23/08/2021 as 08:51

ENTREVISTA

"Dr.Jorge Leite tem características marcantes que podem servir de legado aos jovens de qualquer lugar do mundo”

A morte gerou comoção em todo o estado pelas contribuições que o fundador da Companhia Sul Sergipana de Eletricidade (SULGIPE) e da rádio esperança trouxe para o estado.

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Recentemente, o empresário, engenheiro, ex-deputado estadual e ex-prefeito de estância, Ivan Leite (PSDB) perdeu o seu pai Jorge Prado Leite, aos 95 anos de idade. A morte gerou comoção em todo o estado pelas contribuições que o fundador da Companhia Sul Sergipana de Eletricidade (SULGIPE) e da rádio esperança trouxe para o estado.

Nesta entrevista, ivan fez questão de falar sobre todo o legado deixado pelo seu pai, com uma biografia completa dele, destacando a carreira pautada no empreendedorismo, que o tornou conhecido como “um homem chamado trabalho”. Neste ano, Ivan Leite também recebeu mais uma notícia triste: o diagnóstico de câncer no intestino.

A descoberta da doença já em estado de grande porte, o fez refletir sobre a vida, porém nada que o desanimasse. Pelo contrário, o motivou ainda mais, movido pelo grande exemplo que possui daquele que mais ama e admira, o seu pai. “Repensar a vida é uma consequência, entregar-me ao desalento não é algo que anteveja, motivado ainda mais, pela forma de ter vivido do meu pai, cujo exemplo admiro e procuro seguir, trabalhar e fazer o bem, enquanto a saúde permitir”, diz.

Em luto pelo pai e já com a cirurgia para a remoção do tumor realizada, seguindo em processo de quimioterapia, ivan não se esquiva de falar de política, mas deixa claro que, neste momento, não está com espírito para debater proficuamente assuntos que requerem uma tarde inteira. “sim. É provável uma candidatura minha a deputado federal”, solta. E, ainda completa: “tenho recebido honrosos convites...os convites incluem além da candidatura a deputado federal, a senador e a governador”, afirma.

Ao ser solicitado a falar sobre assuntos que dizem respeito a gestão do prefeito de estância, gilson andrade (psd), com quem está rompido por questões já conhecidas publicamente, quando o seu aliado, à época, boicotou a sua esposa, a vice-prefeita, adriana leite, ivan não rende conversa. “prefiro neste momento não responder a esta pergunta, pois seria objeto de uma entrevista inteira.

Agradeço a compreensão”, avisa. Já sobre alguns assuntos, como a respeito da possível candidatura da sua esposa adriana leite ao cargo de deputada estadual nas eleições de 2022, ivan se deleita. “sim. Ela deverá ser candidata a deputada estadual pelo podemos, partido ao qual filiou-se após convite da nova liderança feminina política estadual, daniele garcia”, revela, acrescentando ainda mais informações. Confira a entrevista completa:

