29/04/2020 as 10:52
CULTURAProjeto Multimídia do escritor João Victor Fernandes lança três poemas semanalmente
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Numa espécie de previsibilidade do meio ou mesmo numa inconsciente necessidade de ecoar a “poesia transtornada” inquieta e pulsante, o escritor e compositor João Victor Fernandes deu cria ao projeto multimídia “Transtorno Poético” (2014), fazendo do mundo virtual o próprio palco.
De extensão e alcance infinito, ainda assim a virtualidade em tela pareceu limitar a necessidade de João no corpo a corpo da palavra. E então ele conquistou espaço físico de corpo presente e palavra em alma nas apresentações sonoras dos amigos músicos, numa dualidade de mundos em demasiada manifestação da poesia.
Hoje, em tempos de pandemia, o poeta João Victor ressignifica a nascença do Transtorno Poético, sente-se em casa e transborda no lugar de poesia que sempre foi seu. “Vim de anos muito intensos de militância poética, com o Transtorno Poético sendo um projeto multimídia que me possibilitou experienciar a poesia escrita em meio virtual, a poesia falada, o improviso, a poesia em conexão com a música e o teatro através de intervenções. Nos últimos cinco anos foram mais de 200 intervenções em shows variados com inúmeros parceiros, aqui e pelo Brasil.
É bem verdade que eu já vinha de um desacelerar para refletir e assentar as experiências pretéritas, entendendo o percurso e finalmente reservando um tempo para trabalhar o livro com a coletânea de poemas que o público assíduo tanto me cobra, cumprir assim um ciclo com o projeto. O ano passado foi esse desacelerar, terminei o processo de edição em dezembro e de repente cá estamos na pandemia. E então foi necessário, mas naturalmente necessário”, explicou o poeta João Victor Fernandes.
Com a clareza da trajetória que possui, ele fala sobre o retornar com assiduidade ao palco virtual e transparece a gratidão dos ciclos necessários. “Foi muito natural o movimento de focar as energias no meio virtual, através dele portas incríveis já tinham se aberto na minha carreira, pude me conectar e conhecer pessoas e artistas incríveis, viajei para apresentações através desses laços.
Então fiz da internet um palco virtual e tenho focado nesse período na construção de uma nova coletânea de poemas que expressem poeticamente esse momento, o que venho chamando de #poemasdoisolamento, principalmente no formato de vídeopoemas, aproveitando o privilégio de poder trabalhar em casa para produzir, dessa forma, algo que há muito eu queria”, falou.
Assim, semanalmente João Victor tem lançado três vídeos no @transtorno_poetico e também no Facebook, onde a troca sempre JOÃO VICTOR FERNANDES deu cria ao projeto multimídia “Transtorno Poético” em 2014 Márcia Carregosa/Divulgação acontece. “Vou destrinchando o poema entre as publicações, interagindo e refletindo junto com o público, sentindo como chega neles poemas que trazem o agora.
Acredito profundamente que desse momento muitas coisas vão vir para ficar, é real que no desacelerar fichas estão caindo sobre como caminhamos até aqui enquanto humanidade”, afirmou. LIVE E como não poderia faltar, toda quinta-feira tem bate-papo poético, sempre às 20h, na Live Bônus do sarau @ensaiosecretoaju, do qual também faz parte. “Tem sido uma experiência muito legal e orgânica, a cada semana um convidado diferente, já recebi Gilton Lobo, Pablo Valadares e Ewa Vieira e nas semanas que seguem estaremos recebendo poetas de vários lugares do Brasil. Em meia hora o convidado declama poemas, conversamos sobre inspirações e sobre o que estamos vivendo.
Confesso que me surpreendeu, tem sido um momento muito leve em meio à pandemia, um respiro, a arte tem esse potencial de ressignificar as coisas”, disse João Victor. E no lugar de poesia que domina com sabedoria, o escritor de Transtornos Poéticos reconfortantes destaca a presença da poesia na rotina do público que navega na conectividade, compartilhando realidades. “A poesia em qualquer época tem o condão de retratar o período histórico com mais contundência do que os livros de história vão ser capazes de relatar ao tempo deles, o tempo de resposta da poesia é mais ligeiro, reside aí parte da enorme importância da poesia dentro da diversidade que se apresenta. Antes disso ela tem a capacidade de acolher o leitor numa atmosfera de intimidade, de pertencimento, para muitos um afago, possibilitando insights e com certeza ajudando as pessoas a ultrapassarem esses tempos de clara mudança.
A demanda de arte está crescendo e vai crescer, a forma de fazer poesia e fazer arte vai se reinventar, se ressignificar, como regra uma arte mais humana, empática, que reflete o agora, ancorada no impacto social, ambiental, preocupada com diversidade, inclusão, engajada e engajando o público na construção coletiva de um mundo melhor” , ressaltou.
Por Gilmara Costa
Foto: Márcia Carregosa