03/08/2020 as 10:43

OBRAS

Construção da rodovia SE-255 se arrasta há quase seis anos

Motoristas denunciam riscos, prejuízos, asfalto de péssima qualidade já se desmanchando e mais uma série de dificuldades que têm tornado o percurso cada vez mais longo e difícil

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Ainda há muita estrada pela frente. De aproximadamente 53 km de extensão, a obra da rodovia SE 255 ainda está na metade do caminho, apenas 26 km estão asfaltados em quase seis anos de contrato vigente. A obra, que rendeu aos cofres públicos R$ 73 milhões, interligará as duas rodovias federais que atravessam o Estado de Sergipe, por Itaporanga D’ajuda e Itabaiana, passando ainda pelos municípios de São Cristóvão e Areia Branca.

A mesma encurtará também a distância entre os Territórios da Grande Aracaju e Agreste Central, passando por nove povoados dos quatro municípios. Porém, já são seis anos de espera e a obra ainda segue a passos lentos, o que tem provocado irritação e prejuízos aos condutores de veículos leves e pesados que trafegam constantemente pela rodovia, além de provocar tragédias, devido a má sinalização das vias em construção. “Pra você ver a gravidade, a gente que utiliza essa estrada vive com o veículo direto em borracharia. É um prejuízo constante, quebrando mola o tempo todo. Até morte vem acontecendo nessa estrada por causa de irresponsabilidade. Eu já vi duas mortes nesta rodovia. Uma porque eles colocaram concreto na estrada sem sinalização e o condutor bateu e morreu. O outro, o carro deslizou na ladeira e a passageira morreu. O povo tá pagando é com a vida”, lamenta o motorista Aguinaldo de Oliveira.

Motoristas ainda denunciam que o pouco que já foi construído das estradas está se deteriorando às intempéries do tempo. “Sergipe, terra de sem vergonha. Muitas obras inacabadas que vêm se desmanchando antes da inauguração. O pior, não existem órgãos, nem ninguém que fiscalize ou cobre dos responsáveis por tantos desmandos. Só vejo eles fazerem do jeito que querem e eu registro tudo. Para você ter ideia, essa rodovia, que corta pelo menos três municípios sergipanos: São Cristóvão, Itaporanga D’ajuda e Areia Branca, ainda não foi nem inaugurada e já está em plena degradação”, desabafa Aguinaldo.

Segundo o condutor de caminhão, que faz questão de ressaltar, a todo momento, que é pagador fiel de impostos, a chuva que deu nos últimos meses, em Sergipe, já desmanchou a rodovia em grande parte. “Eu passo sempre por essa estrada. O asfalto pronto já está todo se acabando e olhe que passaram um dia desse. O que eles colocaram é tão ralo que nas curvas, tá perdendo a consistência. Eu flagrei os trabalhadores fardados com o caminhãozinho deles tirando material, areia, da própria estrada para colocar em outro trecho. Ao invés de comprar material de primeira, estão fazendo a obra com resto de material e devem tá cobrando um dinheiro altíssimo. Esse é o Estado que eu faço parte, que pago imposto, por isso quero que tome providências. Que obra essa? Deve tá custando um dinheirão para o Estado e eles fazendo com material reaproveitado”, denuncia.

A rodovia também promete beneficiar diretamente 500 produtores de hortaliças e afins que fazem o cultivo no perímetro irrigado da Ribeira. Promete, ainda, facilitar o escoamento da produção agrícola e mineral entre os territórios, além do deslocamento de centenas de famílias que residem nos povoados e regiões adjacentes com o surgimento de novas linhas intermunicipais. Mas, essa realidade ainda está muito distante. O Governo do Estado garante que a conclusão da obra será em dezembro deste ano, o que, para população, é difícil de acreditar, já que em seis anos concluíram apenas metade da rodovia, como poderiam em cinco meses deixar outra metade devidamente pronta? Completamente descrente, a população local questiona se essa obra será mais uma não inaugurada no Estado. “Eu moro em Sergipe, mas percorro todas as estradas. Sou motorista de caminhão e já trabalhei, inclusive, em terraplanagem na Bahia. Lá se faz uma obra e conclui. Todo dia surge uma nova via na Bahia. O governo abre novos caminhos. Têm vários acessos que eles fazem para o crescimento da cidade e o desenvolvimento do Estado. Aqui é tanto tempo para acabar, ninguém inaugura e vai se deteriorando. É o mesmo lugarzinho, a mesma pista ruim de sempre e, quando surge uma nova rodovia, cai na mão de pessoas que não têm responsabilidade com o dinheiro público e o Estado não acompanha. Um absurdo!”, reclama Aguinaldo.

RESPOSTAS
O Governo de Sergipe, por meio da Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado do Desenvolvimento e Sustentabilidade (Sedurbs), informou ao JORNAL DA CIDADE que a obra da SE 255, de número de contrato 030/2014, orçada em R$ 73 milhões, tem previsão de conclusão em dezembro de 2020. Além disso, atestou a tragédia iminente que a rodovia traz, confirmando uma morte, no ano de 2017, de um motoqueiro que adentrou em um trecho que estava interditado e veio a colidir com material (meio fio) que estava sendo aplicado na obra. “O caso está em juízo no Comarca de Itaporanga D’ajuda. O Governo do Estado, por meio do DER, mantém a fiscalização contínua da obra, sinalizando os trechos”, afirma.

A Sedurbs informa, ainda, que nunca houve rompimento de ponte na SE 255. “As chuvas acima da média ocorridas no mês de maio causaram o rompimento de um bueiro tubular de concreto, mas a empresa responsável pela construção da rodovia agiu com rapidez e eficiência e em três dias o tráfego foi restabelecido, sendo que trocamos o bueiro tubular por um celular, com capacidade de suportar um volume de água quatro vezes maior do que aquele rompido pelas chuvas. Convém ressaltar que na rodovia, foi construída uma nova ponte, maior e mais segura no povoado Rio das Pedras, em Itabaiana, substituindo a existente”, explica. Já sobre a denúncia de motoristas que flagraram funcionários fardados retirando material de um trecho para reutilizar em outro na mesma rodovia, o Governo do Estado disse ser inverídica. Para comprovar o fato, o JORNAL DA CIDADE publica a foto enviada por um motorista.