JC MUNICÍPIOS - O seu pai Jorge Prado Leite, engenheiro e empreendedor com uma ampla visão educacional, morreu aos 95 anos de idade, no último dia 15. Qual o legado que ele deixou para a história de Sergipe?
IVAN LEITE - No dia 19 de junho de 1926 nasceu em casa, na Avenida Ivo do Prado, em Aracaju, meu pai, Jorge Prado Leite, primogênito de Júlio César Leite e de Carmem Prado Leite, e também primeiro neto do coronel Gonçalo Rollemberg. Aos 11 anos de idade foi estudar, sozinho, em Fortaleza, Ceará, na Escola Militar. Aos 12 anos, mudou-se para Minas Gerais. Foi estudar internamente no Colégio Cataguases Leopoldinense, e de lá ele mantém até hoje memórias deliciosas, não apenas pelos tradicionais doces mineiros, mas pelo carinho e amizade de famílias e amigos que o acolhiam aos finais de semana e as paqueras de adolescente. Mudou-se para São Paulo alguns anos depois, para o internato do Colégio Mackenzie, do qual também guarda sempre boas memórias. Serviu ao CPOR - Centro Preparatório de Oficiais da Reserva - Exército, o que lhe era fácil, pelo temperamento disciplinado, mas difícil pelas ações físicas, pois mesmo não tendo limitações que o impedissem de executá-las, a elas não era muito afeito. Mas conseguiu superá-las através de atribuições que buscou na biblioteca. Aos 19 anos, papai ingressa na já cobiçada nacionalmente e já consagrada formadora de excelentes engenheiros, a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo -, feito este que muito o orgulha. Na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo estudaram contemporaneamente jovens que vieram a ser dois governadores de São Paulo, Mario Covas e Paulo Maluf. Com este, papai concorreu em eleição para o Grêmio da Poli, e o venceu - fato que atesta a sua grande capacidade de aglutinação e liderança. Como presidente do Grêmio da Poli, e vindo de outro Estado morar em São Paulo, era conhecedor das dificuldades que enfrentavam os alunos originários do interior e de outros Estados de todo o Brasil. Por isso, idealizou e empenhou-se na viabilização e construção da Casa do Politécnico. E teve sucesso nesta empreitada, construindo um prédio de 11 andares que, ao término da sua gestão, já estava no sexto pavimento e com recursos assegurados para a sua conclusão. Em 1950, já formado em Engenharia Civil, papai retorna a Sergipe a convite de seu pai, que dele precisava para dirigir a Fábrica Santa Cruz uma vez que, como senador, iria morar no Rio de Janeiro. Este é o mesmo ano em que conheceu e apaixonou-se pela ainda adolescente Angelina, a minha mãe. Em 1956, três importantes fatos ocorrem na vida de papai: o time de futebol da fábrica, o Santa Cruz, o Azulão do Piauitinga, sagra- -se campeão estadual no primeiro campeonato desta abrangência, e ainda fora campeão seguidamente 1957/58/59/60, sendo o primeiro pentacampeão; é fundada a Companhia Sul Sergipana de Eletricidade, a Sulgipe, e lhe nasce o seu primogênito, euzinho aqui. Em 5 de maio de 1964, ocorrem os dois maiores reveses de sua vida: a perda prematura de sua genitora, Vovó Carmem e, no mesmo dia, a destruição da Fábrica Santa Cruz por uma gigantesca enchente dos rios Piauí e Piauitinga. Demonstrando sua garra e seu empreendedorismo, em 1º de maio de 1967 papai inaugura a primeira estação de rádio do interior de Sergipe, a Rádio Esperança, numa data que demonstra explicitamente seu apreço e reconhecimento aos trabalhadores - ele próprio um eterno trabalhador -, a ponto de receber o codinome de um homem chamado trabalho! Aos filhos, que criou e educou com exemplos - Ivan, Marcelo, Adriana -, e aos netos Jorge, Yvette, Júlia e Luiza, e ao bisneto Pedro Jorge, ele segue dando demonstração de perseverança. Chegou aos 95 deixando um legado memorável para todas as gerações. Em síntese, além das realizações materiais aqui elencadas, ressalte-se: competência adquirida através da educação, perseverança ao não esmorecer ante qualquer obstáculo, e trabalho, muito trabalho, sem o qual nada se consegue. Essas são características marcantes de Dr.Jorge, que podem servir de legado aos jovens de qualquer lugar do mundo.

JC MUNICÍPIOS - Em maio deste ano, o senhor informou publicamente que realizou uma cirurgia para a remoção de um tumor no intestino. Como está o seu tratamento? O diagnóstico em algum momento o fez repensar sobre as suas futuras pretensões políticas?
IVAN LEITE - Câncer, é uma palavra que assusta. Não há dúvida. Inclusive você, provavelmente, por delicadeza, a evitou na sua pergunta. Sim, descobri, um câncer no intestino, já com grande porte, porém sem disseminação para outros órgãos já detectável. A descoberta do risco de vir a tê-lo poderia ter sido antecipada se eu tivesse feito um exame de rotina, recomendável aos com mais de cinquenta anos de idade, que é a colonoscopia. Por isso, recomendo a todos, façam a colonoscopia preventiva. Inicialmente a suspeita da existência de algum problema no intestino foi detectada pela excelente médica clínica geral, Dra. Cleide Carvalho. Posteriormente confirmado através de colonoscopia com Dr. Maurício Prado Ribeiro, o qual com grande competência, junto com sua equipe, depois realizaram a minha cirurgia, a qual estendeu-se por dez horas, mas com êxito total na retirada de todo o tumor para o que foi necessário a retirada de um palmo do intestino. Atualmente estou realizando quimioterapia preventiva com o oncologista Dr. Michel Fabiano Silva Alves, cuja postura profissional tem me dado a segurança e confiança que estou fazendo o tratamento que deve ser feito. Quando nascemos todos já sabemos que um dia faleceremos. Entretanto é estranha a sensação ao se saber que está com câncer. Parece algo como dizer, você acabou de adquirir, um bilhete de rifa, cujo prêmio negativo, se sorteado, é o sofrimento e a morte. Mas, hoje estas probabilidades negativas são bem menores. O sucesso no tratamento está aumentando, e mantendo a lotérica analogia, o bilhete não é mais uma rifa com dezenas de participantes, e sim de milhares. Repensar a vida é uma consequência, entregar-me ao desalento, não é algo que anteveja, motivado ainda mais, pela forma de ter vivido do meu pai, cujo exemplo admiro e procuro seguir, trabalhar e fazer o bem, enquanto a saúde permitir. Relembro a primeira menção feita ao meu nome em um jornal em que era perguntado sobre meus planos e eu respondi: “o futuro a Deus pertence”. Ao que hoje, com um leve sorriso no lábio, acrescento: “e o presente também”.

JC MUNICÍPIOS - Falando nisso, o senhor recebeu, recentemente, a visita do ex-senador Eduardo Amorim (PSDB), do prefeito de Itabaiana, Adailton Souza, e do ex-prefeito Valmir de Francisquinho. Neste encontro, o cenário político também entrou em pauta? A sua pretensão de disputar o cargo de deputado federal pelo PSDB foi discutida?
IVAN LEITE - Sim, é provável uma candidatura minha a deputado federal.

