13/05/2019 as 08:40

Entrevista

Márcio Souza: “Chegamos a um patamar em Estância que nenhum outro político de esquerda chegou”

Márcio Souza (PSOL), apresenta-se como o principal nome para polarizar com o atual prefeito, Gilson Andrade, a disputa pelo executivo municipal.

COMPARTILHE ESTA NOTÍCIA

O cenário de renovação política que tomou o país, no último pleito, revelou também um grande percentual de novos rostos sob o respaldo de antigos nomes. Ficou até mais fácil de reconhecer as ligações de parentesco entre os políticos de ontem e os de hoje. Entretanto, em Estância, importante município da região Sul do estado, o cenário de renovação política começa a se desenhar por linhas distintas. Amparado por resultados numéricos que denotam uma grande evolução política, nas últimas eleições, o já pré-candidato à prefeitura, Márcio Souza (PSOL), apresenta-se como o principal nome para polarizar com o atual prefeito, Gilson Andrade, a disputa pelo executivo municipal.                                                                      


“Chegamos num patamar na política estanciana que nenhum outro político de esquerda já chegou: o de polarizar uma disputa com a antecedência de mais de 17 meses da eleição e de manter, em duas eleições, patamares que mostram a fidelidade de um eleitorado que quer renovação (27,06% em 2016, e 27,59% em 2018)”, frisa Márcio.


Filho de família humilde, economista de formação, e atualmente cabo da Polícia Militar de Sergipe, Márcio Souza vem construindo a sua imagem política com muito suor e perseverança, ao longo dos anos. Embora ainda jovem, 42 anos, o economista já se escala para a sua sexta disputa eleitoral. Já se foram três para prefeito, uma para deputado estadual e, a última, para governador.
Militante de esquerda desde os tempos em que ainda frequentava a Pastoral da Juventude, da Igreja Católica, Márcio acredita que o cenário político no município é propício à narrativa da renovação e deverá manter o mesmo desenho já esboçado em 2018. Entretanto, espera ter tempo para organizar melhor o bloco dos partidos da oposição, disperso desde a campanha de 2016.
“Estamos há apenas sete meses do segundo turno da última eleição, onde ocupávamos polos distintos da disputa estadual. Temos tempo para construir um diálogo de entendimento e uma narrativa do simbolismo de ganhar as eleições em torno de um programa e do acúmulo do acerto de nossas disputas. Queremos construir um novo ciclo da política para Estância”, destaca.


Ao avaliar a gestão do atual prefeito, Gilson Andrade, Márcio Souza questiona a falta de obras estruturantes e políticas públicas voltadas para os mais pobres, que sejam capazes de promover o desenvolvimento social em Estância. “Já são dois anos e quatro meses de mandato e não se sabe qual é a marca deste governo, sem identidade, que está na sombra das ações do governo de Ivan Leite. A única ação é o pagamento em dia, que deve ser o dever de casa de todo gestor”, critica.


Ao evidenciar seu nome como o principal representante da renovação política no município, o jovem economista também pontua o que tem levado à população a acreditar em sua candidatura. “O desgaste da classe política, pelos erros de gestões anteriores que somam atrasos de salários, falta de participação popular e ausências de políticas públicas para os mais pobres e o declínio da representatividade política de Estância em nível estadual. Uma tradição operária e de resistência ajudou na formação do ambiente político progressistas”, explica. Confira, abaixo, a entrevista completa:

JC MUNICÍPIOS – Embora jovem e sem ter nenhum padrinho político na família, você já foi para quinta candidatura eleitoral (três para prefeito, uma para deputado estadual e, a última, para governador). Como teve início a sua vida política? O que mudou do candidato da primeira candidatura, para o Márcio de hoje?
MÁRCIO SOUZA - Meu despertar para as realidades da política se deu em Estância, em dois ambientes: durante a minha adolescência, na Igreja, através das pastorais sociais, sobretudo, na pastoral da juventude; e na escola pública, onde cursei toda minha vida, sendo contemporâneo de um momento forte do movimento estudantil e das lutas do magistérios da rede pública estadual em intensas greves dos professores, complementando minha formação na UFS com o curso de economia.

