Estudante da Rede Pública de Sergipe vence desafios e é aprovado em Direito na UFS

Maria Odília

O estudante Everton Rodrigues sentava na parte do fundo da sala e começou a sentir dificuldade para enxergar as letras que estavam escritas no quadro. Até que chegou o momento em que não conseguia ler nada do que estava na lousa. Logo em seguida, ocorreu um fato na quadra de esportes do colégio. “Meus colegas começaram a fazer brincadeiras por não conseguir pegar a bola, porque eles não sabiam o que estava acontecendo. Além disso, eu não queria contar para ninguém”, disse. Ele foi aprovado em Direito na Universidade Federal de Sergipe (UFS), em 2021, mas houve um problema na pré-matrícula e não conseguiu entrar. Fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no ano seguinte e passou novamente.
A diretora Jocidélia de Oliveira conta que observava os alunos na quadra e nesse dia, durante o vôlei, alguns colegas de classe comentaram sobre a falta de visão para pegar a bola. “Vi que a bola passava encostada nele e nas pernas, ele não tinha um reflexo ideal. Por meio dos colegas, sabia que Everton não era assim, era considerado um bom jogador. Então fiz com que ele seguisse a minha voz, e percebi que estava se tornando algo sério. Assim me dirigi até ele”, relatou.
O professor Almeida Júnior comenta que a jornada foi desafiadora, mas houve um grande apoio da escola. “Não foi fácil, mas os professores fizeram de tudo para apoiar. Todos colaboraram de alguma forma, até mesmo os colegas de turma”, diz.
Almeida ainda afirma que uma novidade está em desenvolvimento. “Eu mesmo vou escrever um livro infantil sobre a história dele para ajudá-lo”, anuncia.
O estudante Everton revela que após o conhecimento sobre a doença, começou a diminuir a frequência na escola, por conta da presença em consultórios médicos e realização de exames. “Minha ida aos médicos aumentou muito as faltas nas aulas e minha mãe precisou ir à escola levar atestado médico e alguns exames que mostravam como estava bem degenerada a minha visão”, relata.
A comunidade escolar o acolheu de diversas formas, como por exemplo, disponibilizando transporte para a realização de exames, em sorteios beneficentes para a aquisição de medicamentos e na adaptação dentro da sala de aula. “A comunidade escolar me acolheu muito bem. Os professores se dispuseram a explicar mais o assunto, mais do que faziam naturalmente”, comenta.
Ele ainda ressalta a determinação da escola em ajudar. “Pedia um tempo especial em particular com o professor, eles se disponibilizavam para me ajudar e reservava um horário extra para me dar melhores explicações. Fui acolhido a ponto de ser permitido realizar bingo na quadra da escola para comprar medicamento que eu precisava”, explica.
Everton foi aprovado em Direito na Universidade Federal de Sergipe (UFS), em 2021, mas houve um problema na pré-matrícula e não conseguiu entrar. Fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no ano seguinte e passou novamente.
Hoje, na mesma quadra em que descobriu sua deficiência, está a faixa da aprovação de Everton em Direito na UFS. Uma história de superação que pode inspirar outras pessoas na mesma situação. “Sei que é um novo passo na minha jornada. Não terminou tudo por aqui, mas é uma vitória incrível. Porque quando eu penso em tudo que passei, a perda da visão, a depressão, o desânimo, os pensamentos de desistência, os pensamentos de que nessa nova realidade talvez eu não conseguisse ir além. Saber que todo esforço, toda luta, toda vitória contra todas as adversidades valeu a pena. Então eu só me sinto realizado por essa conquista”, comemora.
Essa é uma história real de que a Rede Pública Estadual e a comunidade escolar contribuíram para que essa jornada fosse continuada, apesar das adversidades.