24/09/2022 as 06:06

ENTREVISTA

Após a morte de Marcelo Déda, já travei muitas lutas, e essa será só mais uma”, Eliane

Sobre sua atuação nos conselhos estaduais, ela garante que apenas cumpria sua função e que não se beneficiou disso

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Após a morte de Marcelo Déda, já travei muitas lutas, e essa será só mais uma”, Eliane

Nesta entrevista ao Jornal da Cidade, a vice-governadora Eliane Aquino ratifica sua candidatura a uma vaga na câmara federal e diz que esta será só mais uma das lutas que travou após a morte do ex-governador Marcelo Déda. “Quem faz parte do partido dos trabalhadores não costuma fugir às batalhas e assim prosseguirei”, diz ela, destacando que não há no processo nada que desabone a sua conduta ética. Sobre sua atuação nos conselhos estaduais, ela garante que apenas cumpria sua função e que não se beneficiou disso. Ela também fala sobre a atual conjuntura política e os problemas no brasil, bem como sobre como trabalhará para mitigá-los. Confira abaixo a entrevista na íntegra.

JORNAL DA CIDADE - Por que a senhora decidiu manter a candidatura?
ELIANE AQUINO - Para além de ser um direito que a lei me assiste e da confiança que tenho na defesa construída por minha assessoria jurídica, refleti muito sobre minha trajetória e todos os caminhos que percorri até aqui. Sobre o fato de não haver contra mim nenhum ato que desabone minha ética, meu caráter ou meu compromisso com a coisa pública. Continuo por meu desejo e compromissos genuínos em fazer do meu trabalho um instrumento de transformação social. Por saber que o presidente Lula precisará de um Congresso que esteja realmente comprometido com o povo e com a reconstrução do nosso país. E, sobretudo, por ter recebido uma quantidade imensa de mensagens não apenas de apoio, mas de pedidos para que eu não desistisse. As manifestações foram tão intensas e, sinto eu, verdadeiras, que percebi que minha candidatura a deputada federal não é mais só minha, mas de muitas pessoas, especialmente das que compõem os grupos mais vulneráveis e que sabem que minhas bandeiras não são só políticas, mas de vida. Uma coisa é certa: após a morte de Marcelo Déda já travei muitas lutas e essa será só mais uma. Quem faz parte do Partido dos Trabalhadores não costuma fugir às batalhas e assim prosseguirei.

JC - Por que optou por permanecer ativa nos conselhos? Outros candidatos o fizeram? A senhora recebeu algum alerta em relação a isso?
EA - Continuei nos conselhos por compreender que eram funções inerentes às atribuições do cargo de vice-governadora. Minha participação nos conselhos decorre justamente de determinações legais no que se refere ao cargo que ocupo e não de uma nomeação específica da minha pessoa. Qualquer um que venha a ser vice-governador integrará, do mesmo modo, os conselhos. Vale frisar ainda que em nenhum momento utilizei esses ou outros espaços públicos para me beneficiar de algum modo. E que carrego comigo a certeza de que não agi de má fé ou contra o erário em nenhum momento do exercício de minhas funções. Para além disso, destaco que não houve, em momento algum, qualquer tipo de alerta, orientação, recomendação ou advertência por parte de qualquer membro do Estado no sentido de me afastar das atividades dos colegiados.

JC - A senhora acha que consegue reverter essa decisão do indeferimento do registro?
EA - Sim. Assim como defendido pelo nosso corpo jurídico, a Procuradoria Geral Eleitoral, órgão do Ministério Público Federal, emitiu nesta quinta-feira, 22, um parecer dizendo que o pedido de impugnação que tentam realizar contra a minha candidatura é improcedente. Isso quer dizer que o Ministério Público Federal entende que não há irregularidades na candidatura. A luta ainda não acabou, mas essa análise reforça que a tese jurídica da nossa defesa é forte. Buscamos demonstrar que estava em cumprimento de funções a mim delegadas em decorrência do que a lei determina sobre o cargo de vice-governador, que eu estava atuando nos conselhos em decorrência do meu mandato e não por um cargo ou função de livre nomeação, que não agi de má fé, em benefício próprio ou lesando o erário. De todo modo, o caso em questão deixou claro que temos uma lacuna na jurisprudência eleitoral que verse diretamente sobre a impossibilidade dos vices que são membros natos dos conselhos permanecerem nessas funções específicas.