JC MUNICÍPIOS – Você tem uma longa história de militância política de esquerda, com passagem, inclusive, pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Como você avalia o cenário de atuação da esquerda, hoje, em Sergipe? Você acredita que a direita, a exemplo do que ocorreu no último pleito em todo país, vai continuar conquistando adeptos no estado? A que você atribui isso?
M.S. – A esquerda em Sergipe, como no Brasil, deve passar por um processo de reorganização, sendo necessário fazer um trabalho de base e disputar a juventude. Em Sergipe, a esquerda precisa ir mais longe do que o movimento sindical, que faz um árduo trabalho de resistência, mas o desafio é chegar às periferias e ao interior do estado, buscar uma ação popular contra as opressões e redimensionar a luta por direitos humanos em suas várias dimensões. A onda conservadora com elementos de extrema direita, que foi bem sucedida em 2018, se tornará perene por alguns anos, acredito, por isso precisaremos de maturidade para construir unidade no campo progressista. O personalismo, e as alianças com setores de direita, levaram a tática da conciliação de classe, e de governo de coalizão, à exaustão e o distanciamento do institucional com a base social.

JC MUNICÍPIOS – Em uma entrevista, você disse que o Petismo não tinha mais fôlego para puxar as esquerdas e atrair mais setores. Você acredita que, como prefeito eleito de um município importante do estado, como Estância, você poderia liderar esta organização da esquerda em Sergipe?
M.S. – Uma coisa de cada vez. Hoje chegamos num patamar na política estanciana que nenhum outro político de esquerda já chegou: de polarizar uma disputa com a antecedência de mais de 17 meses da eleição e de manter, em duas eleições, patamares que mostram a fidelidade de um eleitorado que quer renovação (27,06% em 2016, e 27,59% em 2018). Mas, primeiro, precisamos vencer uma eleição que será muito dura, conquistar o apoio dos partidos progressistas de oposição ao governo federal de extrema direita e, depois, trabalhar muito para realizar uma gestão popular e democrática que encante os estancianos. Fomos candidato a governador no intuito de mostrar um PSOL popular e de massas, enraizar o partido no interior e atrair lutadores sociais. O resultado desse trabalho poderemos medir após quatro anos, passando, inclusive, por 2020 com o êxito que possamos obter em Estância. Vale destacar que Sergipe está entre os 10 estados que o PSOL conseguiu atingir a cláusula de barreira. Tenho clareza de nosso tamanho e de nossos limites. Mas um mandato em Estância ajudará a dá visibilidade e viabilidade política ao Partido em Sergipe.

JC MUNICÍPIOS – Sabe-se que você também tem se movimentado bastante em torno da formação de um grupo forte para disputar as próximas eleições. Você já esteve conversando com o PSB, o PDT e com o PT, que inclusive já definiu pré-candidato. Por que tem sido tão difícil unir a oposição em Estância? Você ainda tem esperanças que esses partidos possam te apoiar?
M.S. – Das três eleições para prefeito que disputamos em Estância, essa é a primeira vez que estamos bem posicionados já na largada, visando 2020, e com a responsabilidade de dialogar com a oposição, já que no último pleito de 2016 o PSB e o PT compunham o governo de Carlos Magno e um núcleo independente formado pela Rede, PC do B, PDT e PV optaram em apoiar aliados a Gilson Andrade - célula política de André Moura e Amorim. Estamos apenas há sete meses do segundo turno da última eleição, onde ocupávamos polos distintos da disputa estadual. Temos tempo para construir um dialogo de entendimento e uma narrativa do simbolismo de ganhar as eleições em torno de um programa e do acúmulo do acerto de nossas disputas. Queremos construir um novo ciclo da política para Estância.

