17/09/2020 as 09:02

LESÃO CORPORAL E TRANSFOBIA

Transexuais têm apartamento arrombado pela polícia

Elas foram acusadas de roubo por um cliente que não quis pagar valor combinado do programa e ficaram detidas por 7 horas em uma delegacia

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Transexuais têm apartamento arrombado pela políciaDivulgação

No fim da tarde da última terça-feira, 15, duas mulheres transexuais foram acionadas por um cliente, de aproximadamente 50 anos, para a realização de um programa, que aconteceu na residência delas, localizada na Rua Divina Pastora, no Centro da capital.

Renata Alves, de 24 anos, e Jordana Labelle, de 23, relatam que, após a consumação do ato sexual, o cliente Jorge Luís teria pago o valor acordado a uma delas e disse que iria até o carro pegar o combinado com a outra. Mas, nesse instante do trajeto até o veículo, a coisa desandou.

“Ele foi para o apartamento e a gente acabou fazendo o programa a três. Quando terminou, ele falou que só estava com o meu dinheiro e que ia descer para pegar o dela no carro. A gente acompanhou até o carro para ele não correr, pois acontece muito isso. Quando chegou na esquina ele começou a gritar por socorro e saiu correndo. A gente voltou, tomou banho e seguiu para o supermercado para fazer compras”, explica Renata.

Até então, a situação parecia ter terminado por aí, até que ao retornarem do supermercado foram surpreendidas por policiais na residência onde moram. O detalhe é que a porta havia sido arrombada e os cômodos revirados.

“Quando voltamos, tinha uma viatura na frente de casa. Quando a gente entrou, eles já tinham arrombado o apartamento, tinha um policial embaixo que já botou a arma na nossa cara mandando subir, empurrando, batendo. Foram três policiais fardados e dois à paisana, que eram amigos dele. Eles arrombaram a porta, reviraram a cozinha, reviraram os nossos quartos. Eles disseram que estavam procurando uma quantia de R$ 4 mil e o telefone que ele havia dito que a gente tinha roubado. Foi quando começaram a me bater para que eu desse conta”, relata Renata.

Ela vai além e afirma ter sido destratada a todo instante pelos policiais na delegacia. “Na delegacia não fomos tratadas pelo feminino, mesmo tendo o nome retificado. O policial disse que eu tinha que desbloquear o meu telefone, e eu questionei dizendo que era pessoal. Ele disse que esse meu deboche merecia um tapa na cara. Eu desbloqueei e ele ficou com o aparelho”, lamenta a transexual.

A versão relatada por Renata em relação à forma de tratamento dispensada na delegacia é corroborada por Jordana Labelle. “Eles nos conduziram por volta das 18h30 e só nos liberaram perto de 1h. Eles ficavam fazendo piadinhas. Minha amiga ficou algemada por umas três horas e depois eles nos colocaram em uma cela. Me sinto humilhada. Fora a transfobia, que a gente já está acostumada a lidar, a vergonha e a falta de credibilidade que a gente fica perante nossos vizinhos. Nos coagiram na nossa moradia. Teve um que perguntou se minha amiga era operada e nos tratavam no masculino, além de ficar com mangação perguntando se a gente queria marcar um programa. Ficavam com piadas o tempo todo. Ainda ficaram com os nossos telefones e não devolveram”, confirma Jordana.

Na manhã da quarta-feira, 16, as duas estiveram na Corregedoria da Polícia Civil para prestar uma queixa contra os policiais envolvidos no caso. Ainda nesta quinta-feira, 17, a dupla também irá até a Corregedoria da Polícia Militar para abrir um procedimento contra o trio de policiais que invadiu o apartamento onde moram. Elas também irão até a 3ª delegacia com o intuito de reaver os aparelhos celulares.

De acordo com a Assessoria de Comunicação da Polícia Militar de Sergipe (PM/SE), após o registro do boletim de ocorrência, o fato será apurado pela Polícia Civil e a corporação aguardará as investigações. Já a delegada responsável pelo departamento, Meire Mansuet, afirmou que um inquérito será instaurado para apurar o crime de transfobia e lesão corporal.

|Da equipe JC

||Foto: Divulgação