15/06/2020 as 08:01

Entrevista

André Moura: ‘Saí do Rio de Janeiro como entrei: pela porta da frente’

Confira a entrevista com o ex-secretário da Casa Civil do Rio de Janeiro, o sergipano André Moura.

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AGORA EX-SECRETÁRIO DA CASA CIVIL DO RIO DE JANEIRO, O SERGIPANO ANDRÉ MOURA (PSC) AVALIA QUE CONSEGUIU FAZER UM TRABALHO TÉCNICO NA GESTÃO PÚBLICA FLUMINENSE.

NESTA ENTREVISTA AO JORNAL DA CIDADE, ELE CITA OS PONTOS EM QUE HOUVE AVANÇO, COMO O CORTE DE GASTOS E INVESTIMENTOS NA SAÚDE E EDUCAÇÃO. SOBRE AS ACUSAÇÕES DE CORRUPÇÃO QUE PERPASSAM O GOVERNO WITZEL, MOURA RESSALTOU QUE SEU NOME NÃO É CITADO NELAS. “EU NÃO SOU ACUSADO EM ABSOLUTAMENTE NADA DISSO, NEM SOU CITADO”, DIZ ELE.

A PEDIDO DO JC, ELE COMPARA AS AÇÕES DOS GOVERNOS DO RIO DE JANEIRO E SERGIPE DURANTE A PANDEMIA, E TAMBÉM FALA SOBRE OS SEUS PLANOS NA POLÍTICA – E NÃO DESCARTOU UMA POSSÍVEL CANDIDATURA DA SUA FILHA À CÂMARA FEDERAL EM 2022. CONFIRA ABAIXO!

JORNAL DA CIDADE - Como o senhor avalia a sua passagem pelo Governo do Rio de Janeiro?
ANDRÉ MOURA - Meu trabalho foi técnico. Fizemos um choque de gestão, colocamos todas as contas públicas em dia, cortamos todos os gastos supérfluos e investimos corretamente nas áreas prioritárias da saúde, educação e segurança pública. Diga-se de passagem que, após seis anos, fizemos com que o Estado pudesse investir o limite mínimo constitucional de 12% na Saúde e 25% na Educação. Regularizamos o pagamento da folha de servidores, pagando os salários atrasados; pagamos o 13º salário no dia 2 de dezembro, implantamos uma política de governança com vistas ao maior controle interno e gestão administrativa do governo, ampliamos a base aliada do governo na Assembleia, construindo um saldo positivo entre o Executivo e o Legislativo; municipalista que sou, conseguimos ajudar todos os 92 municípios com o pagamento do 13º em 2019 e agora enviando recursos do Tesouro Estadual para o combate à Covid-19. Saí do Rio de Janeiro como entrei: pela porta da frente e hoje toda a imprensa do Rio de Janeiro reconhece nosso trabalho.

JC - O senhor deixou o cargo no momento em que o governo do RJ enfrenta acusações de corrupção e o seu nome chegou a ser citado. O governador Witzel praticou corrupção? O senhor esteve ligado a algum ato ilegal?
AM - Meu nome não é citado em nenhuma acusação dessas que o governo sofre, a exemplo da contratação das empresas de serviços terceirizados e principalmente as questões dos contratos emergenciais para construção dos hospitais de campanha nesse período de combate ao coronavírus. Eu não sou acusado em absolutamente nada disso, nem sou citado. Meu nome é mencionado em outro caso de restos a pagar de empresas de um cidadão conhecido como Rei Arthur, um bandido corrupto, condenado a mais de 200 anos de cadeia, foragido e, segundo matérias que saíram em rede nacional, se encontra nos Estados Unidos. Uma acusação leviana e descabida, porque, segundo a matéria da revista Veja, e eu disse isso ao repórter, todo esquema operado por esse marginal ocorreu em março de 2019 e eu cheguei ao Governo do Rio de Janeiro, como secretário de Representação, em maio de 2019 e à chefia da Casa Civil no final de setembro. Seria impossível até mesmo por uma questão temporal.

