26/08/2019 as 10:43

MANANCIAL COMPROMETIDO

Lixão às margens de nascente em Porto da Folha pode estar contaminando Rio São Francisco

Lixeiras se espalham pelo município e população cobra providências.

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Estritamente agrícola e pesqueira, Porto da Folha traz em sua herança os costumes ligados ao campo e ao rio São Francisco, mesmo estando em terras áridas do sertão brasileiro. O município possui uma importância estratégica para diversas cidades ribeirinhas do ‘Velho Chico’ em todo o país. O manancial que abastece Porto da Folha faz parte da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, que é considerado o rio da integração nacional. Suas águas são utilizadas na exploração do solo, agropecuária, industriais e agroindustriais, turismo ambiental, geração de energia elétrica, navegação e abastecimento de água.

É impressionante como a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que está prestes a completar nove anos, vem avançando e ainda assim é possível encontrar municípios, como o de Porto da Folha, que ainda vive um grande entrave na gestão do lixo urbano, sobretudo com a utilização maciça dos vazadouros à céu aberto. Recentemente, uma denúncia foi protocolada no Ministério Público (MP) sobre a existência de um lixão se formando às margens do Rio São Francisco, no povoado Ilha do Ouro, e a prefeitura fecha os olhos para a situação. Durante audiência realizada no MP de Porto da Folha, no último dia 15, foi constatada que o lixo estava sendo jogado por pescadores que frequentam o local e pela própria comunidade, ficando acordado que o prefeito da cidade mandaria uma equipe para limpar a localidade, num prazo máximo de cinco dias. 

A situação de danos causados por lixos no município de Porto da Folha vai ainda mais além, comprometendo a qualidade do manancial que abastece o município. Em outra localidade, desta vez no povoado Lagoa da Volta, é possível flagrar mais um dano ambiental gravíssimo. A equipe do JORNAL DA CIDADE esteve in loco para verificar e constatou um grande lixão às margens de uma nascente, que, em dias de chuva, os dejetos são arrastados, desaguando bem perto de uma captação de água utilizada por moradores da região. “Esse riacho deságua no Rio São Francisco e esse lixão aqui, quando chove, é jogado todo para dentro do riacho, de onde é captada a água para as comunidades ribeirinhas, como o povoado São José, dentre outros”, atesta o vereador de Porto da Folha, Lindomar XoKó.

Segundo Lindomar, todos os moradores de Porto da Folha estão sendo contaminados, pois a captação é feita através de bombas da Deso e carros pipas que distribuem para quase todos os povoados. “Esse lixão já tem mais de uma década que está aqui e só vem aumentando de tamanho. Agora, além de cair no riacho, começa a invadir a estrada também. Não sei de quem foi a ideia de botar um lixão em um lugar desses, se a gente tem as leis que toda cidade tem que dar o rumo adequado para o seu lixo. Já foram feitos vários requerimentos na Câmara, inclusive, por vereadores anteriores. Agora está pior com essas últimas chuvas, e além dos requerimentos que estamos fazendo, pedindo para o prefeito tomar as devidas providências, estamos denunciando para a população, para os jornais, para a justiça, para que possam ser tomadas as medidas corretas”, diz.

O morador Expedito da Silva, de 65 anos, comenta que já está desesperadora a situação desse lixão no povoado Lagoa da Volta. “Tudo de ruim vem pra cá, morre animal aí trazem, móvel velho, pneus e tudo mais que você imaginar. Ai quando cai a chuva, o lodo sai escorregando e derrama todo dentro do riacho, que depois leva para o Rio São Francisco. Quando o riacho enche, a água fica logo barrenta, e todo mundo por aqui bebe dessa água. O pior é que eles queimam o lixo e a fumaça incomoda e muito a gente. Toda semana eles trazem mais lixo e aí vão queimando o mais velho. O caminhão da prefeitura recolhe o lixo da cidade e vem despejar aqui, quando é época de festa é que a situação fica crítica, a gente consegue ver a pilha de lixo mesmo se tiver distante daqui”, relata.

De acordo com o vereador Lindomar, a Prefeitura de Porto da Folha alega que é muito caro pra fazer um lixão novo, mas garante que existem recursos para isso. “Se eles não se organizam é outra questão. Eles podiam ter buscado parcerias com municípios próximos, como Glória, Gararu, Monte Alegre, mas não fizeram nada e isso é um desrespeito com a sociedade. Por aqui sempre aparecem doenças como verme, lombriga, principalmente nas crianças, fruto de que se você não faz um trabalho de prevenção, sempre vai ter gente doente. O prefeito tem que tomar uma atitude urgente, seja procurando o governo, ou qualquer outra parceria”.

Mas, quem deveria estar resolvendo a problemática, vem dando é um péssimo exemplo. Após a visita do JORNAL DA CIDADE  no município, moradores denunciaram mais um recente descaso com a saúde pública e o meio ambiente. “A equipe da prefeitura daqui de Porto da Folha, ora responsável pelo serviço de poda de árvores, pegou todo os galhos e jogou de maneira irresponsável no final da segunda rua do conjunto Caraíbas, que fica na saída da cidade, destino de quem segue para Gararu”, reclamou uma pessoa que não quis se identificar.

Segundo ele, a partir daí, nessa rodovia que segue até a Emdagro foi criada uma lixeira, que está provocando infestação de mosquitos. “Isso pode resultar numa proliferação de doenças para a comunidade. A prefeitura dando mal exemplo, como poderá cobrar mais tarde alguma coisa da população? A comunidade do conjunto Caraíbas merece todo o respeito daqueles que hoje comandam a prefeitura de Porto da Folha, pois além do poder ser transitório, ele também é passageiro”, destacou.