16/09/2019 as 08:58

Paralisação

Funcionários denunciam caos no Hospital Regional Amparo de Maria

Sem salários há mais de 100 dias, servidores em greve relatam dificuldades e clamam por atenção.

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Com mais de 150 anos de existência, o Hospital Regional Amparo de Maria (HRAM), situado no município de Estância, acumula uma histórica sucessão de erros de gestão. Mas, atualmente, os problemas da unidade filantrópica de saúde, uma das mais antigas de Sergipe, vão muito além da falta de recursos para manter o custeio da unidade. Sob intervenção desde 2004, as ingerências que acontecem dentro da instituição vêm sendo denunciadas pelos próprios funcionários, que estão em greve oficial desde o dia 2 de setembro.


As denúncias vão desde a falta de profissionais, de medicamentos imprescindíveis para o tratamento dos pacientes internados, até a ausência de insumos básicos para a alimentação. “O HRAM está totalmente abandonado. Só estão tendo dois plantões, mas mesmo assim não está sendo completo, porque estão faltando anestesistas. Não têm remédios e nem alimentos. Está sendo enviado do Jessé Fontes para o Amparo de Maria. A situação está precária. O hospital está parecendo que está sem funcionamento total”, revela a servidora Santina Maria de Lima Leite.


Funcionários denunciam ainda que, mesmo sob crise, a gerência do HRAM continua contratando profissionais que sequer comparecem aos seus postos de trabalho. “Eles contrataram uma coordenadora de enfermagem que mora em Aracaju, mas ela já tem mais de 15 dias que não aparece no Amparo de Maria. Lá têm enfermeiras que poderiam muito bem ser coordenadora da equipe e não precisaria ter contratado uma nova enfermeira. É um gasto desnecessário num momento em que não dá pra ficar contratando ninguém com essa crise. Essa coordenadora ganha na faixa de R$ 6 mil para nem na instituição aparecer e nós servidores com salários atrasados? É um absurdo”, indaga a servidora.


Segundo Santina, no HRAM existem desvio de funções, contratações indevidas e, em alguns casos, o profissional não tem nem capacitação para o cargo exercido. “Mesmo sem serviço, sem nada para fazer na instituição, faltando tudo, contrataram também uma outra enfermeira como folguista, sendo que tem enfermeira no Amparo que nem exerce a função de enfermeira. Então, não tinha necessidade de contratar uma outra. Está uma verdadeira bagunça. Nem os interventores aparecem no hospital e, quando vem, entram pelas portas dos fundos para não darem de cara com os funcionários”, lamenta.


“Além disso, a porta do elevador, que custou quase R$ 50 mil, já tem mais de 15 dias que está sem funcionar. Quando tem um parto cesáreo no hospital, as parturientes têm que subir e descer vários degraus das escadas. O que a gente quer é uma solução para que se resolva isso e dispense logo a gente para que possamos procurar uma outra coisa pra fazer. Nós estamos indo, cumprindo com o nosso serviço e nada se resolve. Até vale transportes não estamos recebendo, então como trabalhar? Chega o final de mês e não podemos honrar com os nossos compromissos. Têm pais de famílias passando necessidades, com casas de aluguéis para serem despejados. Já são mais de três meses sem receber”, acrescenta.


Quando você pensa que a lista de problemas relatados pelos funcionários do Amparo de Maria acabou, vem a pior notícia. Os profissionais alertam que o funcionário que trabalha na farmácia do hospital não é farmacêutico e não tem capacitação. “Onde já se viu colocar funcionários que não entendem nada de farmácia, sem curso nenhum de farmacêutico, para trabalhar dentro de uma farmácia de um hospital? Já pensou se passam um remédio errado? Isso é uma coisa muito séria e vem acontecendo há muito tempo no HRAM. Já disse que ali tem muita coisa errada. Muito desvio de funções para pessoas descapacitadas”, denuncia Santina.

