02/10/2019 as 07:45
LOTADO E ABANDONADOGavetas abertas com restos mortais, mato para todo lado e uma política desumana de retirada
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Para quem perde um ente querido e não possui condições financeiras de sepultá-lo em um cemitério particular, a situação é bem complicada quando se acessa o maior cemitério público da capital.
O São João Batista, hoje, está em visível sinal de abandono. Para se ter ideia da situação, diversas gavetas estão abertas e com restos mortais a mostra. Além disso, o mato toma conta de toda a extensão do local.
“Aqui não é bem cuidado. No dia do enterro da minha mãe eu pisei nos ossos de gente que estava no chão. Minha irmã foi enterrada aqui e ninguém sabe dos ossos dela aonde foram parar, se queimaram, ninguém sabe de nada. Eu sei que é muita gente, mas tem que ter organização. O pobre vai para a Colina da Saudade? Mas Deus vai pedir conta de tudo. Minha mãe era uma mulher honrada, honesta e trabalhou na prefeitura. Minha gente, não é assim não”, afirma a professora aposentada Anadir Torres.
Segundo a Assessoria de Comunicação da Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb), atualmente quatro cemitérios são administrados pela Prefeitura de Aracaju: o ABC, localizado no Jardins e que se encontra inativo; o Náufragos, no Mosqueiro, que também está inativo e é de responsabilidade da Marinha brasileira e conta com serviços de limpeza da Emsurb; o Helena Bandeira, na Atalaia, que possui atendimento restrito a quem já possui jazigo, e o Cemitério São João Batista, no Ponto Novo, que possui 1.821 jazigos e 4.218 gavetas ocupadas.
Atualmente, só há vagas para sepultamento no Cemitério São João Batista. Ainda de acordo com a Assessoria da Emsurb, conforme decreto 007/2018, o período para exumação é de dois anos e uma média de 15 corpos é exumada diariamente, das 6h às 8h. Após este processo, os ossos são encaminhados ao novo depósito, localizado no interior do cemitério.
Nas informações prestadas também pela Assessoria da Emsurb estão disponíveis 60 vagas para sepultamento em gavetas, sendo 30 para pessoas obesas. Mas a equipe de Reportagem do JC esteve no cemitério para constatar as informações fornecidas.
Com relação às gavetas destinadas às pessoas obesas, estas são uma realidade. Já quanto às outras 30 destinadas para sepultamento em geral, ao fazer a contagem por todo o espaço do cemitério o número não passou de 13. Em conversa informal com os coveiros da unidade, a história é outra.
“Todo dia não. A gente abre um dia, o outro não. Sabe o que acontecia? Enterrava gente do Estado todo. De onde fosse, chegava aqui e fazia. Agora não é. Cada um faz seus enterros em seus locais. Antigamente, a gente tinha que abrir todo dia. A gente tira uns seis, sete ossos dia sim, dia não. Antigamente era 12, 15, todo dia. Teve um dia de domingo que chegaram 18 enterros. Nunca falta gaveta”, garante o coveiro.
Quando o assunto é a política de retirada de ossos, a falta de humanidade é latente. “Pelo que eu vejo hoje está melhor. Antigamente era muito pior. Tem um prazo de, no máximo, três anos, para a família tirar os ossos. Não é ligar para avisar. Se ela coloca os parentes dela na gaveta, e deixa lá sem fazer benfeitoria nenhuma, um ano e oito meses a gente está abrindo. Mas se ela fizer uma benfeitoria qualquer vai ficar dois anos. Não tem como a pessoa reclamar”, esclarece o coveiro.
Comparando com outros cemitérios da capital, a exemplo do Cemitério da Cruz Vermelha e do Santa Isabel, por lá os responsáveis pelo sepultamento preenchem um termo com contato telefônico e são comunicados quando se aproxima da data para a retirada dos ossos dos seus entes queridos.
Por último, a Emsurb informou que cuida da estrutura física do espaço, se responsabiliza pela limpeza e organização, além da exumação dos corpos através da Diretoria de Espaços Públicos Abastecimento (Direpa).
| Reportagem: Da Redação JC
|| Fotos: André Moreira