22/05/2019 as 09:00

Médico

Assédio moral: Psiquiatra processa Ebserh

Após sofrer diversos constrangimentos que acabaram prejudicando sua saúde, o médico pediu exoneração do cargo público.

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Assédio moral: Psiquiatra processa Ebserh

Um médico psiquiatra que trabalhou de 2014 a 2017 na ala de psiquiatria do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS) está processando a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebersh) – responsável pela gestão da unidade –, por assédio moral. Após sofrer diversos constrangimentos que acabaram prejudicando sua saúde, o médico pediu exoneração do cargo público.


“Em agosto de 2014 fui convocado para assumir cargo público celetista para uma vaga de psiquiatra. Quando entrei haviam quatro psiquiatras e o trabalho na enfermaria era revezado com três deles, uma quarta médica estava de licença e um cumpria sua carga horária no ambulatório. Mas com a aposentadoria de uma das psiquiatras, apensas eu e outro colega passamos a tocar o serviço da enfermaria, o que nos sobrecarregou, afinal enfermaria funciona de domingo a domingo, sem feriados”, explicou o médico M.F.R., que terá o nome preservado nesta matéria.


Ele conta ainda que no serviço de interconsulta (consulta psiquiátrica realizada em enfermaria não psiquiátrica a pedido de outro médico), que inicialmente era feito por ele e por outra psiquiatra, passou a ser totalmente realizado por ele. Apesar de ter solicitado apoio de outro profissional, pois quando ele tirasse férias o serviço iria parar, a solicitação não foi atendida.
“Passei um tempo como chefe imediato do serviço, pois não havia profissional que se dispusesse a ocupar cargo tão complexo numa instituição com tantos problemas. Fiquei sobrecarregado e os poucos profissionais que tinham na casa recebiam tratamento diferenciado. Também me pressionavam para fazer protocolos, mas dizia que protocolo tem que ser feito em equipe, mas a chefia sempre falava para eu começar que depois faziam a revisão. Sugeri também o contrário, mas mais uma vez não fui atendido”, lamenta.


Após diversas outras situações, em maio de 2016 o médico pediu redução de carga horária, pois os problemas estavam interferindo em sua saúde, mas o pedido foi negado. Pouco tempo depois, M.F.R. apresentou um quadro depressivo e foi afastado do trabalho. “Nesse período, apenas os ambulatórios de psiquiatria de três profissionais funcionaram. O serviço de interconsulta psiquiátrica de adultos parou, bem como os meus ambulatórios”.

Em abril de 2017, a Divisão Médica abriu um processo para apuração de conduta, alegando que ele não estava participando das reuniões multiprofissionais e não estava realizando as interconsultas. “Fato é que todos na empresa têm conhecimento de que não havia possibilidade de eu sozinho realizar todas as interconsultas e ainda menos nos turnos matutinos. Ressalto que esse serviço sempre parou diante dos meus afastamentos por doença e férias, o que deixou pacientes desassistidos, mas isso não mobilizou a chefia para a convocação de um substituto, ainda que temporário”, conta.


Após saber da abertura desse processo administrativo, o médico ficou ainda mais com a saúde prejudicada e duas semanas depois pediu exoneração do cargo. “Dei o meu melhor para o hospital e abrem esse processo como se eu fosse negligente. Infelizmente, esse boato se espalhou, fiquei muito abalado, eu não merecia isso e acabei pedindo para sair, minha moral foi colocada em jogo”, contou o médico, informando que já aconteceu uma audiência e a próxima deve acontecer em breve.


Por meio de nota, a Assessoria de Comunicação da Ebersh-SE informou que “o HU-UFS, unidade vinculada à Rede Ebserh, ante a existência de qualquer denúncia, apura os fatos na instância administrativa, conforme disposições do regimento interno. Havendo demanda judicial, o HU-UFS preza, igualmente, pela apuração dos fatos nas instâncias apropriadas. De qualquer forma, o HU-UFS coloca-se à disposição para pronunciar-se mais especificamente sobre o caso em análise após o trânsito em julgado do processo”, declarou.