Greve
O Hospital Regional Amparo de Maria é referência na região Sul e Centro Sul do Estado, e trabalha na retaguarda para desafogar o Hospital de Urgências de Sergipe (HUSE), a Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, e o próprio Hospital Regional Jessé de Andrade Fontes da cidade de Estância. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores na Área da Saúde do Estado de Sergipe (Sintasa), 280 funcionários, entre médicos, enfermeiros, técnicos e administrativo estão com os salários atrasados há mais de 100 dias e sem receber o 13º salário referente a 2018. O JORNAL DA CIDADE já noticiou, na matéria da primeira edição de setembro, a greve dos servidores do HRAM, pontuando todos os fatores que levaram à paralisação geral.


Para rebater as denúncias apresentadas pelos funcionários do Amparo de Maria, Joaldo Santos, interventor do hospital representante da Justiça, foi bem categórico e explicativo. “O nosso canal de diálogo é aberto com o Sintasa. A nossa relação é respeitosa, de ouvir e dialogar. Tanto é que na última semana tivemos uma reunião com o secretário de Saúde, o Ministério da Saúde, a OAB, o presidente do Sindicato dos Enfermeiros e o próprio Sintasa. Não temos nenhum motivo para nos esconder. Estamos passando por esse período juntos. O HARAM não tem nem porta dos fundos. Temos uma porta lateral que sempre utilizamos também. Não estamos em guerra com os trabalhadores. Estamos tentando construir juntos uma saída para essa problemática. O debate que estamos fazendo é de maturidade e fraterno”, garantiu.

Sobre a contratação na nova coordenadora de enfermagem para o Amparo de Maria, Joaldo explicou que foi para montar a nova equipe de direção técnica. “Criamos um departamento técnico. A enfermeira Michele veio junto com uma discussão de renovação do ambiente produtivo do hospital. A secretaria de Estado cobra que não estamos produzindo. Então, investimentos numa enfermeira com profissionalismo para trazer melhorias. Veio para desenvolver um trabalho, para melhorar a nossa capacidade de produzir, com eficiência e segurança para o paciente”.

“Nesse período de greve que estamos passando, solicitamos que a enfermeira coordenadora ficasse focada em preparar os protocolos de todos os órgão de fiscalização, para que a gente pudesse se adequar ao COREN, Vigilância Sanitária. Várias coisas internas precisam de uma atualização. Ela está fazendo um trabalho. Contratamos alguém com capacidade técnica para dar respostas em tempo que são acordados. Não há ninguém sendo pago que não esteja produzindo para o Amparo de Maria. Com relação a enfermeira folguista, era necessária a contratação. São decisões que temos que tomar, porque não podemos deixar descoberto. É lógico que num momento de uma paralisação todos os atos sejam questionados”, completou Joaldo.

O interventor também confirma que o elevador da unidade passou por uma manutenção, porém não porque havia quebrado e, sim, por rotina. “Pode ser que um dia ou outro ele pode ter ficado sem funcionar. Pode ter acontecido de alguma parturiente ter subido ou descido a escada, mas pra mim não chegou nenhuma informação desse tipo. O elevador está funcionando normalmente. Temos uma empresa que faz a manutenção de tempo, troca de algumas peças que foram desgastadas”, justifica.


A respeito do funcionamento da farmácia do hospital, Joaldo assegura que a farmacêutica é profissional da área e bastante requisitada. “A nossa farmácia é tão bem organizada, tão bem criteriosa, que a farmacêutica já foi chamada para outras empresas para ajudar no serviço interno de padronização. A nossa farmacêutica é registrada no órgão competente”.


Para finalizar, o interventor revela que no dia 28 de agosto apresentou um plano técnico para o Governo do Estado, numa tentativa de viabilizar o fim da greve. “O documento já está na Secretaria de Saúde e nós já estamos em processo de discussões com a equipe técnica da SES. Apresentamos uma proposta como novos valores, proposta de pontos, para que o nosso hospital possa a voltar a produzir, e assim possa sair dessa crise. É preciso a união de vários segmentos e vamos conseguir”, diz, Joaldo, bastante confiante.