22/01/2020 as 08:35

Dados

SE já registra três feminicídios em 2020

Em 20 dias, Estado já contabiliza mais de 500 boletins de ocorrência envolvendo violência contra a mulher

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Na manhã da última segunda-feira, 20, familiares da jovem Cidneide dos Santos, de 34 anos, conhecida como “Fia”, estranharam o fato de não abrir a porta de casa logo cedo, como de costume. Foi aí que chamaram e, ao não obter resposta, decidiram arrombar o imóvel. Ao entrar na casa, a cena vista foi trágica: Cidneide estava em cima da cama, totalmente ensanguentada e já sem vida. Ela foi morta com golpes de arma branca. O caso aconteceu no Município de Pirambu.


Na mesma segunda-feira, uma mulher identificada como Maria Valdilene dos Santos, de 50 anos, foi morta a pauladas em sua casa no Município de Feira Nova.


No dia 6 de janeiro, uma mulher identificada como Sabrina Silva Lima Gonçalves, de 36 anos, foi alvejada a tiros dentro da academia no Conjunto Parque dos Faróis, em Nossa Senhora do Socorro.


As três notícias acima endossam um início de ano violento para as mulheres em Sergipe e possuem em comum o fato de que seus algozes estavam mais próximos do que se poderia imaginar, tratam-se de seus próprios companheiros. Isso mesmo. Em 20 dias, o Estado já contabiliza três casos de feminicídio.

Para a delegada do Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV), Renata Aboim, o tempo entre a agressão e a denúncia da vítima pode ser crucial para que a mesma permaneça com vida.

“A denúncia dos casos de violência doméstica se faz cada vez mais importante, porque, não obstante a lei ter endurecido, não obstante o número de procedimentos e de condenações de autores desse tipo de crime, a gente ainda vê, infelizmente, muitas mulheres demoram muito tempo a denunciar e só procuram a polícia quando a situação já se agravou bastante. Isso faz com que a vítima permaneça em constante risco, um risco que se torna cada vez mais crescente”, explica a delegada.

Ela ressalta ainda a importância em procurar o atendimento ao menor sinal de violência, ainda que não se tenha configuração de delito criminal. “A gente sempre orienta as vítimas de violência doméstica que procurem a delegacia o quanto antes. Às vezes, existem situações que ainda não chegaram a configurar crime, mas, ainda assim, é importante que a vítima procure a delegacia, que hoje está aberta 24 horas, para poder ser orientada. Às vezes o caso não chegou na esfera criminal, mas pode ser tratado na esfera cível e evitar chegar ao ponto de acontecer um crime”, ressalta Renata.

Além disso, do dia 1º até o dia 20 de janeiro, o Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV) já registrou 559 boletins de ocorrência por crimes relacionados à Lei Maria da Penha, número bastante elevado e que remonta para uma triste realidade: o algoz está cada vez mais próximo.


Fazendo uma análise das estatísticas no Brasil, entre os casos de violência 42% ocorreram no ambiente doméstico. Um dado avassalador, principalmente quando se tem em mente que é no seio da família que a pessoa se sente mais segura.


Esses números fazem parte de um levantamento do Instituto Datafolha, feito em fevereiro de 2019, encomendado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) para avaliar o impacto da violência contra as mulheres no Brasil.


“Nossa preocupação, apesar de nós sermos Polícia Civil que atua quando o crime já aconteceu, a gente acredita que um trabalho bem feito pode acabar surtindo também um efeito preventivo. O nosso trabalho é repressivo, ele só existe após o delito ter ocorrido, porém, a depender da situação, de quando esse caso for levado para a gente, agimos preventivamente. O DAGV está aberto 24 horas, sempre vai ter um delegado, uma delegada para atender essas vítimas. Então, é muito importante que elas façam uso desse serviço. Ainda que não seja para fazer um procedimento, mas que vão para receber a orientação devida para o caso concreto”, finaliza a delegada Renata Aboim.