30/10/2025 as 15:26

REDAÇÃO DO ENEM

Jovens que tiraram boas notas dão dicas de preparação para outros estudantes

A redação é uma das partes mais temidas pelos candidatos que realizam o Exame Nacional do Ensino Médio

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Jovens que tiraram boas notas dão dicas de preparação para outros estudantes

Considerada uma das etapas mais temidas do Enem, a redação exige que o candidato produza um texto dissertativo argumentativo em até 30 linhas, sobre um tema de relevância social, cultural, científica ou política. O desafio não é pequeno: além de defender uma tese com clareza e coesão, o estudante precisa mobilizar repertório sociocultural, construir bons argumentos e ainda propor uma intervenção para o problema apresentado, sempre em conformidade com os direitos humanos.

Na prática, isso significa que não basta “escrever bem”. A redação avalia a capacidade de organizar ideias, relacionar informações e usar a norma culta de forma consistente, tudo dentro de um tempo limitado. É justamente por isso que a preparação faz tanta diferença: treino, estratégia e familiaridade com a estrutura do texto são fatores decisivos para alcançar uma nota alta.

Para ajudar os candidatos que passarão pela maratona de provas, três jovens que já passaram pela prova de fogo do Enem, e que conseguiram marcar 940 pontos com o texto, compartilham a seguir dicas de preparação e conselhos valiosos.

Treine temas e assuntos para a redação

Clara Lococo Fernandes, de 18 anos, ex-aluna da Escola Internacional de Alphaville (Barueri/SP), conquistou 940 pontos na redação do Enem 2024, que trouxe como tema “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. Durante o último ano do Ensino Médio, ela estruturou uma rotina de estudos bastante rigorosa, intercalando aulas de redação na escola com treinos em casa. “Eu escrevia duas redações por semana: uma sem consulta, simulando o dia da prova, e outra consultando repertórios e redações de nota máxima. Esse equilíbrio me ajudou a ganhar confiança e melhorar a qualidade dos meus textos”, conta.

Clara acredita que a estratégia de estudar repertórios socioculturais aplicáveis a diferentes temas foi decisiva para o resultado. “Treinar repertórios chave economiza tempo e diminui a dificuldade de escrever na hora da prova. Além disso, seguir um modelo específico de organização, com frases introdutórias, conectivos e uma proposta de intervenção bem estruturada, dá segurança e clareza ao texto”, explica. Para ela, mais do que inspiração, a redação exige método e disciplina.

No dia do exame, a aluna optou por escrever a redação logo no início, reservando cerca de 1h10 — tempo que já havia treinado nas semanas anteriores. A estratégia funcionou, mas exigiu atenção no desfecho. “Minha maior dificuldade foi elaborar uma proposta de intervenção forte nas últimas linhas, mas consegui resgatar tudo o que tinha treinado e encaixar bem os argumentos”, lembra.

Clara reconhece que gostar de escrever pode facilitar o processo, mas não considera isso determinante para o desempenho. “Eu gosto de escrever, mas não é algo que faço como hobby. O que realmente fez diferença foi entender o formato da redação do Enem, treinar bastante e aprender a relacionar meus conhecimentos com a proposta. Mais do que talento, a prova exige técnica e prática constante”, avalia. Como conselho, ela reforça: “Treinem com frequência, inclusive temas pouco conhecidos, e façam simulados completos. Isso ajuda a controlar o tempo e a lidar com qualquer surpresa no dia da prova”. A preparação para a redação do Enem ajudou Clara a ser aprovada no curso de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), marcando nota 8,0 na redação do processo seletivo da instituição.

Técnica vale mais do que o gosto pela escrita

Aos 18 anos, Letícia Garcia de Toledo, formada no Ensino Médio na Escola Internacional de Alphaville, alcançou 940 pontos na redação na edição do Enem do ano passado. Sua preparação foi relativamente curta, mas intensa: durante seis meses, ela treinava uma redação por semana, sempre com temas de anos anteriores, além de contar com aulas particulares de redação. “Também montei um repertório de argumentos por área temática, o que me ajudava a adaptar as ideias para quase qualquer proposta. Acho super importante ter esses ‘argumentos chave’ prontos para cada tema possível”, explica.

A estudante reforça que a prática constante e o conhecimento das regras da prova foram determinantes para o bom desempenho. “Conhecer bem os critérios de correção do Enem é importante, porque você entende o que a prova valoriza e evita deslizes bobos”, afirma. Embora nunca tivesse gostado muito de escrever, Letícia decidiu encarar o desafio. “Acho que gostar de escrever ajuda, mas não é o suficiente. Na minha opinião, o que realmente conta é entender o gênero, treinar bastante e se acostumar ao formato.”

No dia da prova, ela optou por começar pela redação, estratégia que considera fundamental para administrar bem o tempo. “Primeiro li a proposta com calma, sublinhei as partes mais importantes e já fui anotando ideias do meu repertório. Depois fiz um esqueleto da redação, escrevi o rascunho e só passei a limpo no final”, conta. Para quem ainda está no 1º ou 2º ano do Ensino Médio, Letícia deixa um conselho direto: “Vale muito a pena fazer o Enem como treineiro. A prova é puxada, mas essa experiência ajuda demais a conhecer o formato, se acostumar e chegar mais confiante quando for pra valer.” Atualmente, Letícia cursa Direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Consistência na preparação e melhora contínua a partir dos erros

Davi Lombardo Perez Lemos, 16 anos, que hoje cursa o 2º ano do Ensino Médio no colégio Progresso Bilíngue Taquaral (Campinas/SP), conseguiu marcar 940 pontos na redação da edição 2024 da prova, quando ainda estava no 1º ano, como treineiro. Para conquistar a façanha, começou a treinar desde o nono ano, escrevendo semanalmente redações de diferentes modelos de vestibulares.

Para ele, a chave do bom desempenho está no hábito constante da escrita e na análise crítica dos próprios textos, acompanhada de uma revisão intencional para aprimorar os próximos textos. “Não basta escrever um monte de redações e não corrigir nenhuma. É preciso entender onde você está errando, reescrever e buscar melhorar a cada semana”, explica Davi.

Mais do que técnica, Davi acredita que o controle emocional é um diferencial para alcançar bons resultados. “Se você estiver nervoso, seu desempenho cai muito. Eu sugiro treinar em lugares diferentes, até mais barulhentos do que o normal, porque as condições do ambiente no dia da prova são imprevisíveis. Estar preparado para qualquer cenário te ajuda a manter o foco. Também considero importante cuidar da saúde mental, com acompanhamento psicológico quando necessário”, aconselha.

No dia da prova, como estratégia, ele organizou as ideias no rascunho, planejou cada parágrafo e só depois passou o texto para a folha oficial, tudo sem perder de vista o controle do tempo dedicado à redação, um fator fundamental. Davi reconhece que o treino consistente e o apoio nesse processo são os diferenciais para uma preparação de excelência, que se reflete na nota obtida.

“Sempre recebi apoio de professores, que me ajudaram a entender a estrutura dos textos e a corrigir meus erros. Esse acompanhamento também fez toda a diferença”, destaca o estudante, que pretende usar a nota do Enem no futuro, para ingressar em uma universidade pública de Medicina.