Prefeitura gasta mais de R$ 900 milcom festa, enquanto professores mendigam piso salarial

Mesmo após ter passado os festejos juninos em todo o Estado, o JORNAL DA CIDADE continua de olho no Portal da Transparência, investigando os gastos públicos dos municípios, principalmente no que diz respeito àqueles com realizações de grandes festividades. A bola da vez é o município de Campo do Brito. Por lá, a gestão realizou a Festa dos Caminhoneiros e Padroeiros entre os dias 14 e 16 de agosto, com um custo total que beira a R$ 1 milhão.

Para se ter ideia dos gastos, a gestão dispensou quase R$ 300 mil com contratações, por inexigibilidade, para estrutura, a exemplo de som, iluminação e banheiros químicos, e quase R$ 650 mil com cachês de bandas e artistas. Duas grandes contratações artísticas chamam a atenção: a banda Unha Pintada, contratada pelo valor de R$ 200 mil, e o cantor Mano Walter, que recebeu da Prefeitura de Campo do Brito o montante de R$ 170 mil. Vale lembrar que a época dos festejos juninos já acabou, portanto os cachês das atrações são menos valorizados após essas festividades, ou seja, essa cifra certamente seria bem menor. Mas, não pára por aí. O diácono Rômulo Canuto agraciou a população de Campo do Brito com o seu show que custou R$ 60 mil.

Já Luanzinho Moraes recebeu R$ 50 mil para um show de quase duas horas. Ainda foram mais R$ 12 mil com segurança eletrônica; R$ 16.500 com segurança privada; R$ 60 mil com divulgação; R$ 25,5 mil com banheiros químicos; outros R$ 22 mil com divulgação; mais R$ 38 mil com estrutura e equipamentos; R$ 70 mil com projeto de montagem; R$ 33 mil em iluminação e trio elétrico e R$ 15,7 com aluguel de box struss. PROBLEMAS NA CIDADE Localizada a 53 quilômetros da Capital e com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) considerado mediano, a cidade conta com uma população de quase 20 mil habitantes e também com problemas em diversas áreas, principalmente na Educação. “O que está pegando aí, é que ele (o prefeito) fez a festa e para fazer a festa mandou para a Câmara o projeto do piso dos professores que estava atrasado. Ele mandou agora no mês de agosto porque ele viu que fazer festa sem pagar aos professores iria dar problema. Ele é sabido, então jogou. Só que o projeto, ele mandou para pagar parcelado em quatro vezes o percentual de 33,24%, e outra coisa, sem retroagir”, denuncia um professor do município, que pediu para não ser identificado, temendo represálias.

“É assim que ele está tratando os professores. Desde 2017, quando ele assumiu, ele deixou atrasar o percentual do piso e quando paga é sem retroagir. Virou um elefante branco. Os professores para receber os atrasados têm que botar na Justiça e o próximo prefeito é que vai ficar com esse débito, isso é um problema muito grande. Esse ano ele tirou onda e ainda fez festa”, acrescentou.

Segundo o professor, a gestão de Campo do Brito tem deixado a desejar também quando o assunto é infraestrutura das escolas. “Têm algumas escolas que foram reformadas, têm outras que estão fechadas por conta de reformas que não aconteceram, inclusive tem a do Pinhão que já foi matéria em jornais, porque ele não queria reformar. A Educação aqui está sendo tratando desse jeito. A maioria dos contratados não recebe menos de um salário mínimo, tá pagando R$ 900. Está uma bagunça. Não tem dinheiro para pagar os servidores, mas tem para fazer festa?”, questiona.

O docente vai ainda mais além e, como cidadão morador do município, opina também, indignado, sobre a situação da Saúde e da Infraestrutura. “Aqui faltam remédios e médicos nos postos direto. As estradas todas estão precárias, o bagaço, ninguém pode se locomover por falta de manutenção. Ele diz que foi culpa das chuvas, mas toda vida choveu? É precariedade mesmo. O prefeito não está ligando pra nada, ele só quer estar fazendo calçamento e inaugurando obra, mas o essencial ele esquece. É complicado, mas ele não é mais candidato a nada, né? Dizem que cada povo tem o governo que merece. Ele é um prefeito novo, mas é o tirador de onda. Ele está surfando na popularidade, aí faz o que quer”.

RESPOSTAS
A reportagem do JORNAL DA CIDADE entrou em contato com a Prefeitura de Campo do Brito em busca de um posicionamento referente ao denunciado pelo professor, bem como sobre os gastos com a festa. Por meio de nota, a gestão informou que a programação da Festa dos Caminhoneiros e Padroeiros de Campo do Brito foi realizada em quatro dias e não chegou a esse montante indicado pela fonte, sinalizando que todas as despesas da festa já foram pagas.

Além disso, a prefeitura informou que em julho realizou a antecipação do décimo terceiro salário de todos os servidores, bem como concedeu o piso salarial dos agentes comunitários de saúde e endemias. A prefeitura fez questão de destacar ainda que o município conta com 13 obras sendo realizadas simultaneamente na cidade e nos povoados. E, informou que sempre atuou com lisura e transparência em todas as suas ações e que em relação às tradicionais festividades da Festa dos Caminhoneiros e Padroeiros do município, todas as despesas e contratos estão disponíveis no Portal da Transparência. Com relação à suposta falta de medicamentos, indicada pela fonte, a gestão repudia, chamando a denúncia de “tentativa de desinformação”, alegando que o município de Campo do Brito é referência na dispensação de medicamentos, tanto na Farmácia Básica como na doação de medicamento através do ABCFARMA. Por fim, a gestão avisou que o prefeito Marcell Souza já protocolou o Projeto de Lei que concede o reajuste do piso salarial a todos os profissionais integrantes do magistério público de Campo do Brito, valorizando a categoria e contribuindo para uma Educação Pública