26/12/2022 as 11:18

AMEAÇA

Vereador e familiares vivem reclusos após ameaça de morte para obrigá-lo a votar favorável com o prefeito

Zedinho Rocha (PP) denunciou e foi ouvido na delegacia na última quinta-feira, 22, em processo que investiga ameaça ocorrida no dia 14 de dezembro

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Vereador e familiares vivem reclusos após ameaça de morte para obrigá-lo a votar favorável com o prefeito

A dinâmica da política, principalmente em municípios do interior, muitas vezes reproduz velhas práticas utilizadas para exercer poder e influência em subordinados, ou pelo menos em pessoas tidas como subordinadas.

O exercício da liberdade de expressão e livre arbítrio, no entanto, tem contribuído para que essas práticas arcaicas sejam atenuadas e denunciadas. Foi com esse sentimento que o vereador Zedinho Rocha (PP), do município de Cristinápolis, denunciou ameaças sofridas por ele e sua esposa, motivadas pela tramitação de projetos na Câmara e o interesse que o voto dele fosse favorável ao que estava sendo enviado à Casa.

Zedinho Rocha, em contrapartida, é um dos parlamentares que votou de forma favorável à instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que busca investigar contratos de serviços que foram firmados durante a pandemia pela gestão do prefeito Sandro Mariano (PT). O vereador, que também é funcionário público municipal, conta que no dia 14 de dezembro foi ameaçado, na creche onde trabalha, por dois homens desconhecidos.

Os indivíduos teriam tentado coagi-lo a votar favoravelmente aos projetos, mas não citaram ter relação com político algum. Desde então, Zedinho conta quem tem vivido com cautela, temendo represálias e novas ameaças a ele e a sua família. “De lá para cá, graças a Deus nenhuma ameaça, só que esse prefeito e o vice-prefeito vão para as rádios dizer que eu estou mentindo, dizendo que isso não passa de uma mentira, mas não sabem o que eu passei. Minha família está se precavendo, sempre em casa, sem sair, hoje estou em um lugar muito seguro, com um pessoal de segurança, acionei todos. Tenho que me precaver com minha família, estou ficando mais em casa do que saindo para não receber nenhuma ameaça”, realtou o parlamentar.

De acordo com o vereador, a expectativa era receber um apoio do vice-prefeito da cidade, que também é funcionário público, mas essa possibilidade foi totalmente frustrada. “Além de vice- -prefeito, ele é professor e secretário da Educação. Eu esperava até ele colocar uma nota, mas nem uma nota ele colocou. Eu até falei a ele que ‘se fosse uma nota de falecimento você publicava, mas como não é, você não publica’”, comentou o vereador.

A pressão, segundo Zedinho, não teve início quando sofreu as ameaças em seu local de trabalho, mas quando a esposa dele recebeu uma insinuação de ameaça advinda do próprio vice-prefeito da cidade. Ele suspeita que a ação tem relação com um pedido feito pelo vice para que ele fosse a favor da tramitação da Lei Orçamentária Anual (LOA) na Câmara Municipal, mas que não foi atendido. “O vice-prefeito foi até o trabalho dela e perguntou por mim, dizendo ‘passe um recado para ele: diga que ele tem família, viu? E outra, que ele faça o que tem que ser feito’. Ele disse isso para a minha esposa”, completou o vereador.

BOLETIM DE OCORRÊNCIA
Por conta das supostas ameaças, Zedinho da Rocha prestou um Boletim de Ocorrência (B.O.), seguindo orientações do advogado que o representa, de que poderia utilizar as imagens do circuito interno de segurança da creche para comprovar a abordagem que sofreu. “A investigação é conduzida por uma autoridade policial, mas acompanhei o vereador sobre o que deveria ser feito. Ele já registrou o Boletim de Ocorrência, a autoridade policial já colheu informações sobre os vídeos que estavam circulando e o carro utilizado para fazer a ameaça onde ele trabalha. A investigação ainda está na fase de identificar os possíveis autores, porque ele descreveu as características no relato dele”, explicou Elison Rodrigues, advogado do vereador Zedinho Rocha.

Com relação ao inquérito instaurado, o vereador se apresentou na última quinta-feira, 22, na delegacia, onde prestou um novo depoimento para dar prosseguimento à investigação. A Prefeitura de Cristinápolis foi procurada pelo JORNAL DA CIDADE para comentar o assunto, mas informou que só iria se manifestar após a publicação da matéria. A assessoria disse ainda que todos da gestão estão surpresos com as declarações do vereador