JC MUNICÍPIOS - Hoje, Ivan Leite está filiado ao PSDB, mas ainda namora convites de outros partidos, inclusive para concorrer em cargos majoritários? Quais e por que?
IVAN LEITE - Tenho recebido, honrosos convites, os quais atribuo ao retrospecto de minha atuação política tanto no legislativo, como deputado estadual por oito anos, quanto no executivo, como prefeito de Estância, também por oito anos, Secretário de Estado de Indústria Comércio e Turismo por três anos, e Superintendente do SEBRAE. Como também a minha atuação na iniciativa privada como presidente da Sulgipe. Os convites incluem além da candidatura a deputado federal, a senador e a governador.

JC MUNICÍPIOS - A sua esposa Adriana Leite também irá concorrer nas eleições de 2022, para o cargo de deputada estadual?
IVAN LEITE - Sim. Ela deverá ser candidata a deputada estadual pelo PODEMOS, partido ao qual ela filiou-se após convite da nova liderança feminina política estadual, Daniele Garcia. Ela terá a importante atribuição de vice-presidente estadual do PODEMOS e de coordenadora do PODEMOS MULHER, área de atuação a qual ela já tem todo um passado de ações. Claro que esta decisão será do partido e delas, ao que eu desejo sucesso. Pois a participação feminina na política deve, por justiça, ser aplaudida e estimulada.

JC MUNICÍPIOS - O senhor gostaria de concorrer ao cargo de senador ou governador? Dos pretensos candidatos a governador em 2022, quem o senhor acha que está mais propenso a ser um bom candidato? Ivan Leite vai estar na situação ou na oposição?
IVAN LEITE - Fazendo um retrospecto das eleições em que participei, já fui candidato em grupos distintos, tanto pela oposição quanto pela situação. Mas, sempre busquei conquistar os votos mostrando meu passado de formação educacional, engenheiro (USP), adminstrador de empresas (USP) e advogado (UNIT), cuja bagagem de conhecimentos adquiridos tenho utilizado para fundamentar as minhas ações. De ambientalista ao defender a Mata Atlântica e o meio ambiente, com uma postura equilibrada e crítica, que pode ser explicitada na frase que elaborei quando deputado estadual nas prévias da ECO-92: “Sejamos ecologistas e não ecolobobos“. Enfim, situação ou oposição são circunstâncias da conjuntura temporal e que não alteram o meu objetivo, que é fazer o bem.

JC MUNICÍPIOS - Muitos comentam que o senhor guarda mágoas do senador Rogério Carvalho (PT), inclusive com discussões acirradas há tempos atrás. Quais os motivos? Hoje ainda confiaria nele?
IVAN LEITE - Não tenho razões para mágoas do senador Rogério Carvalho. Pelo contrário, consegui, à época que ele foi Secretário da Saúde, após um entrevero inicial - foi esta a discussão -, aumentar o repasse das verbas do estado para o Hospital Amparo de Maria, e eu como prefeito aumentei igualmente o repasse do município. Consegui, numa parceria com o Estado, construir três excelentes Clínicas da Saúde. Consegui sensibilizar ao governador Marcelo Déda, que me chamava de “meu tucano favorito”, e ele do risco judicial que havia, e ainda há, sobre o hospital Amparo de Maria, fechar a qualquer momento, pois se encontra sob intervenção judicial desde outubro de 2004, e por consequência a necessidade de construção de um hospital regional pertencente ao estado , e assim surgiu o Hospital Jesse Fontes em Estância. Posteriormente, quando ele foi candidato a senador, com grande poder no governo federal, convidou-me para somar-me à sua candidatura sendo suplente de senador, o que eu aceitei tendo como contrapartida o compromisso dele de trazer para Estância, beneficiando a região sul, um campus presencial da UFS.

JC MUNICÍPIOS - E o prefeito de Estância, Gilson Andrade (PSD), seu aliado que o senhor fez crescer politicamente e que boicotou a sua esposa, quando vice-prefeita Adriana Leite, não confiaria mais nele? Hoje o senhor avalia que apoiar a candidatura de Márcio Souza (PSOL) à prefeitura não foi uma decisão política acertada?
IVAN LEITE - Prefiro neste momento não responder a esta pergunta, pois seria objeto de uma entrevista inteira. w JC MUNICÍPIOS - Qual a avaliação que o senhor faz da gestão de Gilson Andrade como prefeito do município Berço da Cultura Sergipana? IVAN LEITE - Mantenho a resposta anterior.

JC MUNICÍPIOS - O Ministério Público pediu a interdição das obras de ampliação da adutora do Piauitinga, alegando ausência de estudos de impacto ambiental. O senhor tem acompanhado a situação? Na sua avaliação, houve omissão da prefeitura no envolvimento da população no debate sobre a construção do empreendimento?
IVAN LEITE - Também mantenho a resposta anterior. E agradeço a compreensão.