26/11/2018 as 08:10

Entrevista

“Mais de 50% de Socorro não tem rede de esgoto”

Após quase dois anos comandando a segunda maior cidade do Estado, Inaldo Silva (PCdoB), mais conhecido como “Padre Inaldo”, destaca nesta entrevista as dificuldades para tocar a gestão municipal: dívidas herdadas e falta de recursos. O prefeito, que apoiou Belivaldo Chagas (PSD) no pleito deste ano, agradeceu aos socorrenses os mais de 12 mil votos que Belivaldo registrou à frente do seu adversário – mas também se mostrou grato ao deputado André Moura (PSC) pelos R$ 8,5 milhões que chegaram a Socorro. Neste segundo biênio do mandato, Inaldo terá como prioridade a melhoria na área da Saúde. Confira a entrevista.

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“Mais de 50% de Socorro não tem rede de esgoto”Foto: Assessoria

JORNAL DA CIDADE - Prefeito, como o senhor avalia esses dois primeiros anos de gestão, que será concluído em dezembro?
INALDO SILVA - Eu avalio que houve desenvolvimento e crescimento. O primeiro ano foi de bastante dificuldade. Quando nós chegamos à prefeitura, em janeiro de 2017, fizemos todo o levantamento da realidade do município e encontramos fatos que dificultaram o andamento da nova gestão. Encontramos R$ 211 milhões em dívidas. Tivemos que renegociar essa dívida com a Receita Federal e com os fornecedores, que ameaçavam não manter aquilo que é básico, como limpeza pública, merenda, medicamento, combustível. Mas, diante de tudo isso, nós começamos a negociar essa dívida, começamos a dar passos concretos, como por exemplo na Saúde.

JC - E houve avanço na Saúde?
IS - Houve sim. Só existiam três ambulâncias sucateadas. E nós compramos mais sete de imediato, com recursos próprios. O município tinha 18 vagas de médicos em aberto, eles não queriam trabalhar em Socorro. O secretário fez o levantamento e viu que era por causa do salário, que era o menor do Estado. E nós procuramos igualar o salário do médico de Aracaju, Laranjeiras e essa região da Grande Aracaju. Nós conseguimos construir a UPA do Conjunto Jardim, onde vai servir à população do Jardim, Parque dos Faróis, Guajará, Palestina, toda aquela região, Santo Inácio, Santa Cecília. Vai funcionar 24 horas, é um mini hospital, algo belíssimo. Sempre digo que é a maior obra da nossa gestão.
JC - Já está em funcionamento?
IS - Já está para ser inaugurado. Está em 95%, faltam só alguns detalhes finais, como o maquinário, os móveis, é o que está faltando para nós inaugurarmos no próximo ano. Vai ser um presente para aquela comunidade. Na Saúde também nós conseguimos reformar o prédio e colocar o CEO, que é o Centro Odontológico. É um ambiente que parece uma clínica particular, não parece nem ser coisa pública. São 27 postos de saúde no nosso município e pegamos 19 funcionando de forma precária. Estamos reformando e ampliando esses postos aos poucos. Aumentamos a marcação de exames em 40% para servir melhor à população. Nos preocupamos em não faltar medicamentos nas farmácias e nossos postos de saúde. Estamos construindo duas UBSs, uma no Novo Horizonte e outra no Jardim Mariana, que são áreas descobertas pela saúde, de forma que nós estamos trabalhando cada vez mais.

JC - E na Educação?
IS - Conseguimos dar avanços importantíssimos na Educação, onde conseguimos pagar o piso dos professores durante esses dois anos, mesmo diante dessa crise. Foi o compromisso que nós assumimos com o sindicato, o Sintese, quando eu ainda era pré-candidato. Depois, nós conseguimos construir quatro creches. Já entregamos duas e temos duas para entregar até o fim do ano. Isso é muito importante, pois vai atingir umas 500 ou 600 crianças. São 500 ou 600 mães que vão ter como trabalhar para ajudar na manutenção da sua família, ter uma renda para a sua casa. Conseguimos reformar e ampliar alguns colégios. Conseguimos criar e aprovar a gestão democrática, muito importante e que era o grande sonho.

JC - Essa gestão democrática já está em vigor?
IS - Já está em vigor. Já houve a eleição e os novos diretores foram eleitos pela gestão democrática.

JC - Isso tira a indicação política?
IS - Tira a indicação política e é algo que a pessoa se compromete, porque é a população e os funcionários que elegem aquela pessoa. Você vai ter um diretor de uma escola, onde ele vai estar comprometido. Não é uma indicação política, que, muitas vezes, a pessoa não tem condições e estar ali só porque alguém colocou, mas não está se preocupando com o andamento, com o desenvolvimento. É uma realidade nova, mas uma realidade que eu estou apostando que vai dar certo.

