17/10/2019 as 08:00

CAINHOS DA EDUCAÇÃO

Sociólogo não acredita em escola cívico-militar

Para ele, aproximação da escola com a família ainda é o melhor caminho

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Em passagem por Sergipe para proferir uma palestra na Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese) sobre os caminhos da educação civil frente ao modelo militar do Governo Federal, o sociólogo e doutor em Ciências Sociais pela Unicamp Rudá Ricci aproveitou para discutir o tema também com os internautas do JORNAL DA CIDADE.

Vale ressaltar que o Governo Federal anunciou, no início de setembro, a implantação do modelo de escola cívico-militar para todo o país, deixando a cargo do governador de cada localidade aderir ou não ao programa.

No fim das contas, encerrado o prazo de adesão, 11 estados decidiram por não participar do programa, sendo Sergipe um deles. No Nordeste, apenas o Ceará fará parte do programa. Três regiões do Brasil tiveram adesão em massa, foram elas: Norte, Sul e Centro-Oeste.

“Há quem argumente que os educadores brasileiros fracassam no ensino público. Ora, tal argumento caberia em relação ao fracasso das forças militares em manter a ordem e conter a violência urbana e os grupos de narcotráfico que comandam territórios e até mesmo presídios. Um argumento fantasioso, portanto, já que não se trata efetivamente de fracasso ou sucesso, mas de condições de trabalho e estratégias nacionais para a segurança e para a educação do país”, argumenta Ricci.

Sociólogo não acredita em escola cívico-militarO modelo aposta na hierarquia e disciplina para acabar com a violência escolar. Esse é o principal resultado apontado por gestores de escolas cívico-militares. Na prática, as escolas “militarizadas”, como são conhecidas, têm suas administrações escolares assumidas pelos militares, enquanto a parte pedagógica (professores e métodos de ensino) segue sob a alçada da Secretaria de Educação.

“Eu acho louvável que os militares estejam pensando na Educação, mas cada um na sua área. Eu não posso ditar a Segurança Pública por não ser especialista, apesar de saber muito sobre o assunto. Acredito que eles terão muito o que aprender conosco. A escola militarizada trabalha a educação pelo meio da repressão e da política do medo, isso não é bom”, explica o sociólogo.

Rudá Ricci é presidente do Instituto Cultiva, que se dedica há mais de uma década à implantação e estudos na área educacional, em especial, voltada para a consolidação da cidadania ativa e capital social. Também é elaborador do programa Orçamento Participativo Criança (que resultou em uma publicação pela Editora Autêntica, de Belo Horizonte).

Foi formulador e consultor do Programa de Formação para a Cidadania de Jovens, para a Pastoral da Juventude Leste II (Minas Gerais e Espírito Santo), além de ser consultor do Programa de Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU) e consultor para avaliação de programas de desenvolvimento do Banco Mundial.

Para finalizar, Rudá aponta que a solução para diminuir a evasão escolar, melhorar o desempenho estudantil e interromper o ciclo de violência nas escolas é criar experiências educacionais que pense a vida da criança até a sua fase adulta.

“Temos que apontar para a criação de programas que tratem integralmente do pré-natal até o primeiro emprego, articulando dados que vinculem o desenvolvimento das crianças e adolescentes, as condições de vida, o sistema de proteção e garantia de sua estabilidade social e os estímulos educacionais que recebem nas escolas, nas suas famílias e comunidades”, diz Ricci.

 

 

 

| Reportagem: Da Redação JC

|| Foto: André Moreira