29/03/2021 as 09:41

PACIENTE

Apesar das dificuldades, Sergipe não corre riscos de faltar kit intubação

Com a medida unilateral do governo federal, hospitais particulares relatam dificuldades para obter insumos, mas garantem que não correm riscos de faltar medicamentos

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De repente, o enfermo intubado começa a despertar, recobra a consciência aos poucos e abre os olhos. Ainda bastante sonolento, ele percebe onde está e que, dentro de sua boca, há um cano que desce até a entrada do pulmão. Assustado, ele tenta arrancar a mangueira da intubação, machucando toda a faringe. Essa cena vem ocorrendo, lamentavelmente, em alguns hospitais do país. Diante da falta de medicamentos para intubar um infectado com covid-19, as equipes de emergência estão tendo que racionar os remédios entre os internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

O chamado kit intubação é composto de seis fármacos, entre sedativos, anestésicos e bloqueadores musculares, são medicamentos usados em pacientes que precisam de máquinas para respirar com o objetivo de não acordarem ou sentirem dor quando intubados. Na última semana, o tema que tomou os noticiários e virou pauta recorrente no Congresso Nacional, diz respeito a essa escassez de kits para a intubação de pacientes em leitos de UTI de diversos estados da federação.

Com a medida unilateral do governo federal de canalizar toda a produção e estoques de kit intubação existentes no país para os hospitais da rede pública (SUS), os reflexos passaram a ser sentidos na rede privada. O levantamento realizado pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), junto aos seus associados, no dia 18 de março, comprovou a escassez de medicamentos essenciais para o tratamento de pacientes acometidos pela Covid-19, especialmente os sedativos necessários para intubação nos hospitais de diversos estados do Brasil. A entidade também informou que, desde o dia 19, os hospitais vêm conseguindo comprar - em porções muito pequenas - o pouco de produto que ainda havia remanescente no mercado. Além disso, também houve ajuda coletiva entre os hospitais para aqueles que estavam com estoque mais crítico.

Em Sergipe, o cenário não parece ser tão ruim assim, apesar das dificuldades atuais para obter os insumos. Pelo menos é o que tranquiliza os dois maiores hospitais particulares do Estado, que também fazem parte da Anahp. “Estamos com estoque muito justo para a quantidade de leitos de UTI, mas dentro das projeções de segurança. No ano passado já tivemos grande dificuldade, que piorou muito nesta segunda onda, pois todo o país está com os hospitais trabalhando na capacidade máxima de ocupação de leitos e, consequentemente, grande consumo. A indústria já vinha com dificuldade de fornecimento e a situação se agravou mais com as notícias de Requisição de Estoque pelo Poder Público Federal, na semana passada. Tivemos pedidos não atendidos utilizando desta argumentação”, informou o Hospital Primavera, através da sua Assessoria de Comunicação.

O diretor do Hospital São Lucas, Maurício Todt, também confirmou que a demanda aumentou exponencialmente, mas não tem como prever riscos de acabar o estoque disponível. “Sem dúvida os estoques estão bem mais apertados. Estamos trabalhando sempre no limite, porém até o momento estamos conseguindo atender a operação”, assegurou. Com o perigo rondando o país, a situação vem sendo monitorada pelo Ministério Público Federal (MPF). O Gabinete Integrado de Acompanhamento da Epidemia Covid-19 (Giac) enviou, no último dia 19, ofício ao Ministério da Saúde, requisitando informações urgentes sobre a disponibilidade de remédios do kit intubação e as providências adotadas pela pasta para evitar a falta dessas substâncias em hospitais de todo o país.

FALTA DE TRANSPARÊNCIA
Segundo o secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, coronel Franco Duarte, a situação dos estoques e do consumo é monitorada semanalmente, por meio de informações prestadas pelos estados e municípios e também de ferramenta de business intelligence da Anvisa. Franco informou que o Ministério monitora os estoques de medicamentos capazes de atender aos leitos de UTI previstos no Plano de Contingência para Enfrentamento da Covid-19. Pelos dados, há estoques disponíveis em muitos locais e, ainda assim, chegam pedidos de mais remédios.

Isso porque, em razão da crise, há pessoas sendo intubadas em estruturas e locais não previstos no plano de contingência, como UPAs e prontos-socorros, o que gera discrepância nos dados de consumo dos fármacos. Para solucionar isso, foi combinado em reunião na última semana que estados e municípios precisam informar também esses dados, para monitoramento adequado do problema. O problema em Sergipe está justamente nisso, pois o levantamento realizado em março, os ministérios públicos federal, do trabalho e do estado de Sergipe constataram que apenas 24 municípios estão cumprindo integralmente as ações recomendadas, em janeiro deste ano (Confira quais as cidades e mais informações sobre esse assunto na matéria publicada na página 2). Apenas 32% dos municípios sergipanos garantem transparência total das informações sobre o plano de vacinação contra covid-19.

HOSPITAIS PÚBLICOS
Em condição mais tranquilizante estão os hospitais públicos de Sergipe. É o que assegura a Secretaria de Estado da Saúde (SES). Através da Assessoria de Comunicação, o Governo de Sergipe esclarece que, neste momento, não há risco de desabastecimento de insumos na rede pública estadual para pacientes atendidos pelo SUS. “A SES faz o monitoramento constante dos produtos médicos e farmacêuticos para o combate à Covid-19 utilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A Secretaria está em situação de vigilância para a movimentação que acontece na maioria dos estados brasileiros e vê com preocupação o atual cenário sobre a falta de insumos para intubação de pacientes, não apenas pela alta taxa de internações, mas também pela dificuldade de aquisição dos medicamentos.

O Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) vem fazendo interlocução com o Ministério da Saúde (MS) para que seja mais efetivo nas ações de ajuda aos Estados para que não haja falta de suprimento para a rede de atendimento”. Diante da atual conjuntura de grave crescimento do número de casos da doença registrados, o Fórum Nacional dos Governadores enviou uma carta à presidência da República reiterando a preocupação relatada pelo Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), em diversas oportunidades, no gabinete de crise do Ministério da Saúde. O documento relata irregularidades no abastecimento do SUS com medicamentos bloqueadores neuromusculares, anestésicos e sedativos, utilizados na indução e manutenção de tratamento, por meio de Intubação Orotraqueal - IOT, em pacientes com Covid-19.