15/09/2021 as 09:22

CRIME

Família de travesti assassinada ainda aguarda elucidação do crime

“Jamais desistirei de lutar por ela", diz a mãe da vítima

COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA

O dia 08 de fevereiro de 2021 ficou marcado, para sempre, na vida da dona de casa Magna Santos de Jesus, pois, assim como milhares de brasileiros, ela também sentiu na pele o peso e dor da violência sofrida em seu lar. Mãe da adolescente Natasha Santos, de 16 anos, que foi brutalmente assassinada na capital sergipana e teve o corpo encontrado em um matagal localizado no bairro Coroa do Meio, dona Magna espera, há sete meses, que o crime tenha solução. Mas, segundo ela, até o momento, nenhuma gota de esperança lhe foi dada.

"A última vez que estive no DHPP, passaram para mim que não havia garantia de elucidação do caso. Logo depois, fui informada que as investigações estavam paradas", desabafou em conversa com a nossa equipe de reportagem. Por conta dessa situação, ela informou que decidiu pedir justiça por conta própria, utilizando as redes sociais como mecanismo de desabafos e cobranças. "Criei o grupo Justiça por Natasha, porque pobre em nosso Brasil, infelizmente, não tem valor para muitos de nossa sociedade", acrescenta.

A partir desse trabalho nas plataformas digitais, ela busca encontrar respostas para o crime que tirou a vida de sua filha, bem como chamar atenção sobre a violência sofrida pelas pessoas transexuais e travestis, e punição para o responsável pelo brutal assassinato. "Meu objetivo é chamar atenção das autoridades para que o caso de Natasha não venha ser mais um. Que ela não tenha sido mais uma trans morta brutalmente e que fique no esquecimento", explica.

“Jamais desistirei de lutar por ela. Quero ver esse monstro que matou minha filha na cadeia, pagando pelo que ele fez. Esse marginal tirou um pedaço da minha vida e só Deus sabe como eu venho vivendo sem minha Natasha ao meu lado”, complementa.

Movimento cobra

O caso não tem sido cobrado apenas pelos familiares da adolescente, mas, também, por algumas entidades ligadas à causa LGBTQIA+ em Sergipe. A militante transfeminista, Geovana Soares, que representa a diretoria da Associação e Movimento Sergipano de Transexuais e Travestis (AmoserTrans), por exemplo, disse que vem acompanhando o caso desde o início. “Estive no IML assim que soube do ocorrido e fizemos o primeiro contato com a família. Também fizemos todo o acompanhamento dos trâmites do velório, sepultamento e, desde então, temos cobrado às autoridades a resolução deste caso. Mas, infelizmente, após a divulgação das imagens do suspeito, o caso deu uma estagnada e sempre que entramos em contato com a delegacia, recebemos as mesmas informações sobre as investigações. Ou seja: ainda está na mesma”, pontua.

A falta de celeridade na resolução do crime, para Geovana, traz o receio de que, assim como em diversos outros episódios envolvendo pessoas LGBTQIA+, o caso seja arquivado, e fez menção a outros crimes desta natureza que, de acordo com ela, nunca foram elucidados. “Nossa preocupação é de que o assassinato de Natasha seja apenas mais um assassinato de uma jovem trans negra em Aracaju. A gente lembra, ainda, o assassinato de Bárbara que foi um crime parecido e que, também, não teve resolução. Então a gente, enquanto movimento social, fica muito indignado com essa impunidade e essa sensação de impunidade. Essa certeza de impunidade que agrava os nossos assassinatos, porque as pessoas que cometem esses homicídios elas têm uma certeza de que vão ficar impunes, então, cobrar a justiça por Natasha é, também, cobrar a aplicação das políticas públicas, cobrar da Secretaria de Segurança Pública que nossas vidas sejam preservadas. Cobrar que as autoridades não invisibilize ainda mais a nossa existência e as nossas mortes”, protesta.

A SSP

Procurada para falar sobre o assunto, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP/SE) disse, por meio de nota, que o inquérito policial continua em investigação no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). “No curso do procedimento investigativo, foram solicitadas e realizadas perícias, além de terem sido ouvidas várias pessoas. Informações e denúncias podem ser repassadas pelo Disque-Denúncia (181), de forma anônima”, informou.

|Por John Santana
||Foto: Divilgação