JC - Essas dívidas que o senhor recebeu, como estão hoje?
IS - As dívidas foram parceladas. Com a Receita Federal, R$ 130 milhões foram parcelados para 120 meses. Só que você sabe que isso dificulta. Além de você pagar a Receita Federal todo mês, quando paga a folha, tem uma porcentagem que são dos encargos sociais, por exemplo. Nossa Senhora do Socorro paga, aproximadamente, R$ 2,5 milhões por mês de encargos sociais. Com a parcela que nós fizemos, de R$ 1,5 milhão, se tornam R$ 4 milhões. Isso dificulta o desenvolvimento. Esse valor poderia ser investido de calçamento, saneamento básico.

JC - Já começa o mês com o orçamento perdendo esses recursos...
IS - Isso mesmo. Aí vem precatórios, já assume o compromisso, que é o de R$ 700 mil mensal. Você já perde também. Duas, três ruas você poderia calçar com R$ 700 mil. É algo que dificulta a gestão, ela fica como se fosse engessada.

JC - Como está sendo tocar a administração nesse momento onde os prefeitos reclamam de falta de recursos, ainda mais com este problema?
IS - Então, nós conseguimos, fazendo algumas economias. Por exemplo, nós aumentamos a frota de veículos, mas, comparando 2016 para 2017, conseguimos só com combustível uma economia de R$ 3,5 milhões. Em outras áreas também conseguimos economizar. Com essa economia, nós estamos pagando salários em dia, pagamos décimo terceiro, nós demos um reajuste em 2017 de 7% e em 2018 foram 5% aos funcionários.

JC - Os serviços básicos da Prefeitura estão funcionando bem?
IS - Nós estamos cada vez mais procurando trabalhar. Estamos conseguindo que a limpeza da cidade seja aplaudida pela população, que percebe que é uma nova cidade, uma cidade mais limpa. Uma cidade que traz qualidade de vida para a população. Temos avançado bastante na questão social, procurando acolher as pessoas, mas procurando também ajudar as pessoas. Juntamos duas secretarias importantíssimas: a Assistência Social e a Secretaria de Trabalho. Juntas, elas têm feito grandes eventos, analisando o currículo das pessoas, fazendo parceria com as empresas privadas, encaminhando as pessoas para fazer testes e muitas delas sendo empregadas. Isso tem sido algo muito importante para a sociedade. A Secretaria de Assistência Social vem fazendo um excelente trabalho, encaminhando a população aos Cras, realizando cadastros e vendo quem tem realmente direito. O poder público favorece com o BPC, a Bolsa Família, são realidades que a gente vem cada vez mais procurando servir à nossa população.

JC - Quais são os planos para os próximos dois anos?
IS - Para os próximos dois anos nós temos já alguns recursos que conseguimos através de emendas impositivas para a Saúde. Conseguimos um recurso que vai dar condições para a gente melhorar os postos médicos e isso é bom para o funcionário público, que vai ter um local melhor para servir à população. Também é bom para a população que vai ser mais acolhida. Hoje as unidades de Saúde não têm computadores, possuem ar condicionados estão quebrados, precisamos trocá-los. Já começamos a fazer esse trabalho, de forma que cada vez mais estamos melhorando. Conseguimos recurso para fazer calçamento em alguns lugares. Socorro tem uma grande dificuldade. Mais de 50% de Nossa Senhora do Socorro não tem rede de esgoto, não tem saneamento básico, não tem calçamento. São os grandes desafios hoje do poder público: saneamento básico e calçamento para as pessoas. É um benefício imediato. Quando você calça uma rua e faz o saneamento, aquelas famílias estão recebendo o benefício imediato, levando dignidade.

JC - Então a Saúde será um dos focos desses próximos dois anos?
IS - É. Nós estamos voltando os nossos olhares para podermos conseguir os recursos. Estamos buscando empréstimo, que se for aprovado pela Caixa Econômica nós vamos conseguir ajudar muito a população levando esse serviço.

JC - O que está faltando para a liberação desse empréstimo? Qual o valor?
IS - O valor é de R$ 40 milhões. Foi por que, lá em Brasília foi cancelado para os municípios e estados que pediram. Eles criaram a dificuldade, o TCU, dizendo que não queriam apenas a garantia do FPM, que iam ver outro tipo de garantia. Mas agora já houve outras consultas e voltaram com a decisão de que o FPM será a garantia. Começaram a analisar novos processos. Recebemos o comunicado pedindo nova documentação, enviamos e estamos esperando essa aprovação.