20/08/2019 as 09:55

Cultura

Os ‘Grãos’ de Victor Balde

Fotógrafo sergipano dá início a projeto na Casa Jaya, em São Paulo, de agosto a novembro.

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Os ‘Grãos’ de Victor BaldeFoto: Bia Marcelina

É na semeadura do olhar que o fotógrafo Victor Balde, de sensibilidade aguçada perante vida e lentes, lança a exposição ‘Grãos’, na Casa Jaya, em São Paulo, no próximo dia 24. As nove fotografias, registros feitos em 2014 e 2018, exibem o humano e a natureza em interação harmoniosa e também em inerte silêncio em duas realidades continentais contrapostas: Europa e África. Sem dar nomes aos lugares, ele expressa conscientemente o projeto que nasceu das inquietações particulares, vivências compartilhadas num coletivo e outro, próximo e também distante. De volta em dezembro para a capital sergipana, Victor Balde revela que o próximo ‘germinar’ de ‘Grãos’ tem previsão de ser por aqui.

“Exposição quando começa, quanto mais lugares levar melhor. A exposição acontece até novembro em São Paulo e a ideia é fazer que ela para Aracaju entre dezembro e janeiro. Já fizemos num formato pensando na facilidade de transportar elas. ‘Grãos’ é resultante de uma percepção e cada viagem que fazia, cada momento.  Não era uma questão de sair para fotografar para o projeto, mas era algo em que estava com a câmera e uma chavezinha na cabeça pensando nele, sempre de stand-by e ia captando. Tanto que a primeira tiragem tinha muita coisa da Bahia (BA), Florianópolis (SC) e outros rolês (sic!) pelo Brasil. Mas, quando surgiu a África,  optamos por colocar essas duas realidades, Europa e África, mais opostas, mais contratantes”, explicou Victor Balde.

Segundo ele, foi durante a primeira viagem ao continente europeu, em julho de 2014, que foi semeado ‘Grãos’. “Surgiu quando do rolê (sic!) com a banda Renegades of Punk, de Aracaju, que acompanhei para fazer uma documentário e fotografar que surgiu a ideia, o conceito foi sendo pensado dali. De lá para cá, passou por vários por vários lugares. E no ano passado quando fui para Moçambique pela segunda vez que surgiu a ideia desse contraponto que ele  vem muito numa questão do ser humano  como interação harmonioso dentro de uma natureza predominante. Dá para perceber através das fotos esse distanciamento apesar do humano estar inserido. São sete obras na Europa e duas da África em contraponto justamente para colocar em questão a relação homem e meio ambiente. Nelas não vai ter nada explicito isso é África ou Europa, pois a ideia é que o público perceba isso com as imagens sem colocar valor que cada um representa”, declarou.

Com curadoria do amigo Filipe Berndt, cujo reencontro acontece após um hiato de 12 anos, a exposição ‘Grãos’ tem a representatividade de aprendizado, gratidão ideais convergentes por meio do fazer arte.  “Tem pessoas que a gente quer manter na vida como um ciclo constante, sem nenhum fechamento. A fotografia, acho que vai ser uma coisa constante na nossa vida. P fato de ter nos aproximado tanto em 2007 e depois não ter tido contato e agora volta com tudo, eu morando em São Paulo e essa exposição juntos. Se não tivesse sido aquele incentivo, aquela possibilidade de viver os rolês (sic!) com ele, principalmente o MST, de repente a fotografia teria continuado como um hobby e não como uma profissão. Felipe é um cara que aprendo constantemente, desde o processo de curadoria à escolha do papel, usso ou não de moldura, volto a aprender muito com ele, doze anos depois e com a experiência que ele tem. Ele somou demais nesse projeto”, destacou o fotógrafo.

Possibilidades

Uma imagem, com zero letra, tantas outras possibilidades e vivências de quem a observa, a partir de cada vivência e própria interação com o meio ambiente, o projeto ‘Grãos’ quer despertar algo no público, levando à risca a célere (e clichê!) expressão popular de autoria do filósofo chinês Confúcio de  “Uma imagem vale mais que mil palavras”. “Na minha consciência está bem explícito, mas também tenho consciência de que alguém pode não assimilar. É aquele desafio do quanto a gente vai tornar objetivo, que num mundo mais ‘cult’, tudo subjetivo abstrato é muito mais louco e inteligente. Mas, até que ponto as pessoas vão conseguir captar iss? É difícil encontrar esse ponto de equilíbrio em que você quer passar a mensagem sem ser tão obvio, mas acredito que lá vai funcionar bem, apesar de não ser uma galeria de artes, mas é um lugar que tem uma visitação muito grande, um restaurante vegano e acredito que será uma experiência boa. E deixo cada um bem aberta a criar o próprio significado”, disse Victor Balde.

É na manifesta associação homem/natureza no próprio cotidiano que Victor semeia o otimismo de uma interação harmônica possível e necessária; instiga o outro a cultivar essa a relação e adotar novas perspectivas de troca entre o ser humano e o meio ambiente, num ‘ciclo constante, sem fechamento’. “Não consigo desassociar a parte humana com a natureza, sendo que já sou vegano há 14 anos, acho que é um jeito meu de maneira subjetiva, escondida de trabalhar o veganismo, sem ficar mostrando questão de matadouros, por exemplo. Mas essa relação com a natureza, esse mio ambiente, e falando sobre o veganismo se um caminho desse início de repensar novamente os costumes. Tento ser otimista, mas quanto mais vejo dados dessa questão da devastação fico assustado, mas tenho que deixar o lado do otimismo prevalecer”, falou.

 

Por Gilmara Costa/Equipe JC