23/05/2022 as 09:10

PROFISSÃO

Cuidador de idosos não tem atividade valorizada

Segundo especialista, há poucas pessoas para prestar esse serviço em SE

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Com o aumento da expectativa de vida dos brasileiros, a profissão de cuidador de idosos tem sido cada vez mais requisitada. No entanto, segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, em parceria com a Veja Saúde, o Brasil ainda tem muito a evoluir na valorização desta função. Conforme o levantamento realizado com 2.534 cuidadores de todo o país, sendo a maioria familiares (2.047) e a menor parte profissionais (487), 40% avaliaram que a atividade é totalmente desvalorizada.

A começar pela constatação de que idosos estão cuidando de idosos, já que 27% da população que cuida de algum parente tem pelo menos 60 anos. Diante das limitações da idade, cuidar de um idoso não é tarefa fácil e requer muita responsabilidade, no entanto, 78% dos familiares não têm curso de cuidador e não são da área da saúde. Sem contar a jornada de trabalho, que é diária para oito em cada fez familiares, e muitos deles não têm com quem revezar.

O médico geriatra Filipe Jonas Federico explica que todo idoso com necessidade de atendimento domiciliar precisa da garantia de um suporte social, seja por cuidadores formais, informais (onde se incluem familiares), ou por profissionais da saúde. Principalmente aqueles que são muito dependentes, se alimentam por sondas ou possuem múltiplos dispositivos externos. “A contratação de um técnico de enfermagem aumenta a segurança nos cuidados do dia-a-dia com certeza, mas a segurança plena do idoso envolve orientações multiprofissionais, incluindo fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. Ou seja, tanto um cuidador informal ou formal quanto o técnico de enfermagem ou qualquer outro profissional de saúde que esteja no cuidado do idoso precisa dialogar horizontal e permanentemente para que os cuidados sejam seguros. No contexto de saúde suplementar isso é realizado pelas empresas de home care, mas sabemos que para uma parcela da população esse serviço é financeiramente impeditivo”, avalia Filipe.

A médica geriatra Juliana Santana ressalta que junto com o envelhecimento da população estão as doenças degenerativas, que exigem cuidados cada vez mais prolongados. No entanto, segundo ela, existem poucas pessoas para prestar esses cuidados em Sergipe. “É muito importante entender que os idosos exigem cuidados especiais cada vez mais intensos. Em algum nível eles vão precisar de cuidados. Então, nós estamos tendo uma necessidade de cuidador de idosos, mas esse profissional precisa ter uma série de habilidades. Além de valores como paciência, atenção, proatividade, honestidade, confiança, ele precisa conhecer a peculiaridade da terceira idade”, disse a médica ao JORNAL DA CIDADE.

Foi a falta de paciência de uma profissional que fez a aracajuana Cândida Tavares querer trocar de cuidadora do marido. Além da idade, o senhor de 70 anos passou a necessitar de cuidados especiais após fraturar a cervical, sofrer um AVC e perder quase todos os movimentos. “É muito importante um cuidador. Eu já tive três cuidadoras nessa minha caminhada com o meu marido nessas condições de saúde. Uma delas, apesar de ter seis anos como cuidadora, não tinha muita paciência com ele, que também tem esquizofrenia. Ele voltou do hospital muito agitado pós- -cirurgia. Então não deu muito certo. Mas, as demais experiências foram maravilhosas. E eu entendo a necessidade dessa profissional”, conta Cândida. A pesquisa do Instituto Lado a Lado com a Vida revela que 91% dos cuidadores de idosos são mulheres. Entre os que são familiares, apenas 5% têm curso profissional, enquanto 78% não tem curso nem é da área da saúde. Já entre os profissionais, apesar de 59% ter o curso de cuidador, apenas 26% são auxiliares ou técnicos de enfermagem, e somente 5% são enfermeiros.

|Por Laís de Melo
|| Foto: Divulgação