02/07/2020 as 07:52
DENÚNCIAPorta-voz da Polícia Militar afirma desconhecer situação e aponta para a recém-aquisição desse equipamento de segurança
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Em meio à pandemia instalada em decorrência da Covid-19, policiais militares relatam o compartilhamento de coletes balísticos entre si. Isso mesmo. A situação é grave e expõe os profissionais ao iminente risco de contaminação.
Para se ter ideia da situação, segundo um policial que prefere não ser identificado por medo de represália, ele já teve que utilizar um colete que estava molhado de suor, sem contar o mau-cheiro.
“Isso é uma falta de humanidade. Tive que pegar uma camisa minha para enxugar o colete que estava encharcado de suor de um colega. Isso não se faz. Passei o dia com o mau-cheiro impregnado na minha roupa. Peço ao comando que tenha um pouco mais de empatia conosco. Estamos servindo à sociedade e somos tratados como cachorro”, afirma o militar.
O presidente licenciado da Associação dos Militares de Sergipe (Amese), sargento Jorge Vieira, chama a atenção também para os policiais que trabalham no Batalhão Especial de Segurança Patrimonial (Besp). Segundo ele, esses profissionais possuem mais de 30 anos de carreira e estão próximos da idade considerada para o grupo de risco do coronavírus.
“Recebi essa semana a ligação de dois componentes do Besp. Muitos deles trabalham tomando conta do patrimônio, como na Urgência do Ipes e no Hospital de Urgência de Sergipe. Primeiro, já é complicado porque pessoas de 30 anos de serviço já são pessoas idosas, não se coloca um público vulnerável em local que não é condizente. E o que é pior: no Huse tem três coletes, ou seja, a guarnição tira serviço, o colete fica podre, encharcado de suor e cheio de bactéria, sendo agravado em um local insalubre, que é um hospital. O correto seria não deixar, pelo menos nesse período, o pessoal do Besp em nenhum local de saúde. Para preservar a tropa eu peço que coloquem coletes acautelados e que retirem esses policiais do Besp desses locais. É um contrassenso colocar pessoas próximo da idade de grupo de risco, além da questão agravada pelo uso de colete de forma irregular”, aponta Vieira.
O sindicalista insiste que a situação do compartilhamento de coletes deve ser prioridade dentro da corporação.
“Temos uma luta travada de vários anos e que vem diminuindo a cada dia em que a polícia adquire coletes. Porém, ainda existem muitos policiais que trabalham e passam o colete para o outro. Inventaram umas capas, mas não adianta porque a capa fica no corpo da pessoa, o suor passa. Não é higiênico e nesse período se agrava. Isso é reprovável e a Polícia Militar e o poder público não podem se omitir, isso tem que ser resolvido de uma vez por todas. Cada policial tem que ter o seu colete até mesmo na hora de ir para casa, porque ele não deixa de ser policial”, pontua o sargento.
Questionado sobre a situação, o porta-voz da PM/SE, o coronel Fábio Machado, informou que desconhece essa situação referente aos coletes balísticos e que basta uma pesquisa no site da PM para constatar a entrega de novos coletes em diversas unidades da corporação.
Ainda segundo Machado, em relação aos profissionais do Besp que estão dentro do grupo considerado de risco estes foram substituídos por alunos soldados desde o início da pandemia.
O sargento Vieira contrapõe a fala do coronel Machado que diz desconhecer o problema de compartilhamento de coletes. “Segurança Pública tem que ser tratada como prioridade, não pode ser considerada como uma política simples. Você pode ter a melhor saúde do mundo, a melhor educação e o cara chegar e tirar sua vida. Se o coronel Machado informou que desconhece o compartilhamento de coletes, no mínimo está sendo irresponsável e negligente. Ele tem que assumir o problema de forma honrosa. Ele está fazendo um desserviço e apunhalando os policiais militares”, finaliza o militar.
Recentemente, no último dia 17, a Secretaria de Segurança Pública de Sergipe (SSP/SE) entregou 1.022 novos coletes balísticos para as Polícias Militar e Civil.
Segundo informações da SSP/SE, no total, o investimento foi superior a R$ 1,1 milhão, parte oriunda de dois convênios [valor total de R$ 478 mil] e do fundo a fundo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) [no valor de R$ 532 mil]. Dos 1.022 coletes entregues, 486 são frutos de recursos dos convênios e os outros 536 são provenientes de recurso fundo a fundo.
|Por Diego Rios/Da equipe JC
||Foto: Divulgação