Mercado de Porto da Folha oferece riscos a feirantes e compradores

Esgoto que corre a céu aberto, bancas em ruínas, madeiras apodrecidas, cepos expostos aos ratos e baratas, lixos espalhados ao longo dos corredores. O mercado municipal de Porto da Folha é a imagem do abandono e do desrespeito às famílias que dali tiram a sua única fonte de sobrevivência.

Uma breve visita ao mercado municipal de Porto da Folha, mais conhecido como Mercado das Carnes, é como viajar pelo tempo até a Idade Média, ou até os escombros de uma cidade marcada pela guerra. As condições em que trabalham os feirantes, hoje, em pleno século 21, mais se assemelham à situação em que funcionavam as feiras livres de 10 séculos atrás. A utilização de cepos de madeira sem a mínima higiene para cortar carnes; a estrutura das bancas que expõem alimentos, todas em ruínas; o esgoto que corre a céu aberto, a circulação de cachorros abandonados, gatos, roedores e insetos, tudo isso denota um ambiente que aproxima o velho mercado do cenário de um filme de terror.

Faltam limpeza e higiene por todo ambiente. As bancas que expõem carnes, frutas e verduras, durante o dia, a noite servem de abrigo para animais de rua e roedores. O descaso atinge diretamente a própria população de Porto da Folha, que vende e compra no mercado. O município é composto, em sua grande maioria, por pequenas famílias de produtores rurais, que encontram no mercado o único local para vender seus produtos e, assim, garantir a sobrevivência.

“É um absurdo. Se você vê os cepos onde são cortadas as carnes, eles ficam expostos e passam ratos por cima, baratas. O local é cheio de moscas. Cachorros dormem em cima das bancas, o esgoto corre a céu aberto, prejudicando ainda mais a permanência das pessoas aqui dentro. O local está realmente abandonado, o problema é que somente a população sofre”, denuncia o vereador do município, Lindomar Xocó (PT).

De acordo com ele, a situação requer a urgente intervenção do Ministério Público, haja vista os riscos à saúde que o mercado expõe aos quase 30 mil habitantes da cidade. “Queremos que o Ministério Público tome as devidas atitudes visando principalmente a saúde e o bem estar da população e de quem vem de fora visitar a nossa feira. Para se ter uma ideia, toda a demanda do município chega aqui às segundas-feiras para atender a população. O local é de responsabilidade da prefeitura, mas não faço ideia de quando houve uma reforma pela última vez. O que eu sei é que toda a população clama por uma melhoria e o prefeito não apresenta nenhuma solução”, complementa o parlamentar.

A situação tem deixado os próprios feirantes descrentes em relação a atuação da prefeitura para melhorar a estrutura do mercado das carnes. “Eu vendo nesta feira já tem mais de vinte anos. Toda segunda feira, às 3h20 da madrugada, eu chego pra descarregar minhas mercadorias e vender. Foi assim que eu criei meus três filhos e hoje eles já me ajudam aqui. Nesse tempo todo que faço minhas vendas, eu não vi muita coisa ser feita aqui não. Eles até dão uma pintada para disfarçar, mas a gente vê que o mais importante, que é cuidar da limpeza e da higiene para quem vem comprar, não tem”, reclama a feirante que, por medo de retaliação política, preferiu não se identificar.

De acordo com ela, ao longo dos anos, o movimento na feira, que em outros tempos já chegou a atrair pessoas de outros municípios da região, tem baixado consideravelmente. “A situação tá ruim mesmo, tudo muito sujo, a gente vira e mexe vê rato passando. O mau cheiro quando chove e a lama incomodam bastante também. Eu acho que o povo vem até menos com medo de pegar alguma coisa. Se de repente eles melhorassem as condições do mercado, as vendas poderiam até aumentar”, complementa a feirante.

A solução para o mercado, porém , pode estar ainda muito distante. Analisando o portal da transparência da prefeitura, a fim de encontrar projetos ou orçamentos destinados à reforma do mercado municipal, nada foi encontrado pela equipe do JORNAL DA CIDADE. Como a administração municipal apresenta problemas na apresentação de certidões ou documentos válidos, também não pode celebrar convênios com a Caixa Econômica Federal.

Respostas

Procurada para comentar sobre a situação do mercado das carnes, a Prefeitura de Porto da Folha, por meio de sua Assessoria de Imprensa, respondeu que “não existe situação de abandono. Porém o mesmo [Mercado] realmente precisa de uma reforma. Inclusive, existe uma ação do Ministério Público, de 2013, portanto, na gestão passada, para fazer essa reforma. Já temos projeto para receber a reforma, através de emendas parlamentares”, frisa a resposta.

Ainda de acordo com a Nota, a reforma paliativa do mercado, que deveria ser realizada neste mês de outubro, não aconteceu por falta de recursos, mas a gestão pretende utilizar as verbas do mega-leilão do Pré-sal para realizar uma reforma ainda mais ampla, com recursos próprios.
A Nota é encerrada afirmando que o novo projeto do Mercado contempla e atende às exigências da vigilância sanitária, com a instalação de Mesas de inox, serras elétricas, ganchos em inox e Câmaras frigoríficas.

|Fotos: Rafael Faria