19/07/2019 as 19:59

ENTREVISTA PAULO CRISTIANO

‘Projeto Anticrime (de Moro) reforçará a ação dos policiais’

Entrevista - Paulo Cristiano – Delegado da Polícia Civil de Sergipe

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‘Projeto Anticrime (de Moro) reforçará a ação dos policiais’Divulgação SSP

O município de Itaporanga D’Ajuda tem um novo delegado. Paulo Cristiano Ricarte assumiu o posto há dois meses e começa a repetir na cidade o bom desempenho que teve em Umbaúba, município que apresentava altos índices de violência. Formado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, foi oficial da Aeronáutica por sete anos em Belo Horizonte/MG e Natal/RN. Trocou a carreira militar federal pela de delegado em Sergipe no período das ‘vacas gordas’, quando o então governador Marcelo Déda produziu significativas mudanças na carreira dos delegados e na segurança pública. O novo delegado de Itaporanga, em entrevista ao JORNAL DA CIDADE, mostra otimismo com o projeto de lei anticrime de Sérgio Moro. Segundo ele, a nova legislação vai fortalecer o trabalho da polícia.

 

JORNAL DA CIDADE – E o projeto de lei anticrime, do Ministério da Justiça, acredita que tem potencial para reduzir as estatísticas da violência no país?

Paulo Cristiano Ricarte – Acredito que em períodos de escalada da violência qualquer medida de enrijecimento da lei penal é bem-vinda. O projeto de lei anticrime, oriundo do Ministério da Justiça, traz uma série de modificações na lei penal e na lei processual penal, destacando-se: possibilidade de prisão após a confirmação da condenação em segunda instância (é o caso do ex-presidente Lula), criação de uma hipótese de legítima defesa para policiais, maior rigor no tratamento de elementos pertencentes à organização criminosa, facilitação do perdimento de bens apreendidos e o seu uso pelo Estado, criminalização do uso do caixa dois nas eleições e dificuldade de soltura de criminosos habituais. Algumas destas modificações, se implementadas na legislação nacional, reduzirão os índices criminais existentes.

 

JC – A prisão após a pena em segunda instância é um avanço? Reforça o trabalho da polícia?

PCR - A possibilidade de prisão após a confirmação da condenação em segunda instância é uma demanda antiga e já usada mesmo sem previsão legal, e baseia-se no entendimento da jurisprudência. A sua previsão em texto de lei trará maior segurança jurídica. A criação de uma hipótese de legítima defesa para policiais respalda os agentes de polícia e os policiais militares nas ações que exigem pronto emprego das armas de fogo.

 

 

 

JC – Como decidiu trocar a Força Aérea Brasileira (FAB) pela carreira de delegado?

PCR – Na Força Aérea trabalhei com investigações de crimes militares e de transgressões disciplinares militares. Daí surgiu a oportunidade de fazer o concurso para delegado de Polícia do Estado de Sergipe em 2006. Resolvi fazê-lo porque havia afinidade em relação às atividades desempenhadas na FAB. A questão remuneratória também me influenciou, considerando a defasagem da remuneração dos integrantes das Forças Armadas.

 

JC – E como foi o momento de atuar pela primeira vez numa delegacia? Qual a primeira cidade onde atuou?

PCR – Inicialmente, assumi a delegacia de polícia de Monte Alegre, e depois laborei em diversas outras cidades. Tratava-se de uma unidade com sérios problemas estruturais, numa época de poucos investimentos na logística da instituição. Após o início do governo de Marcelo Déda, a situação melhorou bastante e tivemos melhorias significativas, como reformas de delegacias, aquisição de novas viaturas, de novos armamentos, etc. Mas o começo foi difícil para todos.

 

JC – Sua passagem por Umbaúba ficou marcada pela queda expressiva nas estatísticas negativas que cercavam o município. Isso marcou sua carreira?

PCR – Sim. Em 2013 recebi a missão de comandar a delegacia de Umbaúba, sul do Estado. Fui informado dos sérios problemas de segurança pública naquela região e montei um planejamento adequado para a demanda que me esperava. Consegui formar uma boa equipe de agentes de polícia e o trabalho foi sendo desenvolvido passo a passo.

 

JC – Foi trabalhoso cuidar de um município que se situa num entroncamento de várias rodovias, uma delas sinônimo de problemas, a BR-101?

PCR – Umbaúba é uma cidade de convergência de rodovias. São três rodovias estaduais que convergem para a cidade, além dos segmentos de BR (101 Norte e 101 Sul). Este fator contribui para o aumento da violência naquela região, notadamente no que diz respeito ao extravio de cargas. É uma região produtora de laranja e detentora de um comércio forte. Há grande circulação de dinheiro no sul de Sergipe, o que atrai a atenção de ladrões. Por fim, destaca-se a ação de traficantes de drogas ilícitas, advindas do sul do país. Priorizamos o combate a estes dois delitos graves (assalto a mão armada e tráfico de drogas). Realizamos grandes operações, a exemplo da Operação Reditus, em junho de 2018, que resultou na captura de 14 pessoas, além da apreensão de drogas e armas.

 

JC – Acredita que seus números em Umbaúba credenciaram a nomeação para Itaporanga, que também tem a sede cortada pela BR-101 e altos índices de violência?

PCR – Acredito que o trabalho realizado foi observado positivamente pela chefia. Houve o convite para atuar em Itaporanga D´Ajuda com a finalidade de diminuir o índice de violência daquele município. Aceitei o convite e desloquei a equipe para esta nova missão.

 

JC – E como tem sido esse início de trabalho no município?

PCR – Tivemos um positivo início de atividades em Itaporanga. Já contamos com trinta e uma prisões em três meses de trabalho. Há muito a ser feito, mas o início tem sido promissor. Como exemplo, temos a elucidação de um grave homicídio ocorrido no início do ano, quando um jovem veio a óbito após sofrer dezenove disparos de projéteis de arma de fogo. Seis elementos foram presos por conta da investigação. Num outro caso, conseguimos prender três marginais que roubaram uma chácara e mantiveram os moradores reféns, duas armas de fogo foram apreendidas e dois carros foram recuperados. Por fim, prendemos um dos elementos mais temidos do município com o qual foram encontradas duas armas de fogo, uma pistola e escopeta calibre 12, além de toucas bala clava e um colete balístico.

 

JC – O fato de Itaporanga ter uma extensão territorial muito grande dificulta seu trabalho? Da sede para alguns povoados o percurso chega a ser de quase meia hora...

PCR – Dificulta por conta da pouca quantidade de policiais de que dispomos e da reduzida cota de combustível das viaturas, como é do conhecimento de todos. Mas temos que ressaltar o esforço da chefia para resolver estes problemas pontuais, notadamente no caso do combustível. A Coordenadoria de Polícia do Interior tem fornecido cotas extras para suprir a necessidade da equipe.