18/11/2020 as 08:34

POLÍCIA

Perícia foi crucial para condenação de feminicida

Transexual foi morta por asfixia e acusado foi sentenciado a 13 anos de reclusão

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No dia 15 de abril de 2018, a equipe de plantão do Instituto de Criminalística foi acionada para atender a um chamado de um corpo encontrado em uma residência no Loteamento Mariana, localizado no Conjunto Marcos Freire II, no município de Nossa Senhora do Socorro. Ao chegar ao local, o perito criminal André Feitosa percebeu que a possibilidade de uma morte natural se esvaía à medida que coletava os vestígios no interior da residência.

A vítima era a transexual Millany Spencer, de 23 anos, que havia perdido contato com seus familiares dois dias antes de ser encontrada morta. Em seu laudo, André aponta para uma possível organização dentro da residência, bem como a ausência de objetos quebrados ou danificados. Ele também aponta para a presença de substância hematóide, posteriormente confirmada como sangue humano, em um papel higiênico encontrado no banheiro da casa e também na calcinha da vítima. O imóvel também apresentava a porta de entrada com sinais de que havia sido forçada.

A fim de complementar os trabalhos de campo, o perito criminal efetuou discussões com a perita médica legista, Mônica Santana, sobre a necropsia da vítima realizada no Instituto Médico Legal (IML/SE). Após os resultados dos exames, a conclusão do laudo não deixou dúvidas de que Millany havia sido assassinada covardemente.

Considerando a presença do cogumelo de espuma, lesão cortocontusa no lábio inferior da vítima e outros aspectos evidenciados na necropsia, foi possível afirmar que a transexual sofreu asfixia por obstrução da boca e das narinas, uma sufocação direta provocada de modo intencional pelo agressor. Além disso, devido à organização dentro da casa, não houve luta corporal, o que pode ser resultado de um excesso de confiança entre a vítima e o agressor. E, de fato, existia esse vínculo, uma vez que um mês após o crime a polícia identificou que o autor seria o companheiro de Millany, Marcos Paulo Santos, que foi preso pela Polícia Civil.

No último dia 13 de novembro, após passar pelo crivo do Tribunal do Júri do município de Nossa Senhora de Socorro, o autor foi condenado a uma pena de 13 anos de reclusão em regime fechado pelo crime de feminicídio. Vale ressaltar que, segundo informações colhidas através de testemunhas, Millany Spencer se relacionava com Marcos Paulo há cerca de nove meses e as agressões físicas eram constantes, inclusive a vítima teria sido internada 15 dias antes do crime após uma surra dada por ele. Essas agressões corriqueiras também foram atestadas no laudo de perito de local de crime ao descrever em seu exame perinecroscópico, aquele feito ainda no local ao analisar o corpo, que Millany apresentava lesões antigas e já em fase de cicatrização nas regiões lombar e também na palma da mão esquerda. Marcos Paulo permanece custodiado em um presídio da Grande Aracaju, onde deve cumprir a pena.

|Por Diego Rios

||Foto: Divulgação