24/04/2019 as 11:43

Música

Hamilton de Holanda: “Há uma espontaneidade que o público vai me fazer levar”

Saiba um pouco mais sobre o evento e outras inspirações na entrevista que ele concedeu ao JORNAL DA CIDADE.

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Hamilton de Holanda: “Há uma espontaneidade que o público vai me fazer levar”

Hamilton de Holanda volta à capital sergipana no palco do projeto Quinta Instrumental, promovido pela Prefeitura de Aracaju, através da Funcaju, na semana em que o choro é celebrado na data de nascimento do mestre Pixinguinha. Com a criatividade sonora descomunal que possui e transborda entre dedos e cordas, Hamilton de Holanda garante um repertório diverso pelas obras de grandes nomes da música brasileira e trabalhos autorais. Mas vai além e promete uma troca de energia; músico e ouvintes; artista e público; admirado e admiradores. É no compartilhar de palco com o jovem Grupo Brasileiríssimo que fará festa em praça pública, gratuitamente, nesta quinta, 25, a partir das 19h, numa celebração ao som. Saiba um pouco mais sobre o evento e outras inspirações na entrevista que ele concedeu ao JORNAL DA CIDADE.

w JORNAL DA CIDADE - Qual a expectativa para a sua participação e contribuição no projeto Quinta Instrumental, da Prefeitura de Aracaju, que realizará o show na Praça General Valadão, considerada marco zero da capital?
HAMILTON DE HOLANDA - Estou muito feliz de tocar na Praça General Valadão, que é considerada o marco zero de Aracaju, da capital do Estado de Sergipe. Um evento que eu sei que é muito legal e que já me falaram muito bem. Armandinho tocou aí no Quinta Instrumental, que é promovido pela Prefeitura de Aracaju, e esse é o tipo de projeto que tem que ser replicado em outras cidades. É um tipo de fomento cultural fundamental. Eu acho que a cultura do Brasil é muito rica e a música instrumental tem o seu valor, tem o seu papel dentro desse panorama tão rico que é o brasileiro. Quanto mais projeto tiver, eu acho que mais jovens se interessam e a coisa vai se expandindo culturalmente e economicamente também, porque um evento como esse mexe com a economia da comunidade. Então, é muito bacana e estou “felizão” de participar e levar o meu bandolim para aí de uma maneira bem musical e bem carinhosa.

w JC - O que o público pode esperar desse show de amanhã?
HH - O público pode esperar muita emoção, repertório bonito sobre as músicas do choro. Vai ter música de Pixinguinha, de Jacob do Bandolim e algumas composições próprias também. A gente vai fazer alguns números juntos, vou tocar com o Grupo Brasileiríssimo. Vou fazer uma parte solo, que aí muita coisa acontece na hora com a vibração do público. Existe uma troca de energia e alguma coisa do repertório é feita ali no momento. Há uma espontaneidade que o público vai me fazer levar para um lado que só aí vai ser assim.

w JC - Durante a sua passagem por Aracaju, em 2015, deu para sentir o bom público que a cidade tem, com excelentes músicos e amantes da música instrumental brasileira. Inclusive, neste show do Quinta Instrumental a jovem banda sergipana Brasileiríssimo irá abrir a noite e promete uma apresentação dinâmica, com músicas autorais e também um apanhado de composições importantes do choro, como Waldir Azevedo, Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Severino Araújo, entre outros. Qual o conselho que você daria para esses jovens músicos que estão fazendo carreira, principalmente para esses que têm o choro e o samba como formação musical?
HH - O conselho que eu dou para os jovens músicos que estão começando a fazer carreira e que tem o choro e o samba como música fundamental é o seguinte: é se especializar naquilo que você escolheu, no caso o choro e o samba, e, ao mesmo tempo, ampliar a fronteira do conhecimento e do pensamento, conhecendo outros gêneros, conhecendo outras culturas, em busca de outras épocas, porque isso abre a cabeça de uma maneira muito legal. É ter boas conexões, na questão do trabalho, do dia a dia, porque o trabalho com a música é 20%, 30%, e o resto são as conexões, as burocracias, são negociações, são coisas que são extramusicais que a gente tem que estar sempre ligado. Essa coisa da linguagem da comunicação cada vez está mais rápida, então tem que estar atento a isso. Enfim, eu acho que é estar preparado para o que não é música também. Além, claro, a primeira coisa que eu falei, que é se especializar naquilo que escolhe e sempre abrir os horizontes para outras culturas.

w JC - Conte sobre o nascimento desse seu instrumento, o bandolim de dez cordas?
HH - O bandolim de dez cordas foi uma ideia que eu tive a partir do momento em que aprendi a tocar violão. O violão, na verdade, é uma grande inspiração do bandolim de dez cordas, do ponto de vista da polifonia, de fazer os acordes, de fazer a melodia, o ritmo, tudo ao mesmo tempo. Então surgiu daí. Em 2000 foi a primeira vez que eu pedi a um amigo, que é luthier de Sabará, o Virgílio Lima. Já tem 19 anos. Hoje em dia todos os luthiers do Brasil que fazem bandolim estão fazendo o de dez cordas, então se tornou uma realidade. Fico muito feliz em contribuir e confesso que diariamente penso em alguma coisa que possa melhorar ainda, expandir mais o conhecimento e aumentar o repertório que esse instrumento pode tocar.

w JC - Como admirador das obras de grandes compositores como Pixinguinha, Baden Powell, Hermeto Pascoal, Raphael Rabello e Chico Buarque, você acredita que a miscelânea cultural é o que melhor define a riqueza musical brasileira?
HH - Você tocou em um ponto fundamental: a miscelânea, na verdade, é a mistura lá de trás, da África com Europa, depois veio gente da Ásia, e o Brasil abraça o mundo inteiro. Então a cultura brasileira tem essa qualidade, essa riqueza, essa quantidade de ritmo, de gêneros. Eu acho que isso é o principal da nossa cultura, é a mestiçagem, é a mistura, é a miscelânea, é tudo junto e misturado, como diz por aí (risos).

w JC - Fale um pouco sobre o seu processo de criação musical? O que te inspira?
HH - O que me inspira é a vida. Tudo que acontece na vida me inspira. Um pássaro cantando é uma inspiração maravilhosa, uma criança nascendo também, um acontecimento de uma saudade, de uma tristeza, tudo isso é material. Ouvir uma outra música também pode ser um material de inspiração direto. A música inspira, mas, às vezes, um filme, um livro... você ler uma poesia, tudo isso pode virar música, depende só de deixar o canal aberto, então quanto mais se pratica, mais vem ideia. As ideias vão se multiplicando de maneira que todo dia dá para criar alguma coisa. Tem que deixar a mente aberta para isso, para todos os dias aprender alguma coisa e criar alguma coisa.