13/08/2018 as 10:42

Reposição inflacionária

Salários e falta de estrutura desafiam servidores de SE

Mais de 16 mil trabalhadores enfrentam seis anos sem reposição inflacionária.

COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA

Salários e falta de estrutura desafiam servidores de SEFoto: Divulgação

No mundo do trabalho é difícil não perceber a insatisfação dos trabalhadores do setor público, em especial na esfera dos Estados e na dos Municípios. Entre as várias causas, destacam-se os baixos salários e falta de estrutura em seus locais de trabalho. Entre os cerca de 50 mil servidores estaduais, há um sentimento de revolta instalado, principalmente por conta da falta de diálogo do governo. Há servidores, inclusive, ganhando abaixo de um salário mínimo e acumulando dívidas e problemas de saúde.


De acordo com Diego Araújo, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nos Serviços Públicos do Estado de Sergipe (Sintrase), o problema mais gritante que os mais de 16 mil servidores enfrentam é os seis anos sem reposição inflacionária, o que traz uma perda de 45% e faz com que cerca de três mil servidores ganhem abaixo de R$ 900.


“A tabela do nível básico começa com R$ 900. Esse governo tem por traços não discutir e não negociar, o que torna esse período bastante conturbado. O governo mudou de titular para vice e a política de tratamento continua a mesma: que está em crise, está em crise e nada pode ser feito”, lamenta o sindicalista.


Diante da falta de um salário que dê para as necessidades básicas, muitos servidores estão com graves problemas de saúde oriundos desta situação que eles vêm passando. “Se fizermos uma pesquisa no Banese, vamos verificar quantas pessoas estão endividadas. É uma situação desesperadora! Na tentativa de fechar as contas, muitos acabam recorrendo a empréstimos. Há cerca de 40 dias conversei com um psiquiatra que me contou que pelo menos 50 pessoas se afastam do trabalho por mês com problemas psicológicos. Infelizmente esta é uma realidade de quem tem salários atrasados e contas vencidas”, pontua.


Na tentativa de resolver a situação, nos últimos três anos o sindicato realizou mais de 200 dias de greve e judicializou essa questão por meio de ações coletivas e individuais. “Como não temos diálogo com o governo, a gente faz greve, luta e ele finge que nada está acontecendo. Isso é um desrespeito a vida dos trabalhadores e a população mais carente é quem de fato mais sofre e sente as consequências desse descaso, sem contar os aposentados e pensionistas, que também estão nesta situação”, coloca Diego Araújo.


Felizmente, nem todos os servidores têm a tristeza de receber seus salários atrasados. Os professores, por conta de uma política diferente, recebem seus rendimentos no dia certo. Mas nem tudo está a “mil maravilhas”. De acordo com a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sintese), Ivonete Cruz, quanto à estrutura das escolas e condições de trabalho muito precisa melhorar. “A situação das escolas é um cenário grave, bastante complexo. Faltam políticas públicas, diálogo, segurança. É uma discussão sem fim”, diz.


Para os servidores da área de segurança pública também não está nada fácil. Os policiais civis estão há oito anos sem reposição das perdas inflacionárias, um descumprimento ao que diz a Constituição Federal. “Uma determinação constitucional que o governador não cumpre. A pontualidade do pagamento dos servidores que desempenham função de risco de vida também é um direito nosso, mas isso não acontece. O que ocorre hoje é a completa falta de abertura de diálogo para os sindicatos e uma reestruturação de carreira para que a gente consiga ser mais eficiente para tentar conter o avanço desenfreado da violência”, evidencia João Alexandre, presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Sergipe (Sinpol/SE).


Outro problema evidenciado pelo Sinpol é que dentro da Polícia Civil de Sergipe tem pessoas desempenhando uma função de Estado, que não pode ser desenvolvida por ninguém a não ser policiais. “Em torno de 50 pessoas desempenham a função de policial civil, mas que não são policiais, estão em desvio de função. Então, ou o governo reconhece a função de policial civil ou resolve de outra forma, o que não pode é uma pessoa em desvio de função desempenhar uma função de policial civil. Inclusive, um servidor em desvio de função morreu em uma delegacia”, lamenta.


Para João Alexandre, a categoria vive uma série de absurdos e quem mais sofre com isso é a população. “A partir do momento em que pagamos impostos, em contrapartida devemos ter um serviço à altura. Quando falo em policial civil, falo de agente, delegado e escrivães, não há distinção como é comum ouvir, pois quando não temos o mínimo necessário para a realização do nosso trabalho a sociedade é penalizada. Infelizmente, o governo simplesmente fecha os olhos, ignora e a gente não vê um avanço na prática”, relata.


Os militares de Sergipe também fazem parte do grupo de categorias que há anos veem seus salários congelarem, e o que é pior: não veem o dinheiro entrar na conta dentro do mês trabalhador. “A nossa maior luta atualmente é para que nosso salário seja pago dentro do mês, esta é a maior insatisfação do servidor. Antes a maior luta era pelo aumento de salário, mas hoje a luta está sendo para receber em dia. Os aposentados e pensionistas também estão nessa situação que indigna”, exclama o presidente da Associação dos Militares de Sergipe (Amese), sargento Jorge Vieira.


Ainda segundo Viera, muitos servidores estão afogados em dívidas e empréstimos, pessoas vítimas do descaso do governo. “É uma situação que chega a doer: atrasando mensalidade de escola; contas de luz e água se acumulando; juros do cartão de crédito. Por isso que eu digo que a nossa luta maior é pelo pagamento em dia. Ou será que a gente vai ter que brigar também pela manutenção do emprego? Pois o reajuste linear já estamos há sete anos sem receber ”, argumenta Vieira.


Para o Sindicato do Fisco de Sergipe, a questão salarial realmente é a que mais se destaca quando o assunto é insatisfação com o Governo do Estado. De acordo com Paulo Pedroza, presidente do sindicato, o salário da categoria está defasado há cinco anos e não tem sequer reposição da inflação, o que acumula uma perda salarial de aproximadamente 30%.


“Em relação ao funcionamento dos postos fiscais e condições de trabalho estão aquém das necessidades. Com a chegada do novo secretário Ademario Alves foram tomadas algumas providências no sentido de corrigir deficiências. É pouco tempo para dizer se essas mudanças terão continuidade, mas os procedimentos adotados melhoram e vão repercutir na melhora da arrecadação e espero que tenham aprimoramento. Ainda temos como melhorar a condição da arrecadação do ICMS e o secretário sabe da precariedade e se comprometeu em sanar isso e mudar a política tributária. Nossa arrecadação está aquém da possibilidade. Não é necessário aumentar imposto nem tomar atitude drástica de efetivar perseguições. É preciso sanar essa sangria que é a sonegação”, pontua Pedroza.