31/08/2024 as 11:46

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População negra é maior vítima do consumo de álcool no país

Especialista diz que desigualdade racial histórica é um dos motivos.

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População negra é maior vítima do consumo de álcool no país

Segundo um relatório "Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2024" lançado pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), a população negra é a mais afetada por mortes relacionadas ao consumo de álcool no Brasil. A análise feita pelo Cisa baseia-se em dados de consumo de álcool e mortalidade, utilizando fontes como IBGE, Datasus e o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM).

O psiquiatra e presidente do Cisa, Arthur Guerra, destaca que o impacto do álcool é desigual entre brancos e negros, especialmente entre as mulheres. Em 2022, a taxa de mortes atribuídas ao álcool foi 10,4 por 100 mil habitantes entre negros, comparado a 7,9 entre brancos. Já entre as mulheres negras, a taxa foi ainda maior: 2,2 para mulheres pretas e 3,2 para pardas, enquanto entre mulheres brancas foi 1,4.

A doutora em sociologia e coordenadora do Cisa, Mariana Thibes, explica que essa desigualdade é resultado de fatores como racismo e pobreza, que limitam o acesso de pessoas negras a tratamentos de saúde adequados. Ela alerta que a discriminação racial pode levar a problemas físicos e emocionais, aumentando os riscos associados ao álcool.

Entre as mulheres negras, 72% dos óbitos por transtornos mentais e comportamentais devido ao álcool ocorrem entre pretas e pardas. Mariana Thibes ressalta que a falta de tratamento adequado e o estigma em torno do alcoolismo agravam a situação.

A pandemia também interrompeu a queda nas mortes relacionadas ao álcool, que em 2022 atingiram 33 por 100 mil habitantes, com 16 estados superando a média nacional. O Paraná, Espírito Santo e Piauí lideram com as maiores taxas.

Os efeitos do álcool variam por faixa etária: jovens adultos enfrentam riscos como acidentes e violência, enquanto idosos são mais afetados por doenças crônicas.

A Cisa também alerta que o estigma em torno do alcoolismo, especialmente entre a população negra, dificulta a busca por tratamento. O centro reforça que o alcoolismo é uma doença crônica que pode ser tratada com sucesso. No entanto, estigmas históricos, como a ideia errônea de que negros bebem mais que brancos, impedem que essas pessoas procurem ajuda. A pesquisa Covitel 2023 desmentiu essa ideia, mostrando que negros não consomem mais álcool do que brancos, mas têm menos acesso a tratamentos de qualidade.

O Cisa é uma referência no Brasil desde 2004, trabalhando na conscientização e prevenção do uso nocivo de álcool, através da divulgação de pesquisas e conteúdos educativos.