19/04/2025 as 07:00
FARRA MILIONÁRIAEx-secretário de Administração, Marcelo de Ary, denuncia gastos abusivos com shows, aluguel de veículos de luxo e serviços sem comprovação; Prefeitura se defende e aponta uso de emendas parlamentares
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O clima em Gararu, município sergipano de pouco mais de 11 mil habitantes, esquentou. E não foi por causa das festas populares. Denúncias feitas pelo ex-secretário de Administração Marcelo Cacho, conhecido como Marcelo de Ary, colocaram a gestão da prefeita reeleita Zete de Janjão no centro de uma nova controvérsia.
Em entrevista ao JC Municípios, Marcelo acusa a prefeitura de gastos excessivos e falta de transparência na organização de eventos realizados entre janeiro e fevereiro deste ano, apontando indícios de superfaturamento, ausência de serviços contratados e uso indevido de recursos públicos. “Não estou me manifestando por ser contra festa, porque festa gera renda, receita, emprego, mas sim pelos gastos. Um vereador se pronunciou dizendo que a prefeitura não gastou um real com festa, que foi apenas estrutura mínima, e quando a gente realmente vê comprovante de empenho feito pela prefeitura e pagamentos, aí a gente identifica que foi um gasto absurdo”, criticou o ex-secretário.
Marcelo questiona principalmente os valores empenhados e a prestação de contas de serviços contratados. Segundo ele, os gastos ultrapassam R$ 2,7 milhões somando recursos próprios e estaduais, distribuídos entre as festividades do Bom Jesus dos Aflitos, a tradicional Festa da Cabacinha no povoado São Mateus e o Carnaval. “Com relação às festividades, as três festas, identificamos que a prefeitura empenhou R$ 1.480.000,00, a Funcap empenhou R$ 1.250.000. Só que aí, com relação às festas, ficam várias questões de estrutura, palco, trio elétrico, várias bandas entre Valval Verde, Valnejós, Pagodum, Jam A Carreta, Micael Santos, La Fúria, Andrezinho Jeito de Ser e Vitor Martins, sem nenhuma identificação de pagamento, seja por Prefeitura Municipal ou seja pelo Governo do Estado”, apontou.
A ausência de serviços contratados também foi alvo das denúncias. Marcelo afirma que os números apresentados pela prefeitura sobre banheiros químicos e brigadistas não condizem com o que de fato se viu nas festas. “O que mais chama atenção é em relação ao pagamento de banheiros químicos. Foram 375 diárias pagas para essas três festividades e que realmente quando eles fazem o cálculo da quantidade de banheiro não tinha na festa, eles colocam 60 banheiros por dia na festa de Bom Jesus, que foi em janeiro, e não foi essa quantidade realmente que estava lá. Então, os banheiros ficam num total de R$ 127.675,00, pagos pela Prefeitura, assim como 150 diárias de brigadistas de incêndio. Quem estava presente na festa viu que não tinha, na verdade, nenhum, e foi pago R$ 12.300,00 pela Prefeitura”, apontou o denunciante.
A reportagem do JORNAL DA CIDADE teve acesso ao Empenho nº 1240002/2025, datado de 24 de janeiro de 2025, referente à contratação de 150 brigadistas. O documento prevê um gasto total de R$ 24.600,00, mas, segundo o ex-secretário, não houve presença desses profissionais durante os eventos. GASTOS COM ASSESSORIAS Marcelo também denunciou uma farra na contratação de assessorias. “Outra coisa que chama a atenção também são as assessorias, que ultrapassam R$ 100 mil reais por mês. Justamente continua com uma assessoria na área de Educação, que fraudou o Censo Escolar 2023, afirmando ao Fundeb, alimentando o sistema dizendo que teria sistema integral e naquele ano não tinha. Esse sistema integral veio no ano passado e, mesmo assim, até hoje, de forma precária. Quem está no ensino integral só estuda duas vezes por dia, passando o sistema integral, o dia todo na escola, que realmente várias escolas não têm essa estrutura de realmente ser implantado o sistema integral”, explicou.
A lista de acusações inclui ainda o aluguel de dois veículos supostamente de luxo, que estariam sendo utilizados por pessoas próximas à prefeita. “Com relação a esse contrato, desses dois veículos de luxo, um anda com o sobrinho da prefeita, que é secretário de gabinete, e outro com a prefeita. O que nos chama a atenção é que realmente sai um valor mensal de R$ 17.500, para ser pago durante esse ano e, com certeza, esse contrato irá perdurar os quatro anos de gestão, totalizando mais de R$ 800 mil em dois veículos”, finalizou Marcelo de Ary.
RESPOSTAS
Em nota oficial, a Prefeitura de Gararu, por meio da Secretaria de Comunicação, rebateu as acusações. Sobre a festa de Bom Jesus dos Aflitos, foi explicado que o custo total do evento, excluindo as atrações custeadas pela Funcap, foi de R$ 1.287.000,00. “Desse valor, a Prefeitura de Gararu arcou com apenas R$ 187 mil de recursos próprios. O restante será coberto exclusivamente por emendas parlamentares estaduais e federais e que nenhum pagamento será efetuado antes da liberação e crédito em conta dos recursos das emendas”. Já na Festa da Cabacinha, foi informado que o valor destinado às atrações foi de R$ 800 mil, 100% custeado pela Funcap; E no Carnaval, o investimento em bandas foi de R$ 700 mil. “Todo o valor foi empenhado via prefeitura, porém a fonte dos recursos é, novamente, emendas federais e estaduais, e os pagamentos só serão realizados após os créditos das emendas em conta”, ressaltou.
Sobre os banheiros químicos, a Prefeitura de Gararu garantiu que não está comprando banheiros, e sim alugando. “O termo técnico usado em contratos é “diárias”, ou seja, 375 diárias de banheiros químicos, não 375 unidades físicas. Para contextualizar: na Festa de Bom Jesus dos Aflitos foram utilizados 60 banheiros por dia durante três dias, totalizando 180 diárias. Na Festa da Cabacinha, 30 banheiros por dia por dois dias, totalizando 60 diárias. No Carnaval, 27 banheiros por dia por cinco dias, totalizando 135 diárias. Somando os eventos, o total é de 375 diárias de banheiros, o que corresponde à estrutura real alugada para atender a diversas demandas: público geral, camarotes, camarins, policiamento, bombeiros civis, entre outros”, justificou.