23/05/2019 as 10:10

Infância

Contação de história fomenta a leitura e a visita aos sentimentos das crianças

O projeto partiu, na fase inicial, da contadora de história e pedagoga Coracy Shueler, tratada carinhosamente como Cora.

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Não é preciso um espaço específico ou grandes estruturas, basta uma boa história. De repente, os olhos se fixam e o corpo fica quase que imóvel, com toda a atenção voltada para os sons, gestos e personagens tirados dos contos. Em apenas alguns minutos, meninos e meninas são transportados para o mundo da imaginação, onde uma folha de papel ganha vida, uma árvore conversa com uma coruja ou uma nuvem carregada de chuva pode falar com o rio, tudo isso em um só lugar, na escola. É basicamente assim que acontece o projeto “Hoje tem Histórias”, desenvolvido pela Prefeitura de Aracaju, através da Secretaria Municipal da Educação (Semed) em creches e Escolas Municipais de Educação Infantil (Emeis) da capital. 
 
O projeto teve início em 2017, um dos primeiros a dar sopros de criatividade e delicadeza e que ganhou concretude por meio da equipe da Diretoria da Educação Básica da Semed. Mais do que incentivar os alunos a apreciar a leitura, a contação de história tem a capacidade de proporcionar a visita às emoções e vivências das crianças, trabalhando, assim, não somente o fomento à educação formal dos livros, mas o processo de desenvolvimento emocional e afetivo tão importante para a construção humana. 
 
“Quando pensamos em desenvolver o projeto, pensamos em fazer com que as crianças participassem de um projeto interativo em que o livro, a leitura e a imaginação fossem o foco central. Em cada unidade de ensino visitada, apresentamos para os alunos o mundo encantado da leitura, gerando uma atenção da criança para o livro, inclusive, pensando no livro e na leitura como algo encantador e importante na vida delas. Se o momento é bom, prazeroso, a criança passa a estabelecer uma relação de forma mais motivada. A ideia é que seja fomentado  o gosto pela leitura já na primeira infância”, discorreu a coordenadora de Educação Infantil da Semed, Núbia Lira.
 
O projeto partiu, na fase inicial, da contadora de história e pedagoga Coracy Shueler, tratada carinhosamente como Cora. Ela já desenvolvia a contação em outras instituições privadas, mas, tinha o desejo de ir além. Foi quando recebeu o convite da Prefeitura de Aracaju para integrar a equipe e, assim, contar com mais suporte e uma equipe acolhedora focada nas potencialidades tiradas das histórias infantis. 
 
“A contação de história pode e deve ser realizada em todo lugar. Todo mundo conta história, nós contamos a nossa própria história. Quando você chega na escola, há toda uma literatura já preparada e que você pode mergulhar fazendo essa integração com o que já é desenvolvido na unidade de ensino. O projeto, hoje, é pensado de acordo com o que a rede municipal prepara e, sobretudo, olha para as crianças como seres com infinitas capacidades. Quando recebi a proposta, a secretária Maria Cecília me disse duas coisas: ‘a gente quer a alegria das crianças, porque não somos apenas a comida ou o cuidar, mas também um meio de levar alegria; e também queremos a formação de outros professores na contação de histórias’. E assim temos procurado fazer com que o projeto chegue a todas as unidades da rede”, destacou Cora.
 
Quando chegou à Prefeitura, o projeto ganhou, nas palavras de Cora, um caráter circense itinerante, o que deu ainda mais vivacidade ao objetivo do mesmo. “Na diretoria, temos um cronograma, mas, não avisamos às escolas quando iremos, chegamos de surpresa, pegamos a escola do jeito em que ela está no momento, pedimos licença e elas abrem o espaço que é possível. Nossa intenção era que a escola não se prepare para a nossa chegada, que seja algo comum, do dia a dia dos alunos. Esse projeto tem uma simplicidade muito grande, tanto no chegar, como também no lidar com as crianças”, explicou. 
 
Até mesmo os materiais usados para a contação das histórias são simples. Normalmente, Cora chega com o seu violão e alguns personagens feitos de papel que ilustram os contos repassados. A magia do momento fica por conta da suavidade e criatividade dos gestos, no tom da voz e canções que embalam as histórias que têm como personagens figuras conhecidas das crianças. “Quanto mais carente a criança, quanto mais carente a comunidade, é preciso usar mais recursos. É o recurso do teatro, da dança, da música, da contação de história, da leitura, da pintura, da capacidade de fazer e criar com o que você tem nas mãos para poder proporcionar experiência educacionais prazerosas”, destacou a contadora. 
 
Além das experiências educacionais e do fomento à leitura, a contação de história é capaz de trabalhar os sentidos e sentimentos das crianças. De acordo com Cora, as histórias são como sementes que não se sabe exatamente quando irão desabrochar, mas, um dia, vão. “Uma das maiores contadoras de história, dona Otília Chaves, afirmava que nunca se deve dizer a moral da história. A história é algo quase que espiritual, por isso, a moral da história reduz a uma ideia só. Quando você, simplesmente, conta a história, deixa que ela vai se desenvolver, deixa que ela vai ter uma função no imaginário da criança. A semente que é plantada é para que a criança possa fazer um resgate emotivo também. Alguns projetos, por exemplo, trabalham as coisas ruins que acontecem, como uma criança num abrigo que não tem perspectiva de adoção. Mas, e então, o que ela vai fazer da vida? A construção dessa história é que vai ajudar a desenvolver, mesmo que tardiamente, uma identidade, e que essa identidade, mesmo forjada à dura realidade, possa ser vista com gratidão e, sobretudo, que bons pensamentos e atitudes sejam perpetuados”, frisou.