeitos prejudiciais, como a migração de pessoas da região para médias e grandes cidades. O semiárido, se depender desse governo e dessa comissão, se tornará um deserto. A frustração da vida no campo faz com que pessoas abandonem suas casas e isso vem se acentuando e há indicações de que este processo migratório tende a aumentar.

Estima-se que chegue a 20% dessa população do semiárido nas próximas décadas. A retomada da Comissão foi um avanço, pois o tempo perdido durante seu período de inatividade foi danoso para o semiárido. Foram quase dois anos sem a comissão funcionar (entre 2016 e 2017). A retomada mereceu aplausos, mas lamenta-se o seu silêncio até hoje. Um dos problemas principais da desertificação é o descaso com as áreas pela população, o que reforça o processo de desertificação. Há desinformação de cidadãos, que procuram desmatar pra fazer agricultura e pecuária. Esse comportamento precisa ser trabalhado se houver ação de educação para evitá-lo. Um dos desafios desta silenciosa comissão, que deveria estar em debate, é a construção de um modelo agrícola adaptado à caatinga, bioma da região.

O modelo agrícola não pode representar o de outras regiões mais úmidas e com menos vulnerabilidade. É preciso desenvolver de maneira original uma agricultura que possa ser produtiva, economicamente viável, mas que leve em consideração as especificidades do semiárido. Quando se fala da convenção de mudanças climáticas, de atitudes, é preciso ter metas e compromissos concretos, é preciso agir. Quando se fala de desertificação, tem que sair das intenções e partir para compromissos concretos. A Comissão, que tem a finalidade de debater políticas de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca, precisa funcionar de verdade.