JC MUNICÍPIOS – Como você avalia o cenário atual da política em Estância? O clima de mudança que tomou o país, nas últimas eleições, tem encorajado as mais diversas candidaturas? Ou isso está atrelado ao enfraquecimento do atual grupo que está no poder?
M.S. – O Cenário é propício a narrativa da renovação. Minhas últimas votações foram expressões desse desejo popular e hoje se destaca a polarização entre nosso polo e a gestão atual. Os grupos políticos em Estância são bem definidos e ao mesmo tempo dispersos. A disputa de 2020 terá o desenho da votação para governador, em Estância, de 2018, com mais uma candidatura da extrema direita, porém sem expressão.

JC MUNICÍPIOS – No tocante a trabalho, como você avalia a situação administrativa do município, que nos últimos 10 anos passou pelas mãos de três gestores? Qual é a sua avaliação da gestão do prefeito Gilson Andrade?
M.S. – A atual gestão ainda não realizou concurso público e tem reiterado edições de processos seletivos. Também tem registrado um alto índice de ocupação de cargos comissionados nomeados, que passa de 500, que era uma das críticas feitas a administração anterior, destacando negativamente que na atual gestão há grande quantidade de pessoas oriundas de outros municípios o que causa um descontentamento na população local. Falta à gestão atual obras estruturantes e políticas públicas voltadas para os mais pobres que sejam capazes de promover o desenvolvimento social. A altura de 2 anos e 4 meses de mandato e não se sabe qual a marca deste governo, sem identidade, que está na sombra das ações do governo de Ivan Leite. A única ação é o pagamento em dia que deve ser o dever de casa de todo gestor.

JC MUNICÍPIOS – Quais têm sido os principais problemas de gestão enfrentados pela cidade? Como enfrentá-los? Você já tem um plano de trabalho para o seu governo municipal?
M.S. – O papel do desenvolvimento econômico da cidade precisa ser redimensionado, pautando ações não só na atração de novas indústrias, mas também de empreendimentos na área de serviço, e potencializando a agricultura familiar. Focar a questão do saneamento básico em especial a destinação do esgoto e resíduos sólidos deve ser outra prioridade.

JC MUNICÍPIOS – Nas últimas três eleições municipais, você foi demonstrando um crescimento considerável em número de votos. Em 2008, obteve 921 votos. Em 2012, 2.339 e, em 2016, com uma campanha franciscana, chegou a quase um terço dos votos válidos, com 9.556. A que você atribui esse crescimento?

M.S. – O desgaste da classe política, pelos erros de gestões anteriores que somam atrasos de salários, falta de participação popular e ausências de políticas públicas para os mais pobres e o declínio da representatividade política de Estância em nível estadual. Uma tradição operaria e de resistência ajudou a formação do ambiente político progressistas.

JC MUNICÍPIOS – Sabe-se que Estância é um dos municípios do estado com maior vocação turística, seja pelas belas praias, banhos em lagoas, como também pelos festejos juninos. Como promover melhor essas potencialidades para atrair mais investimentos para o município?

M.S. – Primeiro, o Governo do Estado precisa priorizar o litoral estanciano, que já está interligado ao acesso à Bahia pela ponte Gilberto Amado, sem, contudo, contar com investimentos em infraestrutura, sobretudo, na Praia do Abais. A região não possui um posto policial e a segurança é fundamental para um ambiente de negócios. Precisamos da construção da rodovia ligando a zona urbana à zona litorânea, que foi prometida por vários governos e, inclusive, conquistados R$ 15 milhões, através do Proinveste, recurso removido pelo governo do Estado para destinação da rodovia. Outra necessidade diz respeito ao recapeamento de 20km do acesso, que liga a BA 101 a rodovia SE 100; Qualificação profissional para juventude da região e valorização das atividades extrativistas locais, com potencial para empreendimentos e arranjos locais, a exemplo das mangabeiras. Destinação de um percentual dos Royates para políticas públicas para população local e preservação de nossas riquezas naturais. Nosso potencial junino precisa ser resgatado a partir de um sentimento de pertencimento e valorização de quem produz e promove a cultura. Veja o tamanho de nosso barco de fogo no largo da gente sergipana é a expressão que se dá aos festejos juninos de Estância.