15/10/2018 as 08:17

Entrevista/Delegado Alessandro

“As pessoas queriam renovação de verdade”

Fazendo uma campanha modesta, em um partido pequeno e sem muitos recursos políticos e financeiros, o delegado Alessandro Viera (Rede) foi a grande novidade da eleição deste ano em Sergipe. Eleito com mais de 400 mil votos, ele se consolidou como um forte nome no cenário político sergipano, que está sendo visivelmente renovado. Em conversa com o JORNAL DA CIDADE, ele falou sobre as suas propostas, suas ideias e sobre como será a sua atuação no Senado Federal, a partir de 2019. Ele também avisou que irá se posicionar, em breve, sobre a eleição presidencial.

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“As pessoas queriam renovação de verdade”Foto: André Moreira/Equipe JC

JORNAL DA CIDADE - A que o senhor atribuiu a grande votação que recebeu?
ALESSANDRO VIEIRA - Vários fatores contribuíram para a vitória expressiva que tivemos. Posso destacar o encerramento do ciclo de lideranças políticas históricas, o perfil de independência, seriedade e coragem, uma campanha de custo baixíssimo, mas muito bem executada, erros estratégicos por parte dos adversários e o principal: a mobilização de centenas de voluntários que abraçaram a campanha de uma forma inédita em Sergipe.

JC - Como espera atuar no Senado, para atender às expectativas dos eleitores que escolheram o senhor?
AV - A atuação será baseada em transparência e participação direta do eleitor. O uso da tecnologia, no sentido de trazer o eleitor para mais perto do centro de tomada de decisões é essencial. A renúncia a privilégios e a busca por um exercício do mandato que seja eficiente e econômico também serão marcantes.

JC - As pesquisas eleitorais estavam erradas ou houve um crescimento da sua candidatura na reta final? O que o senhor acha das pesquisas que foram divulgadas durante a campanha?
AV - As duas coisas aconteceram, mas também uma terceira. Algumas das pesquisas aparentemente eram meras peças publicitárias destinadas à manipulação do eleitorado em favor de determinados candidatos. Vamos defender no Senado projetos que acabem com essa situação abusiva.

JC - O senhor avalia que houve uma identificação do eleitorado do presidenciável Jair Bolsonaro com o seu nome? Talvez pelo seu cargo de delegado?
AV - É possível, mas pelo retorno que recebi de milhares de eleitores é mais provável uma identificação com a história de vida de seriedade e confronto com os poderosos. As pessoas queriam renovação de verdade.

JC - Como profissional da Segurança Pública que estará no Senado, o senhor pretende apresentar projetos para este setor? Quais?
AV - Pretendo apresentar projetos no sentido do fortalecimento e modernização das instituições que compõem a segurança pública, ouvindo os especialistas e as entidades de classe.

JC - O senhor defende a prisão após condenação em primeira instância? Em todos os casos?
AV - Defendo a execução provisória da pena após a condenação em primeira instância. Já recebi contatos de especialistas que não concordam com esta proposta. Estou aberto ao diálogo, mas mantenho um foco claro na redução da impunidade, através de processos muito mais rápidos e penas mais duras.

JC - O senhor também vai propor e defender um maior acesso da população às armas de fogo?
AV - Existe uma imensa desinformação sobre o tema, que é explorada por determinados políticos. O acesso legal a armas de fogo já vem crescendo muito nos últimos anos. O que defendo é a adoção de critérios mais objetivos para a concessão do porte, sem abrir mão dos requisitos de “ficha limpa” e capacidade técnica e psicológica. Situações como a dos proprietários rurais e dos profissionais da segurança privada, por exemplo, devem ter um tratamento diferenciado.

JC - E a redução da maioridade penal? É um projeto que está na sua pauta? O senhor avalia que isso seria significativo para a redução da criminalidade?
AV - Defendo a alteração do ECA para endurecer o tratamento do adolescente infrator que comete atos graves, como homicídios e latrocínios. Não defendo a simples redução da maioridade penal por entender que isso potencialmente vai fortalecer as facções criminosas que atuam nos presídios.

JC - O combate à corrupção foi um tema recorrente na sua campanha. O senhor tem propostas legislativas nesta área?
AV - Abraço integralmente as novas propostas da Transparência Internacional para combate à corrupção, com o aumento da transparência. Fui o único candidato ao Senado a assinar o compromisso do Unidos Contra a Corrupção.

JC - O senhor vai apoiar algum candidato a presidente, no segundo turno? Na sua opinião, como a Rede deve se posicionar?
AV - Vou manifestar meu voto. O projeto que defendi no cenário nacional, baseado no diálogo e na busca por pontos de consenso sobre os temas mais relevantes, não foi vencedor. É preciso escolher entre os projetos do PT e do Bolsonaro. Os dois estão distantes daquilo que considero adequado para o Brasil, mas é preciso manifestar uma escolha. É uma questão de respeito aos mais de 470 mil eleitores que confiaram em mim. Não confio em lideranças que se omitem nos momentos mais difíceis.

JC - Sua excelente votação na capital já deixa os analistas da política sergipana ouriçados. Alguns veem no seu nome um potencial candidato a prefeito de Aracaju, daqui a dois anos. O que o senhor acha da possibilidade?
AV - Não tenho essa pretensão pessoal, mas certamente vou participar do processo eleitoral de 2020 em todo o Estado, buscando garantir para o eleitorado opções de qualidade para prefeituras e câmaras municipais.

JC - Qual o recado que você deixaria aqui aos seus eleitores?
AV - É preciso manter a sociedade mobilizada, fiscalizando ativamente os políticos e contribuindo para a eficiência da gestão. É essencial estimular e facilitar a participação dos cidadãos na vida pública. Só assim teremos democracia de verdade.

Max Augusto/Equipe JC