22/06/2020 as 09:46

ENTREVISTA

‘Quadrilha junina é um projeto cultural, social e econômico’, Genicleudo Melo

Na entrevista, ele lembra que esse ano, as quadrilhas serão vistas saudosamente em vídeos e fotografias

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LONGE DOS PALCOS E ARRAIÁS; SEM A EXIBIÇÃO DE PASSOS, COMPASSOS E O FARFALHAR DOS TRAJES COLORIDOS; AS QUADRILHAS JUNINAS SERGIPANAS SOMENTE SERÃO VISTAS SAUDOSAMENTE EM VÍDEOS E FOTOGRAFIAS, SEM OCUPAÇÃO DOS ESPAÇOS JUNINOS POR DIREITO E DEVER GENUÍNO DE MANTER A TRADIÇÃO.

NA RECUPERAÇÃO DO FÔLEGO, ESPECIALMENTE NESSA REALIDADE ATÍPICA COM A PANDEMIA, A QUADRILHA ASSUM PRETO MANTÉM A ATIVIDADE NO ESPAÇO VIRTUAL COM OS INTEGRANTES E, PARA A SOBREVIVÊNCIA COM VISTAS AO RETORNO NO SÃO JOÃO 2021, LANÇOU A CAMPANHA DE FINANCIAMENTO COLETIVO NA PLATAFORMA KICKANTE, COM UM PEDIDO DE SOCORRO EM LETRAS GARRAFAIS.

FOI SOBRE AS DIFICULDADES CONTINUAMENTE ENFRENTADAS PELAS QUADRILHAS JUNINAS, DESAFIO ATUAL E OS 30 ANOS DA ASSUM PRETO QUE O PRESIDENTE E MARCADOR DO GRUPO ANIVERSARIANTE, GENICLEUDO MELO ALBUQUERQUE, MAIS CONHECIDO POR “DOUTOR DA CULTURA”, CONVERSOU COM O JORNAL DA CIDADE. BOA LEITURA!

JORNAL DA CIDADE - Como é passar os festejos juninos sem o momento mais esperado para quadrilheiros?
GENICLEUDO MELO ALBUQUERQUE - Infelizmente nesse ano de 2020, com a pandemia do coronavírus (Covid-19), o São João não terá nossas saias rodadas e coloridas, nossas palmas fortes, nosso xaxado no pé, nosso grito de guerra, pois nossas quadrilhas juninas não poderão abrilhantar nosso tão amado mês de junho. É muito deprimente.

JC - Ao final das apresentações de São João, vocês já iniciavam o planejamento do ano seguinte, intensificavam os ensaios, enfim... Como ficou tudo isso?
GA - Nesses 30 anos de existência, a quadrilha junina Assum Preto, da qual sou marcador e presidente, está lutando para continuar fazendo parte do cenário da cultura sergipana e para manter viva a nossa tradição. Estamos fazendo o projeto “SOS Quadrilha Junina Assum Preto” para arrecadar fundos e se preparar para 2021, pois só com iniciativas bem antecipadas é que podemos amenizar a extinção das quadrilhas juninas. Quem quiser ajudar basta contribuir com nossa campanha que está sendo divulgada em nossas redes sociais.

JC - Qual a avaliação que faz desse momento para toda a cadeia produtiva do fazer quadrilha?
GA - A quadrilha junina é um projeto cultural, social e econômico. Cultural, pois retratamos a equidade dos nossos antepassados, revivendo os costumes da zona Rural. Social porque ocupamos o tempo livre dos jovens, evitando que muitos ganhem o caminho da marginalidade. Econômico porque somos um produto do turismo cultural que promove o contentamento do turista, esquentamos o comércio para a confecção do traje, empregamos costureiras, cantores, músicos, e dessa maneira contribuímos com trabalhos formais diretos e indiretamente.

JC - Alguma alternativa foi consolidada nesse momento atípico, nos moldes do que outras manifestações culturais têm feito?
GA - Infelizmente não temos um processo motivacional para amenizar o nosso sofrimento, pois na década de 90 existiam 180 quadrilhas juninas. Hoje são somente 35. Saliento que não existe mais a quadrilha junina mirim, que serve para dar continuidade à quadrilha adulta. E com essa pandemia e sem ações emergenciais para as quadrilhas juninas, as mesmas caminham em passos largos e de forma célere para a extinção. Neste momento, quem poderia proporcionar atividades para as quadrilhas juninas seriam as pastas de cultura municipal e estadual. No entanto, as quadrilhas juninas foram esquecidas. Hoje fazemos live para movimentar os componentes de forma online e, principalmente, se agarrando à nossa campanha de plataforma de doação.

JC - No dia 14 de julho a Assum Preto celebra 30 anos de existência. Como é chegar a três décadas de passo, cores e compasso da tradição junina? GA - Os quadrilheiros da Assum Preto são entusiastas da cultura junina sergipana e têm à frente um incansável quadrilheiro, turismólogo, produtor de eventos e advogado que, a partir do trabalho de conclusão de curso, proporcionou uma lei de sustentabilidade para as quadrilhas juninas de Sergipe, apresentada pelo deputado Garibalde Mendonça (lei 8.110/2016), que transformou as quadrilhas juninas de Sergipe em Patrimônio Cultural e Imaterial do povo sergipano, e também a lei 8.107/2016, que coloca o Forró da Orla no calendário cultural sergipano.

JC - Quais as principais conquistas da quadrilha nessa trajetória?
GA - A Assum Preto, em nível estadual, conquistou os concursos da Rua São João, Centro de Criatividade, Agamenon, além de vários torneios intermunicipais. Em nível regional, foi a quadrilha junina sergipana que obteve o melhor resultado. Nacionalmente, fomos a primeira campeã brasileira em 2005, em Brasília (DF); e vice-campeã brasileira em 2006, na cidade de Rio Verde (GO). Também tem a particularidade de ter o melhor marcador do Brasil.

|Por Gilmara Costa
|| Foto: Divulgação