24/12/2019 as 15:32
VIOLÊNCIAMais de 60%dos funcionários LGBTs preferem esconder a orientação sexual no trabalho, sobretudo as mulheres
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A violência contra a mulher pode ser manifestada de diversas formas, e muitas vezes, infelizmente, se torna irreversível. Um dossiê elaborado pelo Grupo de Pesquisa Lesbocídio – As histórias que ninguém conta, aponta para o aumento de 237% do número de mortes por lesbofobia, crime praticado contra mulheres lésbicas, entre os anos de 2014 a 2017, no Brasil.
A intolerância pode estar em todos os lugares, mas, o ambiente de trabalho pode ser considerado um dos mais hostil para essas mulheres lésbicas ou bissexuais, que precisam enfrentar “piadas”, invisibilidade, questionamentos, deslegitimidade, entre diversas formas de preconceito e homofobia – algumas explícitas, outras, não.
Uma pesquisa do Center for Talent Innovation mostrou que mais de 60% dos funcionários LGBT no Brasil preferem esconder sua orientação sexual no trabalho e, entre os que revelam, 49% não sentem abertura para falar sobre o assunto. No caso específico das mulheres, há um adicional discriminatório: a baixa visibilidade da homossexualidade feminina.
“Ainda existe um estranhamento com relação às mulheres homossexuais, quando deixam de mascarar suas identidades. O ambiente de trabalho aceita com mais facilidade a homossexualidade masculina, que está há mais tempo sendo apresentada ao público”, explica Jorgete Lemos, diretora executiva da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços e diretora de Diversidade da ABRH Brasil.
Lesbofobia: como esse tipo específico de homofobia se manifesta
São nas nuances do dia a dia de trabalho que o preconceito de orientação sexual mais se manifesta. Frequentemente velado, ele aparece disfarçado de “brincadeira”, nos questionamentos sobre uma ou outra conduta, na abordagem do tema com um ar de tabu.
Jorgete coloca que o primeiro sinal do preconceito é dado pelos estereótipos: os “carimbos” que tentam categorizar pessoas e prever seus comportamentos. O segundo é o preconceito em si, ou seja, a opinião formada sem reflexão. “Por último, vem a discriminação: as ações desenvolvidas por membros dos grupos dominantes, que provocam um impacto diferencial negativo nos membros dos grupos minoritários.”
Essas manifestações diversas podem ter impacto sobre o corpo, sentimentos, relacionamentos, reputação e status social de uma profissional. “Tudo isso acontece nas organizações empresariais sob os olhos das lideranças, principalmente quando a empresa não tem políticas claras norteando a gestão da diversidade,” coloca a profissional.
Benefícios da diversidade para as empresas
Embora, na prática, a aceitação das diferenças ainda tenha muito a evoluir no ambiente corporativo, cada vez mais se debate as vantagens competitivas de empresas que investem em diversidade.
“Um ambiente de inovação só pode ser composto por pessoas de diferentes crenças, culturas e ideias. Abrir caminho para um ambiente inclusivo não será mais um diferencial, mas uma necessidade para empresas que querem crescer no futuro”, afirma Adriana Ferreira, líder de diversidade & inclusão da IBM Brasil e membro do comitê gestor do Fórum de Empresas e Direitos LGBT.
Para Jorgete, a presença de uma força de trabalho diversa se traduz em diferentes ganhos às corporações, inclusive financeiros: o aumento da competitividade, mais personalização no atendimento, maior valorização da marca, fortalecimento do desempenho financeiro, mais satisfação dos funcionários com a empresa, maior resistência às mudanças do mercado e capacidade de reconhecer talentos são alguns dos benefícios destacados.
Para reverter o quadro discriminatório, é fundamental que as organizações realmente se comprometam com políticas de conscientização e promoção da igualdade. “O avanço ocorre, mas lentamente. Cabe à gestão das empresas definir o que elas querem: reproduzir o que acontece na sociedade ou ser uma referência positiva para essa sociedade”, defende Jorgete.
Uma das grandes iniciativas em prática no País é o Fórum de Empresas e Direitos LGBT, organização fundada em 2013, que reúne empresas para promoção dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais no ambiente de trabalho. O Fórum elaborou dez compromissos para orientar as práticas de incentivo à igualdade nas empresas.
“Aderir às políticas globais que foram bem-sucedidas em outros países é um importante passo a ser dado pelas empresas. Desde que a IBM se uniu ao Fórum de Empresas e Direitos LGBT, tivemos a oportunidade de trocar experiência e aprendizado com outras companhias”, explica Adriana. Além disso, a profissional enfatiza também a relevância de um trabalho de comunicação que sensibilize líderes, colaboradores e recrutadores.
“Sabemos que o processo pode ser lento e que parte da população ainda não aceita de imediato que um colega tenha um companheiro ou companheira do mesmo sexo, mas é assim que a vida se apresenta e esse tema deve estar presente nos debates entre a empresa e seus funcionários”, afirma a profissional.
|Fonte: Finanças Femininas