20/08/2018 as 08:08

Entrevista

“Lugar de mulher é na política”, afirma Sônia Meire

Continuando a ouvir os pré-candidatos ao Senado por Sergipe, o JORNAL DA CIDADE conversou com a professora Sônia Meire. Na entrevista publicada abaixo, ela explica os motivos que levaram à sua candidatura e deixa claro que ainda há muito machismo na política. Prova disso é que as mulheres são maioria no país, mas estão subrepresentadas em cargos políticos. Ela criticou também algumas candidaturas: “O atraso político não é somente uma questão de idade. Mas também de projeto político. Há pessoas jovens na eleição, mas com um programa e uma forma de fazer política completamente ultrapassados”, falou.

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“Lugar de mulher é na política”, afirma Sônia MeireFoto: Assessoria

JORNAL DA CIDADE - Professora, por que ser candidata ao Senado?
SÔNIA MEIRE - Com a conjuntura de forte crise econômica e o golpe de 2016, estamos vivendo uma grande retirada de direitos. Nosso povo está passando por grandes dificuldades de emprego, de moradia, de necessidades básicas. Além disso, atacam nossas liberdades democráticas com a prisão sem provas de Lula e a execução de nossa companheira Marielle no Rio. Precisamos virar o jogo a favor da maioria da população. As trabalhadoras e os trabalhadores precisam assumir o comando. O Psol, que vem lutando todos esses anos em conjunto com os movimentos sociais e sindicatos, participando ativamente das greves gerais e manifestações de rua, entendeu que era fundamental ocupar o espaço eleitoral para acumular forças e buscar o primeiro mandato em Sergipe. Então, ser candidata ao Senado é apresentar uma alternativa que seja uma trincheira em defesa dos interesses da maioria da população. E representar a maioria significa fortalecer a participação das mulheres trabalhadoras na política

JC - A mulher ainda possui baixa representação na política?
SM - Nós mulheres sentimos na pele todas as formas de opressão de uma cultura machista, patriarcal, exploradora, e temos lutado todos os dias na defesa da vida. Se não apresentarmos uma alternativa, Sergipe continuará com homens, com o histórico do coronelismo enraizado, defensores de privilégios para uma elite e todos alinhados à política golpista que vem retirando cada vez mais nossos direitos. A única mulher que existe no Senado representando Sergipe, é inexpressiva e representa os mesmos interesses conservadores e elitistas dos homens. Para nós, lugar de mulher é na política, mas não é qualquer mulher. Tem de ser mulher de luta e comprometida com os interesses das mulheres, negras e negros, da juventude, da população LGBTI, dos diferentes grupos sociais oprimidos.

JC - O que a senhora e seu partido pretendem defender no Senado?
SM - Essa pauta está sendo construída junto aos movimentos sociais, sindicatos, comunidades e o conjunto de trabalhadores no campo e na cidade. Temos feito plenárias abertas para discutir programa, seminários temáticos e abrindo espaço para a construção coletiva. Então, nosso compromisso é ouvir as pessoas e seus coletivos para levar as demandas adiante. Questões como a revogação de todas as medidas e contrarreformas do governo Temer, principalmente a EC 55 do teto dos gastos; fim dos privilégios e diminuição de salário dos parlamentares; estatização das empresas de produção de energia e lutar pela Fafen, Eletrobrás, Petrobras, Correios, Energisa e Embraer. Avançar na reforma tributária e a taxação das grandes fortunas; auditoria da dívida pública; reforma agrária para garantir a titulação das terras aos camponeses, comunidades tradicionais indígenas e quilombolas; geração de emprego com redução da jornada de trabalho e elevação do salário mínimo.

