02/06/2025 as 09:25
ENTREVISTAEm seu livro Empregos Humanos em Tempos de Robôs, lançado em 2025, propõe uma reflexão provocadora sobre o futuro do trabalho
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Apaixonado por tecnologia, comunicação e inovação, Roger Simões encontrou, na interseção entre esses mundos, o caminho para uma carreira sólida e cheia de propósito. Com mais de 20 anos de experiência em tecnologia, marketing e criatividade, ele é uma das vozes que vêm se destacando no debate sobre o impacto da inteligência artificial no mercado de trabalho. Em seu livro Empregos Humanos em Tempos de Robôs, lançado em 2025, propõe uma reflexão provocadora sobre o futuro do trabalho, o papel da inteligência artificial e o que nos torna, afinal, insubstituíveis. Confira abaixo a entrevista.
JC SOCIAL – Roger, o livro Empregos Humanos em Tempos de Robôs foi lançado recentemente e nele temos boas reflexões sobre o futuro do trabalho. O que o motivou a escrever essa obra?
ROGER SIMÕES – Minha trajetória sempre esteve ligada à tecnologia, à criatividade e à inovação. Ao longo dos últimos anos, ficou muito evidente para mim que estávamos vivendo uma ruptura histórica causada pela inteligência artificial e pela automação. Escrevi o livro justamente para ajudar as pessoas a compreenderem que essa transformação não é algo distante ou abstrato; ela está acontecendo agora, afetando nossas rotinas e exigindo uma adaptação imediata. A ideia surgiu da minha experiência direta com tecnologia, mas também da preocupação real com profissionais que precisam entender, urgentemente, como navegar nesse novo contexto, valorizando aquilo que a máquina jamais substituirá: nossa criatividade, capacidade crítica e essência humana.
JC SOCIAL – Ao longo da obra, você mostra que áreas antes consideradas “intocáveis” estão sendo impactadas pela IA. Quais os principais desafios que você enxerga para profissionais da economia criativa e do mercado de serviços?
ROGER SIMÕES – O maior desafio é a reinvenção constante. Profissionais dessas áreas, muitas vezes, se acomodaram em processos que eram considerados seguros e imunes à automação. Agora, porém, precisam aceitar que a inteligência artificial já consegue executar tarefas criativas e consultivas com rapidez e eficiência surpreendentes. Nesse cenário, é preciso abandonar a mentalidade tradicional de resistência à tecnologia e abraçar um modelo colaborativo, no qual humanos e máquinas trabalhem em sinergia. Outro grande desafio é a necessidade de aprimorar continuamente habilidades como inteligência emocional, empatia, pensamento estratégico e criatividade genuína — competências que continuam insubstituíveis.
JC SOCIAL – Seu dia a dia envolve tecnologia de ponta, mas você também fala da valorização do trabalho manual e da experiência humana. Como essa dualidade aparece na sua rotina pessoal?
ROGER SIMÕES – Na minha rotina, essa dualidade é muito clara. Trabalho diariamente com uma equipe que está na vanguarda da inteligência artificial, automações e ferramentas digitais, sempre buscando otimizar processos, impulsionar resultados e ampliar a produtividade. No entanto, tenho plena consciência de que o verdadeiro valor de qualquer negócio continua sendo a experiência humana, que envolve entender profundamente as necessidades do cliente, estabelecer conexões autênticas por meio de estratégias eficazes de branding e criar significado genuíno em cada interação. A inteligência artificial acelera processos e torna as tarefas mais eficientes, mas jamais poderá substituir a sensibilidade, a criatividade e a capacidade de percepção humana necessárias para construir relações sólidas e duradouras com o público. Encontrar esse ponto de equilíbrio entre eficiência tecnológica e estratégia centrada nas pessoas é, em última instância, o fator decisivo para garantir sustentabilidade e sucesso em um ambiente profissional tão dinâmico e em constante transformação.
JC SOCIAL – Como você avalia o papel de políticas públicas e instituições de ensino nesse cenário de transformação acelerada pelo uso da inteligência artificial?
ROGER SIMÕES – Acredito que as políticas públicas e as instituições de ensino têm um papel decisivo nesse contexto. Um dos principais pontos que defendo é justamente a ampliação do acesso dos jovens às ferramentas digitais e à inteligência artificial desde cedo, em vez de limitar esse contato. Quanto mais cedo forem apresentados a essas tecnologias, mais rapidamente irão dominá-las, aprendendo a utilizá-las com eficiência, ética e senso crítico. Essa familiaridade precoce é essencial para que entendam como funcionam os algoritmos e os impactos dessas tecnologias na vida prática. Isso permitirá que se tornem profissionais mais estratégicos, criativos e adaptáveis às mudanças do mercado de trabalho. Além disso, as políticas públicas devem focar na democratização e universalização do acesso, garantindo que jovens de diferentes contextos sociais possam igualmente se beneficiar das oportunidades trazidas pela inteligência artificial. Ao mesmo tempo, as instituições de ensino precisam modernizar seus currículos, oferecendo treinamentos práticos que permitam aos estudantes desenvolver competências para atuar com segurança e responsabilidade nesse novo cenário digital.
JC SOCIAL – Que conselho você daria para quem está começando agora, tentando entender como encontrar seu espaço em um mercado que muda tão rápido?
ROGER SIMÕES – Meu principal conselho é cultivar, desde cedo, uma mentalidade de aprendizado constante, proatividade estratégica e capacidade de adaptação. É fundamental entender que o conceito tradicional de estabilidade não existe mais. Um diploma, por si só, já não garante nada — é apenas um ponto inicial da sua trajetória. É essencial desenvolver curiosidade genuína, experimentar ideias na prática, ajustar-se rapidamente às mudanças e tomar decisões corajosas e calculadas. As pessoas precisam abandonar a postura passiva de esperar que empresas ou instituições lhes indiquem caminhos, até porque muitas delas também não têm clareza sobre o futuro do mercado. É indispensável assumir o protagonismo ativo da própria carreira, trabalhando continuamente para expandir suas competências, adquirir novos conhecimentos e manter uma perspectiva aberta e crítica para enxergar claramente as oportunidades e desafios do futuro profissional que já está diante de nós.