13/01/2020 as 09:20

Municípios

Municípios de SE registraram 319 mortes por afogamento

Cenário revela a ausência de guarda-vidas e a falta sinalização em locais movimentados ou perigosos para o banho, a exemplo de açudes, lagos e rios

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A morte do ator Domingos Montagner, por afogamento, em setembro de 2016, numa área sem sinalização e pouco frequentada para o banho, no município de Canindé do São Francisco, marcou a memória dos sergipanos e chamou a atenção de todo país para os riscos de se banhar em locais desconhecidos. Naquele momento, muito se discutiu sobre a ausência de informações, a falta de guardas-vidas em locais movimentados e o papel das prefeituras diante deste cenário. o debate colocou em xeque a situação de algumas praias, rios, lagos e barragens por todo estado. O problema é que, de lá para cá, pouca coisa ou quase nada mudou. Prova disso é que as médias de óbitos por afogamentos, em Sergipe, têm se mantido constantes, deste então. Em 2016, foram registradas 76 mortes; em 2017, 85; em 2018, 83; e no ano passado houve uma leve queda, com 75 óbitos, de acordo com dados do Instituto Médico Legal (IML- Sergipe).

Se somados os óbitos por afogamento neste período, de 2016 a 2019, o estado registrou 319 mortes, o que leva a uma média anual de quase 80 óbitos, pouco mais de seis mortes por mês, ou uma morte a cada final de semana, pelo menos. Vale registrar, ainda, que esse número seria ainda muito maior, não fossem os 85 salvamentos realizados, em média, pelo Corpo de Bombeiros em praias, principalmente da capital, onde há um maior fluxo de banhistas.

Em 2019, houve relatos de mortes por afogamento em, pelo menos, 21 municípios de Sergipe. Nessas localidades, os registros são mais comuns em rios, lagos e barragens. Estão entre os municípios que registraram mais casos em 2019: Cumbe; Carira; Itaporanga D’Ajuda; Itabaiana e Nossa Senhora do Socorro. Além desses, também foram registrados óbitos por afogamento em Porto da Folha, Propriá, Santa Rosa de Lima, Moita Bonita, Tobias Barreto, Poço Redondo, Macambira, Gararu, Ilha das Flores, Poço Verde, Aquidabã, Carira, Dores, Graccho Cardoso, Santo Amaro e Barra dos Coqueiros.

SITUAÇÃO
Na maioria dos casos, a ocorrência de afogamento está ligada diretamente ao consumo exagerado de bebidas alcoólicas, e, principalmente, ao desconhecimento por parte do banhista do próprio local onde está se banhando. Este desconhecimento poderia ser evitado com informações e sinalizações simples sobre a área, a exemplo de profundidade, correnteza, entre outras coisas. Campanhas de conscientização e educação voltadas à prevenção também são formas eficazes de se evitar esse tipo de tragédia. São ações que deveriam ser priorizadas pelas administrações municipais, sobretudo em período de férias escolares, quando há uma grande procura por esses locais. Não por acaso, os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, que marcam o verão, são os que registram o maior número de incidências de afogamentos.

“As prefeituras são responsáveis pelas ações de prevenção, assim como de salvamento no seu território, seja em praias, rios ou barragens. Cabe a elas delimitar uma área própria para o banho, garantindo a atuação de pessoas capacitadas para desempenhar o serviço de guarda-vidas civis”, explica o comandante do Grupamento de Busca e Salvamento (GBS), do Corpo de Bombeiros, major Fábio Caldas.

De acordo com ele, já existem os locais definidos para banho e nesses locais a prefeitura tem a total responsabilidade para prestar os serviços de salvamento aquático e prevenção. “Agora, é importante frisar que caso as pessoas queiram ir para um local não indicado para o banho, é por conta e risco. E caso haja um apelo popular para que se ampliem os pontos de banho, essa solicitação deve ser avaliada pela prefeitura”, complementa o major.

DEFASAGEM
A ausência de guardas-vidas em locais movimentados, contudo, é um problema que parece ir além da atuação das prefeituras. O próprio Corpo de Bombeiros de Sergipe passa por uma defasagem considerável no número de militares destinados à tarefa de salvamento aquático. Em todo estado, são apenas 24 profissionais atuando como guarda-vidas, para uma extensão de 160 km de litoral, do qual ao menos 10 praias necessitam de uma atenção especial. Só para se ter dimensão desta defasagem, o estado vizinho de Alagoas conta com 108 profissionais, para atuar em 230 km de litoral.
Estão entre as praias que registram um maior fluxo de banhistas neste período do ano: Praia do Saco e Abaís, em Estância; Cauêra, em Itaporanga D’Ajuda; Viral, Croa do Goré, Aruana, Atalaia e Coroa do Meio, em Aracaju; Praia da Costa e Jatobá, na Barra dos Coqueiros; e Pirambu.
“O ideal é que a cada 500 metros de praia a gente tivesse uma dupla de guarda-vidas para fazer cobertura. Porém, mesmo com um efetivo bem pequeno, é importante destacar que não registramos óbitos nas praias da capital por afogamento, e isso foi devido, também, às ações de educação e conscientização que desenvolvemos, a exemplo do Projeto ‘Verão mais seguro’ e ‘projeto golfinho”, frisa o major Caldas.