JC - São pautas bastante polêmicas. Há outras ainda?
SM - Mais poder para o povo por meio de reformas democráticas, tais como expropriação dos bens de todos políticos corruptos e empresas corruptoras; fim de todos privilégios e dos supersalários dos políticos, juízes e da cúpula das Forças Armadas; plebiscitos e referendos para que a população decida sobre as principais questões nacionais; e democratização da mídia, para quebrar o monopólio dos meios de comunicação. Na Segurança Pública queremos a “segurança dos direitos”. Pelo direito à vida defendemos desmilitarização da polícia, controlada socialmente, voltada para a prevenção e equipada para a investigação. Também é necessário legalizar o uso das drogas, pois a ilegalidade produz o tráfico e a guerra que tem matado milhares de jovens negros. Legalizar o aborto, pois mesmo sendo proibido continua sendo realizado, mas somente as mulheres pobres e negras é que são presas e morrem em sua grande maioria. Deve ser um assunto tratado como saúde pública e não com a polícia. Políticas públicas de combate a todas as formas de opressão às mulheres, negras e negros, população LGBTI.

JC - O que os diferencia dos demais candidatos?
SM - Primeiro, nossa localização política. Somos de um partido que votou contra o “impeachment” e contra todas as reformas de Temer. Portanto, não fazemos alianças com a direita. O PT e o PCdoB, por exemplo, foram contra o golpe, mas continuam coligados com os golpistas. Por isso, não são alternativas. A população mais pobre já está pagando a conta dessa política e paga com a própria perda da vida. De todas as candidaturas ao Governo e ao Senado em Sergipe, somente o Psol se posiciona contra o golpe e não se alia a golpistas. Segundo, por ser uma mulher de luta com atuação política nos movimentos sociais e sindical, na defesa dos direitos sociais do campo e da cidade. É impressionante que com tantos candidatos ao senado, que eu seja a única mulher candidata, quando somos a maioria da população.

JC - Voltamos ao tema do machismo...?
SM - O machismo se reflete em todos os espaços, inclusive nas eleições. Mas não vamos baixar a cabeça. As mulheres trabalhadoras vieram para ficar! Terceiro, por termos uma história de luta e trabalho de base, de organização social que vai para além das eleições. Não nos vendemos por financiamento empresarial, pois quem paga a conta cobra depois. Todos vão defender saúde, educação, segurança pública, mas nenhum diz de onde virão os recursos. São propostas vazias, pois não se comprometem com a auditoria da dívida pública e o fim dos privilégios, por exemplo. Estamos nas eleições para vencer. Mas ela não se sobrepõe às lutas cotidianas. As eleições demarcam um processo curto e precisamos avançar na unidade da classe para ocuparmos as ruas. Queremos pedir o voto e levar nosso programa às pessoas, mas queremos mesmo é estar junto nas lutas diárias. Somente nossa candidatura ao Senado tem esse compromisso.

JC - Como está a pré-campanha, tem visitado o eleitorado? Já visitou quantos e quais municípios?
SM - Nessa fase preparatória, de pré-campanha, são muitas burocracias para resolver. Mas dentro dos nossos limites temos conversado bastante com as pessoas nos quatro cantos desse Estado. Já estivemos em Japaratuba, Amparo, Aquidabã, Estância, Canhoba, Itabaiana, São Cristóvão, Socorro, Barra dos Coqueiros, Porto da Folha etc. e a receptividade tem sido muito boa. De outro lado, estamos de forma mais intensiva participando dos atos, manifestações e paralisações em todo o Estado como sempre fizemos. Nossa campanha estará a serviço de ampliar as lutas da classe trabalhadora.

JC - Como avalia as candidaturas de JB e Valadares? Eles são os velhos, o atraso?
SM - Com certeza, mas não são os únicos. Poderia juntar ainda figuras como André Moura, Pastor Heleno, Amorim, Belivaldo e tantos outros. O atraso político não é somente uma questão de idade. Mas também de projeto político. Há pessoas jovens na eleição, mas com um programa e uma forma de fazer política completamente ultrapassados. Não adianta pregar renovação e participar de alianças com as velhas oligarquias ou defender uma pauta completamente privatizante e neoliberal. Não há novidade nenhuma nisso. O governo já fortalece a terceirização e a privatização das empresas públicas. Portanto, o atraso é generalizado, seja por parte daqueles que se revezam há anos no comando do Estado, seja pelas jovens candidaturas que defendem um projeto limitado a fazer mais do mesmo.