JC – Existem provas deste esquema?
AM - Outra coisa que fica muito clara na matéria é que o próprio Ministério Público não aceitou a delação, porque não existem provas e toda essa tentativa de acordo de delação foi arquivada. Ou seja, o Ministério Público, por si só, deixou claro o absurdo das acusações. Quanto a essas acusações que sofre o Governo do Rio de Janeiro, das contratações emergenciais, não fui citado em momento algum.

JC - É possível fazer algum paralelo entre o combate à Covid-19 no Rio de Janeiro e em Sergipe? Há alguma similaridade?
AM - Similaridades existem. Os decretos do governador Belivaldo Chagas, de isolamento, na mesma linha de manter as famílias em casa para evitar a proliferação do coronavírus, são muito semelhantes aos decretos editados pelo Rio de Janeiro até o dia 31 de maio. O governador Wilson Witzel, neste último decreto, fez uma abertura considerada até muito ampla para quem conhece o gráfico de crescimento do contágio lá no Rio de Janeiro, mas os primeiros decretos são muito próximos aos editados aqui em Sergipe e foram importantes para controlar o crescimento do contágio pelo coronavírus.

JC – Mas as ações tomadas pelos governo são semelhantes?
AM - As ações são um pouco diferentes. Como eu estava na Casa Civil, e até pelo meu perfil municipalista, consegui fazer o contingenciamento de despesas consideradas neste momento como supérfluas, para priorizar o repasse de recursos aos municípios fluminenses. As prefeituras estão na ponta, no combate direto para o controle da contaminação, portanto sempre procurei fazer a parceria entre o governo e as prefeituras e, graças a esse trabalho, o Governo do Rio de Janeiro repassou milhões do Tesouro estadual para os 92 municípios, independente de questões político-partidárias. Esses recursos permitiram que as prefeituras pudessem comprar EPIs, testes para a Covid-19, compra ou aluguel de respiradores, e os prefeitos reconhecem que foi devido a esse trabalho feito por mim que os casos no interior crescem em menor taxa do que na capital. Além disso, lá o Governo do Estado tomou a iniciativa de, ele próprio, construir os hospitais de campanha, que hoje estão sob investigação. Então, as similaridades estão nos decretos e as diferenças nas ações.

JC - Com o seu retorno para Sergipe, quais são os seus planos? O que o senhor tem feito?
AM - Meu plano inicial é descansar um pouco e ficar mais próximo da família, pelo menos nesses primeiros dias. Eu vinha em um ritmo muito acelerado, primeiro como líder do governo no Congresso, Câmara e Senado; a semana inteira em Brasília e aos finais de semana aqui, fazendo um trabalho político na capital e no interior. Terminou o mandato, fui secretário do Rio de Janeiro em Brasília, depois chefe da Casa Civil, então o ritmo estava realmente muito acelerado, ausente da família. Agora vou aproveitar mais os filhos, ficar mais em casa e, depois, continuar o trabalho de fortalecimento do PSC para esse processo de eleições municipais, além de retribuir o apoio dos amigos que estiveram comigo em 2018, enquanto candidato a senador. Ajudar na campanha de cada um como forma de agradecimento por tudo que eles fizeram.

JC - O senhor pretende disputar o Governo do Estado em 2022? Quem poderia apoiar esse seu projeto? O senhor hoje está ligado a qual grupo político, quem são os partidos e políticos sergipanos que poderiam apoiar essa sua empreitada?
AM - Ainda estamos nos avizinhando das eleições municipais, é muito prematuro já estar falando de 2022. Primeiro temos que passar pelo resultado das eleições deste ano, que servirá de sinalização para as estaduais. Não temos projeto definido para 2022; o meu projeto, neste momento, depois de descansar um pouco com a família, é focar nas eleições municipais e fortalecer o PSC, contribuir com quem esteve comigo em 2018. Vamos vencer uma etapa de cada vez, né?

JC - O senhor pensa em tentar novamente um mandato de deputado federal ou isso está descartado? O senhor está preparando o nome da sua filha para disputar um mandato na Câmara Federal?
AM - Repito, vou discutir 2022 depois das eleições 2020. Ao que serei candidato, não tenho essa definição agora, mas sobre Yandra não está descartada a possibilidade dela vir a ser candidata a deputada federal, só não temos ainda nada definido.

