09/07/2019 as 08:42

Água contaminada

Povoado de Propriá em alerta para possível contaminação da água pública

Moradores temem fechamento de poços artesianos e garantem que a Deso quer monopolizar a água.

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Povoado de Propriá em alerta para possível contaminação da água públicaFoto: Divulgação

Há alguns meses, a pequena comunidade do povoado São Miguel, em Propriá, distante 97 quilômetros de Aracaju, está atordoada com a notícia de uma possível contaminação da água dos poços artesianos instalados há mais de 40 anos na região. Porém, a preocupação dos moradores é com o desabastecimento da água pública, uma vez que está sendo cogitado pelo Ministério Público. Segundo eles, há décadas que a população consome essa água de poço e ninguém nunca sequer ficou doente. Por muitos anos ela é utilizada para o consumo humano, de animais, irrigação, serviços domésticos, entre outros serviços.

De acordo com o vereador de Propriá, Júnior de São Miguel, muitos anos depois a água da Deso chegou ao povoado, mas apenas algumas pessoas da comunidade consomem. “A nossa preocupação é porque sabemos o sofrimento desse povo. O povoado tem cerca de três mil habitantes. A plantação do arroz é a única fonte de renda, que só é gerada em quatro meses do ano. Aqui as pessoas não têm renda, não trabalham, se você pensar na taxa da Deso, para quem não trabalha, fica difícil de pagar. O que querem fazer é deixar só a água da Deso. Tudo indica que foi a Deso que provocou o Ministério Público, que solicitou à prefeitura que fizesse um estudo da água dos dois poços artesianos”, comenta o parlamentar.

Júnior de São Miguel garante que todo mundo da comunidade é contra o fechamento dos poços artesianos. “Passamos quase um ano e meio na luta pelo conserto das bombas, e agora que está funcionando, querem tirar. A prefeitura é a responsável pela manutenção das bombas e a Cohidro que fez a instalação. Não podem fechar agora. Nunca teve nenhum relato de pessoa que ficou doente por causa dessa água”, diz.

Segundo o vereador, um estudo na água foi feito pelo Instituto Tecnológico e de Pesquisas do Estado de Sergipe (ITPS) e na audiência realizada, no dia 11 de junho, no Fórum João Fenandes de Britto, foi solicitada a suspensão imediata das duas bombas. “No primeiro resultado constatou um tipo de contaminação na água. Nós sugerimos mais 30 dias para solicitar uma nova análise e daí por diante ver as medidas que podem ser tomadas. A audiência pública aconteceu juntamente com os órgãos da prefeitura (secretaria de Saúde e do Meio Ambiente), a Deso, os vereadores e a comunidade. Dia 16 de julho haverá uma nova audiência”, avisa Júnior.

Enquanto aguardam a decisão do promotor de justiça da Comarca de Propriá, Dr. Nilzir Soares Vieira Júnior, os moradores seguem angustiados, alegando que a Deso quer monopolizar a água de olho no lucro, sem avaliar as condições financeiras de grande parte dos usuários da comunidade que sempre dependeu de poços públicos. “A minha vida toda usando a água do poço artesiano e nunca tive problema de saúde. Nas administrações passadas, sempre era feita análise e nunca houve história de contaminação. A retirada da água fará falta 100% para mim. A maioria das pessoas daqui não tem condições de pagar a Deso. Só para instalar a água da Deso é cobrada uma taxa de quase R$ 500. E quem já teve água da Deso e foi cortada, o valor é maior ainda para regularizar”, desabafa o morador há 58 anos do povoado São Miguel, José Orlando dos Santos.

A aposentada Maria Helena dos Santo acredita que se fechar os poços artesianos, o povo vai embora e o povoado acaba. “Muita gente daqui vai sofrer. Eu ainda tenho minha aposentadoria, e quem não tem, como vai fazer para pagar? Vai tomar água no canal? As pessoas não têm dinheiro. A Deso quer arrebentar com tudo aqui. É interesse deles, querem pegar mais dinheiro. E os pobres que estão aqui, vão roubar para pagar essa água. Vão ficar pedindo a um e a outro para ter um pouco de água”, lamenta.

Para o criador de galinhas da região, Luís dos Santos, conhecido como ‘Luizão’, acabar de vez com a água pública do povoado será um pânico para a comunidade. “Eu tenho uma criação de galinhas no meu quintal, bem adaptada e bem cuidada, e se a gente não tiver essa extensão da água, o que vou fazer? a  minha criação tende a acabar. Inclusive, eu uso essa água para tudo, bebo dela há mais de dez anos e nunca tive nem uma gripe. Fazer tudo com água do Deso fica difícil porque é muito cara, quase não gasta, e o talão vem muito alto”.

A Companhia de Saneamento de Sergipe - Deso - foi procurada pelo JORNAL DA CIDADE para possíveis informações sobre a situação. O diretor Carlos Anderson informou que não foi a Deso que acionou o Ministério Público. “Não existe nenhum impasse. Não temos nenhuma ação na localidade. Acho interessante procurar o MP. A resposta dele é fundamental nessa celeuma”, explica.

O JORNAL DA CIDADE também entrou em contato com o promotor de justiça da Comarca de Propriá, Dr. Nilzir Soares Vieira Júnior, porém até o fechamento desta edição não foram dadas as respostas. Perguntas como que tipo de contaminação foi detectada na água? qual o parecer do Ministério Público? e se essa mesma situação de água contaminada em poços públicos tem similar em outros povoados do município?. Questionamentos esses que agora aguardam serem respondidos no dia 16 de julho, data da próxima audiência que definirá o futuro da comunidade do povoado São Miguel.