23/05/2022 as 09:31

'FATAL ERROR'

‘Seja online ou offline, o erro sempre estará lá’, Michel de Oliveira

Sem o apontamento do virtual e realmente correto, o escritor Michel de Oliveira apresenta, em “Fatal Error”, o cotidiano nosso, a linguagem sincera do conto vivido ontem, a reserva às paixões

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Sem o apontamento do virtual e realmente correto, o escritor Michel de Oliveira apresenta, em “Fatal Error”, o cotidiano nosso, a linguagem sincera do conto vivido ontem, a reserva às paixões, o desalinho entre o viver real, seja dentro e fora das telas. Na leitura, o convite ao mergulhar em lembranças de uma situação similar permite um encontro de si em cada canto de página, em cada conto espelho. Sim, a escrita de Michel nos coloca entre reflexos, na observância de ângulos diversos, no olhar superficialmente curioso que deságua na profundidade da visão do que somos, para onde vamos e o que está por vir. Foi sobre essa obra que tem extravasado unissonante pelo brasil afora – sim, para além das limitantes divisas sergipanas –, aclamada por críticos literários, compartilhados nas telas por leitores de livros físicos que Michel de Oliveira conversou com o jornal da cidade. É o paradoxo ativo, a presença marcante da palavra como guia para reconhecimento da incoerência que é viver o aqui e agora no enquadramento perfeito e também sem filtros. Boa leitura!

JORNAL DA CIDADE - Qual o “erro fatal” da sociedade nas redes sociais e fora dela?
MICHEL DE OLIVEIRA - O erro incontornável e sem reparo é ser humano. Não sabemos de fato o que somos. Nem de onde viemos, ou para onde vamos. Por isso inventamos religiões, mitos, teorias e a própria ficção. A tecnologia só se torna um problema porque é espelho da nossa incoerência. Seja online ou offline, o erro sempre estará lá, pois é inerente ao humano.

JC - Apresentar essa situação real, virtual e oficial do nosso cotidiano é uma forma de instigar a percepção do automático e velocidade que vivenciamos?
MO - A ficção pode ser um curioso espelho para enxergar nossas ações. Então, escrever sobre essa nossa realidade tecnológica, com o cotidiano permeado por tantas telas, onde a sensação do tempo é vivenciada de forma cada vez mais acelerada, pode ajudar a refletir e instigar inquietações. Estas podem, de alguma forma, nos tirar do automatismo. Ou, pelo menos, nos dar consciência dele, o que já é um grande avanço.

JC - Acredita que a pandemia possibilitou a vida ainda mais real ou virtual?
MO - A pandemia acelerou o processo de virtualização. Experiências que antes resistiam ao virtual, a exemplo da sala de aula e das consultas médicas, precisaram lidar com essa realidade atrás da tela. Mas, ao que parece, vivemos um paradoxo: o fascíMichel/Divulgação nio pela tela, pelos aparatos informáticos e tecnológicos, vem acompanhado do extremo cansaço, o que leva uma parcela significativa da população a buscar situações presenciais, onde há contato direto. A vida agora é híbrida, oscilamos entre o online e o offline, sendo ambos codependentes.

JC - Ter a produção “Black Mirror” como um referencial de elo com a sua obra foi propositalmente pensado?
MO - A série britânica estava no meu horizonte quando comecei a escrever “Fatal Error”, então é uma referência bem fácil de ser identificada. Mas, como destacou o escritor Marco Severo, que assina o texto da orelha, o livro não tem um tom tão sério quanto “Black Mirror”. Apesar de ser uma referência, a obra encontrou um caminho próprio, com uma realidade mais possível e próxima da nossa.

JC - “Fatal Error” apresenta uma crônica do cotidiano “mais suave” que o polêmico “O Sagrado Coração do Homem”. Considera que é mais palatável para o leitor esse seu último livro?
MO - Pelo que tenho ouvido de quem me lê, sim. “Fatal Error” tem mais humor, ainda que tragicômico, fazendo com que a leitura seja mais fácil. Gosto que isso transpareça na obra e seja identificado pelas leitoras e leitores, porque foi algo que busquei enquanto escrevia. Pela primeira vez esse humor mais ácido, que é algo da minha personalidade, ganhou destaque nos contos, o que me deixa bastante contente com o resultado. Afinal, diante dos absurdos que vemos todos os dias, é preciso rir. Rir, nem que seja de nervoso, é o antídoto contra as imposições dos algoritmos.

JC - E por quais “algoritmos” o escritor Michel de Oliveira acessará o público agora?
MO - Já tenho uma nova obra a caminho, meu primeiro romance, que será lançado no segundo semestre. É minha primeira experiência com a narrativa longa, depois de publicar três livros de contos e um de poesia. Apesar de ter elementos comuns com meus outros livros, como a linguagem direta e cenas rápidas, o romance tem um tom mais passional, meio novelesco. Estou curioso para saber qual será a reação de quem já acompanha minha literatura com esse novo lançamento.

|Por Gilmara Costa
|| Foto: Divulgação