26/09/2019 as 08:00

DE MANEIRA ROTATIVA

Trabalhadores criticam "função polivalente"

Segundo líder sindical, essa possibilidade de trabalho nivela por baixo os funcionários de supermercados

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Trabalhadores criticam

Uma nova modalidade de trabalho tem sido recorrente em alguns supermercados da capital. A chamada “função polivalente” chega como alternativa para empresários estancarem parte da crise instalada no setor nos últimos anos.


A função polivalente consiste na realocação dos trabalhadores para que atuem em várias áreas, de maneira rotativa, sem uma tarefa fixa. E, segundo um grupo de trabalhadores, isso já está acontecendo em Aracaju.


“A gente fica de mãos atadas. Fomos contratados para desempenhar uma função e acabamos realizando muitas outras. Isso é pedido com jeitinho, mas a gente sabe que se recusarmos estamos desempregados. E, depois dessa reforma trabalhista, a coisa parece que ficou pior para o empregado. O patrão pode muito mais”, lamenta uma empacotadora de uma grande rede de supermercado e que prefere o anonimato para evitar represália.


Para o presidente da Federação dos Empregados no Comércio e Serviços de Sergipe (Fecomse), Ronildo Almeida, essa situação nivela o trabalhador por baixo e pode se caracterizar como desvio de função.


“Nós temos a nossa convenção que exige a função específica, tanto é que não existe um piso só para algumas áreas do comércio. O que existe também é a questão do desvio de função na convenção coletiva. Se cada empregado exercer funções variadas, você precariza a mão de obra, você qualifica por baixo. Por que não se deixa o encarregado ser gerente e receber o salário? Por que você não deixa o gerente assumir um cargo de diretor? Isso é o que tem sido passado pelos empregados, que, inclusive, estão inseguros. Existe um contrato. O cidadão foi contratado para determinada função e, depois, ter que fazer outras funções? Aí eu pergunto se eles vão alterar o contrato, o trabalhador vai ganhar algum adicional por isso?”, questiona o líder sindical.


O presidente da Fecomse vai mais além: “A maior parte das empresas não aplica o que está na reforma. Nós temos uma convenção coletiva que tem força de lei, então não se pode descumprir uma convenção. Na ‘deforma trabalhista’ eu não vi nada que vislumbre encerrar os contratos que já existem e fazer novos contratos com outras funções. A gente sente que é o capitalismo selvagem impondo, mais uma vez, seu poder de mando e de exploração”, avalia.


Por último, o representante da classe trabalhadora relembra lei aprovada com o intuito de abrir o comércio e os supermercados aos domingos. Segundo ele, a desculpa de que ampliaria os postos de trabalho parece que não logrou êxito.


“Há uns anos, os grandes empresários do comércio se juntaram com os políticos e disseram que abrir o comércio aos domingos era importante porque iria gerar emprego. A gente se pergunta: cadê os deputados que votaram? Cadê os vereadores de Aracaju? Quantos empregos foram gerados para os comerciários? As autoridades são resistentes em ouvir o trabalhador, o pobre, o explorado. Eles gostam de ouvir o patrão, o dono do dinheiro”, pontua Ronildo.


A reportagem do JC entrou em contato com o presidente da Associação Sergipana de Supermercados (Ases), Francisco Albuquerque, que informou desconhecer essa forma de trabalho.


“Sou bodegueiro desde 1970 e desde muito tempo nunca ouvi falar da função polivalente. Eu desconheço essa função. Isso não existe na legalidade. Agora, se algum supermercado está fazendo isso, eu não sei, e entendo como desvio de função”, finaliza o presidente da Ases.