03/06/2020 as 12:36
MANIFESTAÇÕESFala militar do presidente gera críticas de opositores e religiosos; representantes de UE e ONU apoiam protestos
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Donald Trump deu um ultimato, mas não arrefeceu os protestos contra a violência policial e o racismo nos EUA. O presidente americano ameaçou na última segunda-feira, 1, mandar às ruas milhares de soldados do Exército caso prefeitos e governadores não consigam conter as manifestações que atingem pelo menos 140 cidades do país.
Apesar do tom agressivo, os atos continuaram durante e depois do discurso de Trump, resultando em mais uma madrugada tensa, com pelo menos cinco policiais baleados e centenas de pessoas presas em vários estados. Nesta terça-feira (2), as manifestações que pedem justiça pela morte de George Floyd completam uma semana em Minneapolis e, de lá, espalharam-se pelos EUA e, agora, também ganham tração fora do país.
A ação, gravada por testemunhas, viralizou nas redes sociais e mobilizou o país, gerando protestos pacíficos e conflitos entre ativistas e policiais. Na noite de segunda, diante da Casa Branca, o presidente tentou refletir sua retórica. Colocou tanques blindados, soldados e a cavalaria para avançar sobre manifestantes pacíficos. Para tentar sinalizar força e controle, queria atravessar a praça onde aconteciam os atos e posar para uma foto em frente à histórica igreja de St. John, que tinha sido parcialmente vandalizada no domingo.
A ação do presidente foi criticada por diversos líderes religiosos da cidade, inclusive por integrantes da própria St. John que, antes da dispersão forçada, distribuíam água e alimentos aos ativistas."O presidente posou com a Bíblia e usou uma de nossas igrejas, sem a nossa permissão, como apoio para dar uma mensagem que vai contra os ensinamentos de Jesus e contra tudo o que nossa igreja defende. Estou indignada", disse a bispa Mariann Budde.
Outra crítica pesada veio do chefe da polícia de Houston, Art Acevedo. Em uma entrevista à CNN, ele se dirigiu a Trump, falando em nome dos chefes de polícia de todo o país: “Se você não tem algo construtivo a dizer, cale a sua boca. Porque você está colocando homens e mulheres nos seus 20 e poucos anos em risco. Não se trata de dominar, e sim de conquistar corações e mentes".
Nesta terça, as grades que protegiam a sede do governo americano eram maiores que as de segunda, e o efetivo policial também estava muito mais reforçado do que o dos últimos dias em toda a cidade. As medidas, porém, não alteraram a dinâmica dos protestos, que começaram na terça ainda mais numerosos que os atos de segunda-feira e se tornaram os maiores na cidade desde sexta, primeiro dia de manifestações na capital.
Grupos de milhares de pessoas se dirigiam à Casa Branca perto das 18h, uma hora antes do início do toque de recolher estipulado na cidade. Quase uma horas depois do toque em vigor, perto das 20h, a multidão permanecia em frente à Casa Branca, em um ato pacífico e sem confronto com a polícia até então.
Um homem que subiu em um dos postes para arrancar a placa com nome de rua foi vaiado pelos ativistas, que pediam que ele não vandalizasse o local. No fim da ação, houve um início de briga, mas a situação foi logo controlada pelos demais, que pediam “paz pelo protestos”.
Na noite anterior, manifestantes seguiram nas ruas na madrugada e houve pichações e depredações de lojas e restaurantes, além de dezenas de prisões na capital. Um morador na região de Logan Circle, a cerca de 3 quilômetros da residência oficial de Trump, chegou a abrigar 70 ativistas dentro de sua casa para esperar a passagem da polícia, que reprimia os atos.
Nesta terça, Trump foi ao Twitter durante as manifestações para dizer que “Washington era o lugar mais seguro da Terra na noite” de segunda. A madrugada de terça também teve confrontos em outras cidades.
|Fonte: Folha de São Paulo
||Foto: Olivier Douliery