07/07/2020 as 08:29

PANDEMIA

Educação infantil: 100% das escolas suspenderam contratos

Movimento pleiteia isenção de impostos e compra de vagas na rede privada

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Desde o início da pandemia da Covid-19, ainda no mês de março, diversos setores travaram uma verdadeira batalha para tentar readaptar as suas estruturas a uma nova realidade imposta devido à propagação do vírus. Vale ressaltar que em Sergipe já são mais de 30 mil infectados e mais de 800 mortos. Entre os segmentos que tentam uma nova forma de manter os seus trabalhos estão os berçários, hotelzinhos e a Educação infantil. Porém, tem sido cada vez mais difícil manter suas receitas e os empregos dos seus colaboradores.

Para se ter ideia, mais de 25 mil crianças são atendidas por berçários e pré-escolas privadas em Aracaju. Além disso, essa rede oferta mais de três mil empregos diretos. Atualmente, quase 60% dos pais já cancelaram as matrículas dos seus filhos, ocasionando em demissões em massa.

Por esse motivo, um grupo de proprietárias de berçários resolveu dar início a uma campanha para tentar garantir a sobrevivência do setor e criou o Movimento de Apoio e Valorização dos Berçários e Pré-Escolas. “Com relação à suspensão nos contratos de trabalho, 100% das escolas já aderiram, acreditando que iríamos voltar no mês de julho.

Como não tem essa perspectiva, muitas escolas já estão demitindo. Algumas não estão nem podendo demitir porque não existem recursos e vão fazer acordos extrajudiciais para desligar suas equipes. Tem berçário que já perdeu 80% da sua receita. A maioria, em média 150 berçários, já perdeu em torno de 60% de suas receitas. Está difícil.

Os pais precisam voltar a trabalhar e a maioria precisa de um apoio. Eles preferem manter em uma escola, porque o custo é menor do que contratar um serviço terceirizado para trabalhar em casa. Eles não têm com quem deixar os filhos, pois muitos não têm família em Aracaju. Isso é uma realidade em todos os berçários”, avalia uma das líderes do movimento, a pedagoga Jocélia Viana. Ela vai alem e exemplifica o próprio negócio, onde algumas colaboradoras estão prestando serviços particulares nas residências para tentar sobreviver durante esse período crítico. “Na minha escola, tenho 20 funcionárias e dez delas estão prestando serviço na casa de alguns pais.

Ao invés de chamar alguém de fora que eles não conheciam, fizeram um acordo com elas e alguns dias na semana elas estão indo suprir a necessidade das famílias. Não é um problema só do berçário que está fechando, existe todo um mercado que funciona com a existência dos berçários. É uma rede de pessoas que está prejudicada. Os professores fixos tiveram a suspensão dos contratos, mas os professores que realizam trabalhos pontuais, como judô, balé e capoeira, tiveram seus contratos cancelados imediatamente quando parou de oferecer a aula”, exemplifica a gestora.

Ela diz ainda que criou o movimento como forma de sensibilizar o setor público, que precisa tomar uma medida urgente de apoio a esse nicho. Para tanto, um documento está sendo elaborado e deve ser apresentado aos gestores públicos com algumas sugestões a serem implantadas, a exemplo do “voucher educacional”. “A gente precisa de ‘voucher educacional’, que é uma prática que já é realizada em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Sul do país. O voucher funciona com o governo municipal comprando as vagas das escolas privadas para alunos das escolas públicas, que é para onde vão os nossos alunos por conta da perda de emprego dos pais, que impossibilitará o retorno dos filhos para a rede privada e vão migrar para a rede pública. A demanda reprimida que o governo já tinha vai aumentar e a gente aproveita para resolver tanto o nosso problema quanto o dessa demanda. Estamos criando um documento jurídico, inclusive com números de quanto o governo paga por aluno, e vamos pleitear que esse custo seja repassado para as escolas para atender a essa demanda reprimida. Isso é temporário, a gente não quer isso para a vida toda, mas pelo menos até um ano depois que a gente voltar a funcionar. Também queremos anistia de impostos, já que a gente não tem receita. Por enquanto estamos tentando mobilizar e chamar a atenção, mas vamos para outros campos de enfrentamento”, finaliza a educadora.

A assessoria de Comunicação da Federação das Escolas Particulares de Sergipe (Fenen/SE) informou que a federação tem atuado diariamente na orientação para diretores das escolas filiadas ou não, no que se refere ao constante diálogo com os pais ou responsáveis. Diante da falta de previsão do retorno das aulas presenciais, de iniciativas por parte das autoridades, e por entender que o retorno deve ser extremamente cauteloso, a Federação contratou o Instituto Motivação, de São Paulo, que está elaborando um protocolo de cuidados no ambiente escolar, com os procedimentos e orientações para a nova realidade da prestação de serviços educacionais. O protocolo está em fase conclusiva e com ele a federação irá discutir com as autoridades locais a possibilidade de retorno das aulas presenciais, inclusive para educação infantil.

|Foto: Divulgação