19/09/2022 as 08:56

Mercado da Carne de Carira é o verdadeiro retrato do abandono, da imundície e do desrespeito



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Mercado da Carne de Carira é o verdadeiro retrato do abandono, da imundície e do desrespeito

Uma breve visita ao Centro de Abastecimento Municipal Maria Neuza Alves Chagas, mais conhecido como “Mercado da Carne”, do município de Carira, é como viajar pelo tempo até a Idade Média, ou até os escombros de uma cidade marcada pela guerra. As condições em que trabalham os feirantes, hoje, em pleno século 21, mais se assemelham à situação em que funcionavam as feiras livres de 10 séculos atrás. A utilização de cepos de madeira sem a mínima higiene para cortar carnes; a estrutura das bancas que expõem alimentos, todas em ruínas; o esgoto que corre a céu aberto, a circulação de cachorros abandonados, gatos, roedores e insetos, tudo isso denota um ambiente que aproxima o velho mercado do cenário de um filme de terror.

Abandono e desrespeito. Essas palavras definem o sentimento de parlamentares e dos munícipes. A estrutura que deveria servir de suporte para os trabalhadores, e garantir a venda de alimentos dentro dos padrões higiênicos, está parcialmente interditada há quase oito anos.

O município é composto, em sua grande maioria, por pequenas famílias de produtores rurais, que encontram no mercado o único local para vender seus produtos e, assim, garantir a sobrevivência. Com esse cenário, muitos trabalhadores ficam relegados a exercer seu trabalho na área externa (área lateral) do espaço onde funciona o mercado, expondo os alimentos fora de frigoríficos, colocando em risco a conservação da carne vendida e a saúde dos próprios consumidores.

O descaso atinge diretamente a própria população, que vende e compra no mercado. “A situação do Mercado da Carne está deplorável há anos e piorando cada vez mais. São nítidos os problemas estruturais e sanitários que o local tem, é tanto que uma parte do telhado já desabou. Acredito eu que, uma avaliação séria, de algum órgão de fiscalização, interditaria o lugar. Já fiz pedidos à gestão sobre essa situação, já alertamos, mas nada de efetivo foi feito”, expôs o vereador de Carira, Josymario de Carlito (Cidadania). E entre a disparidade das promessas com a realidade observada, o vereador Josymario defende a criação de meios para que os trabalhadores que dependem do comércio continuem as vendas de maneira regulamentada, bem como o estabelecimento de um prazo para a adequação das condições.

A expectativa é por uma revitalização que possibilite a utilização do espaço e a venda da carne dentro do que estabelece a lei. “Com a reforma do mercado, acredito que poderiam ser criados quiosques/stand de vendas com refrigeradores, com climatização, com limpeza e higiene adequada, para permitir que essas pessoas continuem trabalhando, mas dentro da lei. E, principalmente, nesse meio tempo, oferecer algum tipo de capacitação, afinal, a maioria ali são pessoas simples, do campo, que podem não saber se é certo ou errado, visto que fazem isso há anos e nunca receberam orientação de ninguém”, completou Josymario.

Já o vereador Naldinho do Sindicato (PSC) avalia que os prejuízos vão além da questão higiênica e alcançam o patamar logístico: “Mudou muito a maneira com que eles lidam com a carne aqui. Antes era abatido aqui mesmo no matadouro e comercializado aqui. Agora essa carne está vindo do frigorífico em Itabaiana, e é lógico que com o mercado reformado melhoraria muito a situação para todos aqui, tanto para os comerciantes como para a população, os consumidores”, opinou. Devido às visíveis e possíveis consequências para a Saúde Pública, além das desconformidades às regras sanitárias, parlamentares como o vereador Pedro do Banco (PT) questionam a falta de empenho governamental para a resolução do problema. “A Vigilância Sanitária deveria ter fiscalizado, é uma área externa, tudo fica lá exposto na madeira. Aí existe esse relaxamento para saber quem realmente, de fato e de direito, tem direito às bancas. O mais importante seria a higiene”, apontou o parlamentar, alertando que a situação requer a urgente intervenção do Ministério Público, haja vista os riscos à saúde que o mercado expõe a população.

RESPOSTA
Em resposta ao descaso, o secretário de Obras de Carira, Hermeson Luiz da Hora Menezes, afirmou que há empenho para realizar a obra no mercado, no entanto, segundo ele, é uma obra que requer um projeto bem feito, para que todas as ações sejam executadas dentro dos conformes. “Nossa equipe de arquitetos e engenheiros já está elaborando esse projeto do Mercado, porque será uma reforma grande, com um custo de aproximadamente R$ 2 milhões, para que a gente possa adequar esse mercado às novas diretrizes das feiras livres. A gente já está finalizando o projeto para buscar emendas e fazer a reforma. Não estamos parados. Desde o meio do ano passado estamos fazendo esse projeto”, garantiu o gestor, informando que a expectativa é que a obra de revitalização e ampliação do mercado seja iniciada até o início de 2023.

O JORNAL DA CIDADE também entrou em contato com a Vigilância Sanitária Estadual, através da Secretaria de Estado da Saúde, que informou da impossibilidade de ação devido à existência de uma Vigilância Sanitária Municipal, que tem o papel de fiscalizar o mercado. A ação da Vigilância Estadual só se dá em casos de alta complexidade e a pedido da Vigilância Sanitária local.