24/10/2024 as 15:49

DIA DA SERGIPANIDADE

Pelas vozes de Sergipe: o que significa sergipanidade

Afinal, o que é sergipanidade para aqueles que vivem e respiram essa cultura?

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Igor Matias

Fernanda Spínola
ESTAGIÁRIA DA EQUIPE JC*

O Dia da Sergipanidade, celebrado neste 24 de outubro, vai além de apenas uma data. O dia 24 é um marco da reafirmação da identidade cultural sergipana, onde tradições, costumes, e manifestações culturais ganham destaque. Para muitos, sergipanidade é um estado de espírito, um sentimento enraizado na história e na cultura do estado.

Mais do que uma data comemorativa, a sergipanidade está presente nos saberes e fazeres, nas expressões folclóricas, nas manifestações artísticas e em elementos que compõem a identidade de Sergipe. A cultura popular, representada em eventos como a Festa dos Lambe-Sujo e Caboclinhos em Laranjeiras, o Samba de Coco e o Reisado, reflete a grandeza das tradições locais. O estado também celebra suas raízes culinárias, onde pratos como o caranguejo, moqueca de camarão, beijus e bolos de milho encantam sergipanos e turistas.

Mas, afinal, o que é sergipanidade para aqueles que vivem e respiram essa cultura? A equipe do JC ouviu algumas vozes para entender o que significa esse sentimento.

 

Kaio Victor, professor de português

É complexo pensar na nossa identidade, mas eu vejo a sergipanidade como algo além de um pertencimento a uma região ou geografia específica; é um pertencimento cultural. Quando toca um determinado forró, você pensa em julho, nos shows do mercado e da orla. Quando acontece uma situação e você solta um ‘cabrunco’, ali está a sergipanidade pulsando. Então, sergipanidade é isso: muitas características que nos tornam pertencentes a uma cultura rica e linda.

 

Fábio Mitidieri, Governador de Sergipe

Viver a Sergipanidade é celebrar a força da nossa cultura e história. É enaltecer as riquezas da nossa terra e o talento do nosso povo. Sergipe é mais que um lugar, é a nossa essência!

Celebramos quem constrói, preserva e mantém viva nossa cultura, das ruas ao campo, da educação à arte.É o povo sergipano, com suas mãos e histórias, que carrega nosso estado para o futuro, sem esquecer suas raízes.

 

Edvaldo Nogueira, Prefeito de Aracaju 

É um dia de batermos no peito e reafirmarmos o orgulho que sentimos por viver neste estado que, assim como definiu Gilberto Amado, “é o menor do Brasil para não ofuscar a grandeza do seu povo.

Como gestor da capital das sergipanas e dos sergipanos, sinto muita felicidade pelo trabalho que realizamos ao longo dos últimos anos para tornar a nossa cidade um lugar acolhedor, aconchegante e bem cuidado para nossa gente e para quem nos visita. Hoje, Aracaju carrega novamente o título de capital nordestina da qualidade de vida e isso é um orgulho para todos nós.

 

Rebecca Melo, cantora e quadrilheira

Eu costumo dizer que a Sergipanidade é uma caixinha de muitas coisas preciosas que constituem um estado de ser. Falo de estilo de vida, referências socioculturais e memórias afetivas associadas a um conjunto de sentimentos e saberes que constituem as nossas tradições e que nos trazem a sensação de pertencimento associada às coisas da nossa terra.

Para mim, que bebo na fonte das nossas tradições culturais e dedico meu fazer artístico à sua preservação e fomento, ser sergipana é aconchego, calor e, principalmente, orgulho. E é por ser arrebatada por esse orgulho e essa paixão pela cultura sergipana, que eu canto forró o ano todo, que eu danço quadrilha junina, que eu estudo sanfona.. 

E é também por essa influência tão real que neste sábado, o grupo de que faço parte, o Nanã Trio, realiza um show no Café da Gente com um repertório que reúne exclusivamente canções de compositores da nossa terra. Reverenciar e disseminar a música sergipana é o nosso jeito de celebrar a Sergipanidade

 

Clara Reinol, bibliotecária

O Dia da Sergipanidade nos torna conscientes das nossas características culturais, essas que a partir de demonstrações  históricas e sociais, formam a nossa identidade e identidade essa que é a do povo  sergipano. Ela que nos recorda todos como é a tradição pautada no nosso folclore, a música, a culinária, a religiosidade, a forma de falar, além das manifestações artísticas e populares típicas. O Sergipano que é sergipano conhece suas raízes e celebra, aliás tradição é aquilo que nunca será esquecido.

É uma expressão do orgulho de ser de onde somos e da valorização das raízes e particularidades que nos tornam únicos e vivos que diferenciam o estado, já conhecesse de longe de onde vem. Nosso estado nos torna únicos.

 

Ana Luiza, fonoaudióloga

A sergipanidade se revela plenamente quando incorporamos as tradições da nossa identidade cultural ao nosso dia a dia. Então, viver e aproveitar nossas artes, culinária e belezas naturais é o que alimenta o sentimento de pertencimento e celebração ao nosso estado.

