22/10/2018 as 09:06

Entrevista/Rogério

“Pesquisas interferiram de forma decisiva no resultado eleitoral”

Após sagrar-se vitorioso para a segunda vaga sergipana no Senado Federal, com pouco mais de 300 mil votos, o petista Rogério aponta para influências negativas dos institutos de pesquisa e também para a inércia por parte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) neste assunto e no problema das fake news. Ele ainda negou a veracidade do vídeo que circula nas redes sociais e afirmou que não houve compra de votos em sua campanha. Sobre os pedidos de mea culpa, o presidente estadual da sigla afirmou que não há partido mais crítico consigo mesmo do que o PT – e falou que o partido fez muito mais coisas boas do que ruins para o país.

COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA

“Pesquisas interferiram de forma decisiva no resultado eleitoral”Foto: Assessoria

JORNAL DA CIDADE - O que você achou deste primeiro turno? Qual o balanço que você faz?
ROGÉRIO CARVALHO - Aqui em Sergipe, eu posso dizer que mais uma vez as pesquisas interferiram de forma decisiva no resultado eleitoral. Nós tivemos um primeiro turno onde, nas disputas majoritárias, as pesquisas apontavam vencedores diferentes dos que realmente venceram, tanto para o Governo do Estado quanto para o Senado. No caso do Governo do Estado, a diferença de Belivaldo para o segundo colocado era sempre muito pequena e a gente viu Belivaldo ter o dobro dos votos do segundo colocado. E a diferença do segundo para o terceiro colocado parecia muito grande, mas acabou sendo muito pequena. Então, a gente percebe o quanto as pesquisas interferiram nos resultados eleitorais. Isso é algo a se questionar ao Ministério Público Eleitoral. Esses institutos e essas instituições precisam olhar de uma forma mais apurada para o papel que cumprem as pesquisas eleitorais em eleições.

JC - Você acha que foram equívocos ou pesquisas fabricadas, deliberadamente, no sentido de favorecer alguém?
RC - Eu diria que as duas coisas. Não dá para não inferir que tenha havido a intenção de induzir o eleitor, porque é reincidente. Comigo é reincidente e com o mesmo instituto, inclusive. É a inadequação dos instrumentos e o desejo de interferir nos resultados. Isso tá latente, tá claro. Na outra eleição, em 2014, me deram 18 pontos de diferença para a minha adversária. Nessa me colocaram em sexto e eu fui o segundo, com 50 mil votos na frente do terceiro colocado.

JC - As pesquisas estavam erradas ou aconteceu uma mudança na reta final?
RC - Só quem não está na campanha pode acreditar nisso. Eu estava nas ruas, eu via as pessoas, eu via a manifestação das pessoas. Eu sabia que eu estava bem posicionado e sabia que teria a votação que eu tive, tanto é que nós divulgamos um vídeo no sábado à noite, que a gente tinha feito dez dias antes, já como vacina para a divulgação do resultado em véspera de eleição e eu dizia exatamente que as ruas diziam ao contrário do que estava sendo apresentado nas pesquisas.

JC - E as sondagens eleitorais internas, o que apontavam?
RC - Eu estava sempre em primeiro ou segundo lugar, há mais de 20 dias, empatado com Valadares, na frente um ponto, atrás um ponto. Sempre com uma vantagem de três pontos de André, quatro, cinco pontos de Jackson.

JC - Esse segundo turno aqui em Sergipe, eleição presidencial, você continua em campanha?
RC - Continuo em campanha com uma agenda intensa.

JC - Já na campanha presidencial, mais uma vez a gente volta a falar em pesquisa. Você acha que o PT tem como reverter esse resultado, caso considere verdadeira?
RC - Eu diria que para a campanha presidencial nós temos um fato mais grave, que são as fake news como estratégia de campanha de uma das candidaturas, que confunde o eleitor, que gera uma certa confusão na cabeça do cidadão. Muita mentira, muita desconstrução, uma coisa terrível, danosa à democracia. E na disputa nacional eu sinto a ausência do Tribunal Superior Eleitoral como deveria ser. É uma ausência muito complacente e evidente. Tomaram uma posição contra o kit gay, o TSE se manifestou dizendo que não é verdade que o Haddad fez o kit gay, uma notícia falsa e toda uma armação em torno de uma mentira para desgastar o nosso candidato. Mas mesmo com essa ação do TSE é muito pouco, porque não é uma, são centenas de fake news que são veiculadas com uma potência enorme por disparadores que estão localizados fora do país e que mandam numa velocidade incrível para milhares de pessoas ao mesmo tempo. O TSE deveria primar pela qualidade do debate e pela veracidade. Aqui fica uma cobrança ao ministro do TSE, o Fux, que disse que não toleraria fake news e me parece que ele está muito complacente.

