18/02/2020 as 08:57

PROBLEMA CARDÍACO

Perito alerta para riscos do “cigarro eletrônico”

Além do alto poder viciante, a presença da substância glicerol aumenta o risco de problemas cardíacos

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Perito alerta para riscos do “cigarro eletrônico”

Os produtos de potencial risco reduzido (PPRR), os chamados cigarros eletrônicos ou vaporizadores, são autorizados e comercializados em vários países do exterior, porém, são expressamente proibidos no Brasil desde 2009, quando uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) previu embargos por falta de dados científicos sobre a eficácia e segurança desses produtos.
Apesar disso, os cigarros eletrônicos já ganharam as ruas do país e podem ser vistos facilmente sendo consumido em ambientes diversos. Trazendo para mais próximo da realidade, durante os desfiles dos bloquinhos na Capital não faltaram adolescentes e jovens fazendo uso do produto.
Em agosto do ano passado, a Anvisa realizou uma audiência pública para rediscutir uma possível liberação desses produtos no mercado, inclusive, o assunto foi um dos temas do XVII Simpósio Latino-americano de Cromatografia e Técnicas Relacionadas (Colacro), que aconteceu em Sergipe no mês de julho de 2019.
Segundo o perito criminal do Instituto de Análises e Pesquisas Forenses (IAPF), Nailson Correia, os riscos no uso do cigarro eletrônico são inúmeros e as pessoas precisam ter a ciência do que estão consumindo.
“O que as pessoas não têm conhecimento e essa é a nossa maior preocupação, é que a maior parte desses cigarros eletrônicos contêm uma grande concentração de uma substância perigosa, que é a nicotina, e ela é viciante. Além disso, possui o glicerol, que a gente usa muito em sabão. Mas, neste caso, qual é o problema desse composto? O problema é que a presença dele na corrente sanguínea aumenta as chances de ter ataques cardíacos, ele pode causar um acidente vascular cerebral. As pessoas quando estão consumindo o cigarro eletrônico precisam saber dos riscos”, alerta o perito.
Nailson afirma ainda que o cigarro eletrônico surgiu como forma de diminuir os impactos para fumantes compulsivos, porém, ele passou a atrair um grupo grande de adolescentes e jovens, o que fez com que a indústria adicionasse alguns sabores, a exemplo da baunilha, do chocolate e da menta.
“O uso do cigarro eletrônico não é crime, o que as pessoas precisam compreender é que o cigarro eletrônico surgiu há nove anos atrás como uma fonte alternativa para aquelas pessoas que eram consumidoras de cigarro comum, que possui mais de 4.500 substâncias e 60 são cancerígenas. O problema é que a indústria começou a notar que isso chamava a atenção principalmente dos jovens e começou a colocar sabor, os chamados ésteres”, explica Nailson.
Vale ressaltar que o consumo não é proibido, mas a venda do cigarro eletrônico sim. Em contrapartida, até hoje, houve apenas uma apreensão desse tipo de material em Sergipe, que aconteceu em novembro do ano passado no município de Riachuelo.
Para realizar a análise e poder afirmar sobre os riscos dos compostos presentes neste aparelho, o IAPF dispõe de um cromatógrafo gasoso, onde os peritos desenvolveram um método próprio para a análise, apesar de ainda aguardar a aquisição de padrões para determinar o nível de concentração.
“Para a gente analisar, tivemos que desenvolver um método, pois para a química a gente não pode simplesmente dizer que tal substância tem maior concentração. É preciso fazer uma curva de calibração e estamos adquirindo padrões para determinar realmente a concentração. Vários artigos dão conta de que o cigarro eletrônico é muito mais concentrado do que o cigarro comum, então, enquanto você está fumando um cigarro eletrônico, é como se você tivesse inalando oito, nove, dez cigarros. Em termos de poder viciante, o cigarro eletrônico é muito maior, devido à quantidade de nicotina ali presente”, pontua Nailson Correia.

|Reportagem: Diego Rios

||Foto: André Moreira