 

Abigail Vieira, estudante de jornalismo

Sergipanidade para mim é a materialização da nossa cultura, aquilo nos forma. São os laços que nos forma e envolve desde o nascimento. O nosso vocabulário único, as nossas vivências, nossa culinária, arte, símbolos e lugares.

 

Marcela Damázio, professora universitária

Pra mim, a sergipanidade é aquele jeito único de ser que abraça a alma de quem nasce ou escolhe Sergipe como seu lar. É sentir o coração bater mais forte ao som do forró nas festas juninas, é quebrar caranguejo como terapia na beira da praia enquanto o sol se põe na nossa Orla. 

É carregar no peito o orgulho de ser do menor estado do Brasil, mas com uma grandeza cultural que transborda em cada manifestação. É aquele sotaque que carrega a doçura do beiju molhado e força do chapéu de couro. Sergipanidade é caminhar pelas ruas de São Cristóvão e Laranjeiras e sentir o peso da história em cada pedra, é se emocionar com a simplicidade acolhedora do povo, que transforma qualquer visitante em família. 

É ter o rio São Francisco correndo nas veias, o cheiro do mangue na memória e aquele orgulho danado de pertencer a uma terra onde o pequeno é gigante em cultura, tradição e calor humano.

 

A sergipanidade não alcança apenas os sergipanos. 

Ela transcende as fronteiras do estado e conquista todos aqueles que têm o privilégio de vivenciar o seu calor humano e suas tradições únicas. Não importa se você nasceu em Sergipe ou escolheu o estado como lar: a sergipanidade tem o poder de criar um senso de pertencimento que atravessa gerações e origens. 

Catharina Garcia, médica

Apesar de ser baiana, viver a sergipanidade pra mim é um verdadeiro presente. Amo a cultura, as tradições, a história do estado, o acolhimento e a forma que eu me encontrei aqui. Se me perguntassem hoje se eu teria vontade de morar em outro local? A resposta, com certeza, seria não. Esse lugar me traz uma leveza com mistura de boas energias. E é assim que eu levo Sergipe por onde passo. Hoje até me considero sergipana, com muito orgulho de cada particularidade que temos e vivemos.

 

Igor Matias, fotografo

Mesmo sendo alagoano de nascimento, minha fotografia nasceu em terras sergipanas e é a partir dela que enxergo e capto todas as cores e texturas da sergipanidade. Foi através da fotografia que eu entendi o que ser e viver a cultura sergipana.

 

Sergio Almeida, gerente de projetos

Sou baiano e vivo em Sergipe há mais de 20 anos e desde que vim para cá vi e vivi uma nova vida. Para mim, Sergipanidade é isso, vivenciar uma cultura repleta de tradições, crenças, línguas. Uma terra de raízes e histórias que eu me orgulho de viver. 

 

O que a história nos diz sobre sergipanidade?

O Dia da Sergipanidade era celebrado em conjunto com o 8 de julho, data da Emancipação Política de Sergipe. Entretanto, no ano 2000, a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa (AL) modificou o artigo 47 da Constituição Estadual, que previa a comemoração da emancipação política em duas datas: 8 de julho e 24 de outubro. Com a Emenda Constitucional, ficou decidido que o 8 de julho seria a data oficial da emancipação política do estado, enquanto o 24 de outubro se tornou o Dia da Sergipanidade, um momento dedicado a celebrar a rica cultura, as tradições e o espírito que fazem de Sergipe uma terra singular, marcada por suas histórias e calor humano.

Na visão do historiador Amâncio Cardoso, a sergipanidade tem suas raízes na demarcação territorial de Sergipe, com a criação das próprias leis, próprio governo, marcando o início de uma identidade política. No entanto, ela vai muito além de uma simples delimitação geográfica. A sergipanidade se manifesta como um sentimento de pertencimento, construído pelas relações culturais, pelas tradições e pelos traços que distinguem os sergipanos, tanto nos bens materiais, como a arquitetura e o artesanato, quanto nos imateriais, como a gastronomia, as expressões linguísticas e as manifestações culturais. 

Ela é um sentimento que se desenvolve conforme as pessoas se relacionam dentro desse território e reconhecem traços que distinguem o sergipano, seja por sua arquitetura, gastronomia e tradições. “É um sentimento de pertencimento que nos identifica como sergipanos. Essa identidade é uma abstração que se concretiza na forma como vivemos e expressamos nossa cultura”, disse o historiador.

Ele ressalta que datas comemorativas, como o Dia da Sergipanidade, são essenciais para a preservação da memória e da cultura. "O que não é lembrado, é esquecido, e o que não é conhecido, não é valorizado". Segundo o Amâncio, a sergipanidade não é um conceito estático; ela está em constante transformação, acompanhando as mudanças culturais e sociais do estado.

O historiador acredita que o sentimento de pertencimento à cultura sergipana não é restrito aos nascidos no estado. Muitas pessoas que vêm de fora acabam se sentindo profundamente conectadas a Sergipe e desenvolvem uma "topofilia" — o amor e bem-estar por um lugar. "Muitos que visitam ou escolhem Sergipe como lar aprendem a amar suas tradições, suas memórias e sua história, como se fossem sergipanos", concluiu.

 

*Texto supervisionado pela jornalista Mayusane Matsunae.