JC - Qual é o impacto disso na população? As pessoas realmente acreditam?
RC - Acreditam, reproduzem e a gente tem prova disso. Por exemplo, divulgaram um vídeo sobre uma suposta compra de voto praticada por mim, eu dentro de uma Hilux. Eu nunca tive Hilux na minha vida, nunca fiz isso. As pessoas que andam comigo sabem que eu ando sem dinheiro no bolso, sem nada, justamente para não cometer o erro de praticar um ato indevido, irregular no período eleitoral. Esse vídeo foi feito em Sergipe, a placa não é de Sergipe e fizeram como sendo algo praticado por mim e divulgado num blog conhecido de uma pessoa que é Thiago Reis, ele divulgou, publicou isso.

JC - Você vai tomar alguma providência?
RC - Já tomei. Já prestei queixa. Não vou tolerar isso. Da minha parte é tolerância zero.

JC - Então não houve compra de votos na sua campanha?
RC - De forma nenhuma.

JC - Ainda falando sobre campanha presidencial, os adversários falam que as fake news também partem do PT. É correta essa afirmação?
RC - Eu gostaria muito que a investigação e a punição fossem para quem pratica, independente qual fosse o partido. Mas que houvesse uma isonomia na busca da notícia falsa e na punição na proporção do envio de notícias falsas. É preciso que os órgãos que fazem o controle assumam esse papel de árbitro para evitar que a gente tenha prejuízo à nossa democracia.

JC - Marina Silva colocou no debate e agora isso está retornando com mais força ainda que o PT deveria fazer uma mea culpa e reconhecer alguns erros. O que você acha disso?
RC - Eu acho que autocrítica todos nós fazemos o tempo todo. Não existe partido mais crítico consigo mesmo do que o Partido dos Trabalhadores. Ela, como uma ex-petista, pedir para que o partido faça uma autocrítica é redundante. O partido faz autocrítica de forma sistemática sobre os seus governos, sobre a sua atuação. Inclusive, dizem que o PT se basta porque ele é oposição dele mesmo, onde todo o debate é público. Nada no PT acontece de forma privada.

JC - Você acredita que Haddad pode virar?
RC - Acredito que Haddad já está virando, e não o Haddad propriamente, a sociedade é quem vai virar. Eu acredito numa virada da sociedade, porque o que se apresentou até agora do nosso adversário é lastimável para a democracia e para a vida em sociedade. O ódio, a belicosidade, a discriminação como prática política, a negação do diferente, da complexidade da sociedade, numa sociedade como a brasileira, é uma tragédia.

JC - Como você avalia um possível governo do Bolsonaro?
RC - Eu não avalio, espero o resultado da eleição para falar alguma coisa. Eu não acredito que a sociedade brasileira colocará alguém tão sem conteúdo e tão sem condição para presidir um país tão complexo como o Brasil.

JC - Apesar de o senhor ter sido o terceiro mais votado na capital, Bolsonaro teve grande vitória em Aracaju. A gente percebe que há hoje, na capital, uma grande resistência ao PT, ainda que você tenha sido eleito senador e que o partido tenha conquistado maioria dos votos no Estado, na eleição presidencial. A que o senhor atribui isso?
RC - Atribuo isso à incapacidade que alguns setores têm de ouvir, de escutar. Acho que dificuldade de compreender o que é o Partido dos Trabalhadores, um partido que fez muito mais bem do que mal à sociedade brasileira. É só pegar a juventude que entrou e que saiu da universidade, pegar o número de analfabetos que tinha no Brasil antes e depois do PT, pegar a renda per capita brasileira que multiplicou por três, antes e depois do PT, pegar o número de pessoas que passavam fome, 38 milhões que passavam fome e que deixaram de passar fome, pegar o número de habitações populares que a gente construiu, os números do Luz para Todos e pegar os dados de todos os programas do PT e fazer uma análise criteriosa, pensando numa sociedade mais civilizada; a gente contribuiu muito para o processo civilizatório do Brasil. Infelizmente, construir civilidade não é algo que importa para uma parte da sociedade. A gente precisa conviver com isso, respeitar isso e se desdobrar para nos tornarmos cada vez mais compreendidos e compreensíveis por esse setor da sociedade.