JC - Na condição de aliado ao prefeito Edvaldo Nogueira, como já se manifestou, o senhor vai tentar indicar o vice do prefeito? Quais nomes o senhor indicaria?
AM - Não há essa pretensão ou planejamento no diretório municipal do PSC. Eu dei autonomia para que o diretório pudesse definir o apoiamento à reeleição do prefeito Edvaldo Nogueira. E confesso que fiquei feliz, porque me sinto um pouco responsável pelo sucesso da gestão do prefeito Edvaldo Nogueira nas obras que ele está executando, afinal de contas a maioria é com recursos viabilizados pelo nosso mandato. São cerca de R$ 320 milhões que estão transformando Aracaju em um verdadeiro canteiro de obras, a exemplo do recapeamento asfáltico nas principais avenidas, os corredores de ônibus, toda essa reurbanização da Avenida Hermes Fontes, os semáforos inteligentes. As obras da Zona Norte, no Moema Meire, Japãozinho, Pantanal, Soledade, na Avenida Euclides Figueiredo que os moradores não sofrem mais com alagamentos, pois a água escoa em minutos e o trânsito flui; também a zona Sul, com a pavimentação da maioria das ruas do 17 de Março, Santa Maria, Senhor do Bonfim, Loteamento Barroso, a cobertura da Canal 04 (atual Avenida Caçula Barreto) que mudou a realidade do local e os moradores agradecem. Enfim, fico feliz pelo sucesso da gestão de Edvaldo Nogueira e pela parceria que nós fizemos me sentindo parte desse sucesso.

JC - Qual a sua avaliação sobre a gestão de Jair Bolsonaro?
AM - A gestão do Governo Federal nos traz preocupação, primeiro porque o governo Bolsonaro não tem demonstrado um planejamento para preparar o país para o futuro, segundo suas próprias ações, muitas delas ferem a Constituição, ferem a democracia, por exemplo quando ele participa de manifestações que pedem fechamento do Congresso Nacional e pedem fechamento do STF e o Exército nas ruas. São atos antidemocráticos, inconstitucionais, ao criticar a imprensa age numa tentativa de tirar a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa e isso é uma crítica à própria democracia conquistada já no final da década de 1980, final da ditadura militar, com manifestações, prisões e, infelizmente, pela morte de muitas e muitos que lutavam pela liberdade pela democracia.

JC – E as gestões de Belivaldo Chagas e Edvaldo Nogueira?
AM - Sinto a boa vontade do governador Belivaldo Chagas em acertar. Entendo que precise um planejamento mais definido de ações de governança. Ele tem demonstrado intenção de acertar, mas é preciso fazer um choque de gestão deixando um Estado mais preparado, principalmente para as próximas gestões e gerações. Edvaldo Nogueira, como já disse, faz uma boa gestão com os recursos que nós mandamos para as obras estruturantes visando melhorar a qualidade das pessoas.

JC - O senhor vai atuar diretamente nas eleições municipais em Sergipe? Quais serão os municípios onde irá focar? Como está a situação em Japaratuba, Pirambu…?
AM - Como dito anteriormente, nas eleições municipais iremos retribuir o apoio que nos foi dado em 2018 e procurar fortalecer o PSC. Focaremos, principalmente, nos municípios em que teremos candidaturas majoritárias do PSC. Japaratuba e Pirambu, situações definidas. Em Japaratuba a prefeita Lara é candidata à reeleição, faz uma grande gestão, com alta aceitação popular. E em Pirambu, o vice-prefeito Guilherme é o nosso cabeça de chapa, que conhece a cidade, foi secretário quando fui prefeito e fundamental para o sucesso do meu mandato.

JC - Quantos prefeitos o PSC possui hoje em Sergipe e qual o seu planejamento para as eleições municipais deste ano? Eleger mais prefeitos do partido ou apoiar aliados?
AM - O PSC tem hoje 16 prefeitos e prefeitas, no atual mandato. Lógico que vamos trabalhar para eleger o maior número possível de prefeitos do PSC e também apoiar e contribuir para a vitória de nossos aliados, que sempre estiveram conosco, seja nas eleições em 2018 ou anteriores, Esse é o nosso planejamento: eleger o maior número de gestores pelo PSC e retribuir o apoio daqueles que foram corretos comigo nas eleições de 2018.

Por Max Augusto
Foto: Divulgação