JC - Uma possível ausência do seu nome na disputa desarticula a estratégia eleitoral do partido, para eleição de deputados?
EA - A estratégia do Partido dos Trabalhadores é eleger o maior número possível de candidatos à Câmara Federal com o objetivo de termos uma bancada forte de sustentação ao governo do presidente Lula. Para isso, conta com a força de todas as candidaturas colocadas, inclusive a minha. Ciente da lisura e ética com que conduzo minha vida particular e pública, o partido não vislumbra a possibilidade de “possível ausência” e mantém a confiança no sucesso do recurso apresentado. 

JC - Quais serão as suas bandeiras em Brasília?
EA - O Brasil atravessa um dos piores momentos da sua história recente. Vemos um país marcado por retrocessos em diversas áreas. Por falta de um Governo Federal realmente comprometido com seu povo, regredimos ao terrível Mapa da Fome. Voltamos a ter milhões de brasileiros sem saber se conseguirão fazer ao menos uma refeição ao longo do dia, enfrentando o desemprego, a alta dos preços de itens básicos e uma profunda desesperança. Diante de tudo isso, há muito a ser feito. No entanto, há temáticas e grupos que necessitam, ainda mais, de políticas públicas eficazes para conter e reparar os abismos aprofundados nos últimos anos. Por isso, dentre tantas causas que carrego comigo, seguirei atuando firmemente por ações de: equidade de gênero e promoção dos direitos das mulheres; estímulo ao empreendedorismo das mulheres; enfrentamento a todas as formas de violência, especialmente contra os grupos mais vulneráveis; enfrentamento ao racismo, em suas mais variadas formas, e estímulo à igualdade racial e uma cultura antirrascista; respeito e valorização dos nossos povos tradicionais; combate à discriminação e estímulo ao respeito aos cidadãos LGBTQIAP+; reconstrução e fortalecimento do Sistema Único de Assistência Social (Suas); promoção e defesa dos direitos das crianças e adolescentes; promoção e defesa dos direitos das pessoas com deficiência e também de suas famílias; promoção e defesa do meio ambiente, com base num desenvolvimento que seja, de fato, sustentável; apoio aos pequenos produtores rurais, bem como suas cooperativas, e estímulo a produções agroecológicas; defesa do ensino público gratuito, com qualidade e orçamento; fomento ao primeiro emprego para a juventude e fomento e valorização da cultura. w

JC - O nome de Marcelo Déda será lembrado nesta campanha eleitoral? O que a senhora acha disso?
EA - A história de Marcelo Déda se confunde com a história recente de Sergipe. Ele será sendo sempre uma referência de estadista, no mais amplo significado da palavra. Por isso, desde a sua morte, seu nome segue sendo utilizado pelos mais diversos políticos. O uso de seu nome, a meu ver, não seria um problema se todos que utilizam de sua imagem também buscassem seguir sua postura diante da vida e, sobretudo, da política. Infelizmente, há uma distância muito grande entre o discurso de alguns e suas práticas. Mas caberá ao povo julgar quem realmente valoriza a importância de sua história e deseja mantê-la viva entre as próximas gerações e aqueles que só buscam usá-lo para confundir a população.

JC - A força de Lula em Sergipe será suficiente para eleger o governador, senador e deputados?
EA - É inegável que o apoio do presidente Lula é de extrema importância para qualquer candidato. No entanto, nenhum apoio por si só será suficiente para eleger quem quer que seja se não houver boas propostas para o desenvolvimento humano e econômico do nosso Estado, bem como compromissos sérios e claros com a nossa gente. E isso a população sabe que encontra verdadeiramente entre os candidatos que estão no agrupamento do Partido dos Trabalhadores.

JC - Na sua opinião, qual deveria ser a primeira ação do próximo presidente do Brasil e do próximo governador do Estado?
EA - Não tenho dúvidas de que Lula será o nosso próximo presidente. Sendo assim, o primeiro desafio da nova gestão será mapear todos os problemas e retrocessos gerados pela atual gestão. A exemplo do corte profundo de orçamento em áreas estratégicas da saúde, da educação, da assistência social, do meio ambiente, da ciência e da tecnologia. A boiada estourou e passou por cima de muitos direitos da população. Arrumar a casa, por assim dizer, irá demandar um esforço extremo porque, na verdade, será preciso não somente reorganizar, mas reconstruir. Nesse sentido, o próximo governador de Sergipe, que acredito ser Rogério Carvalho, terá o desafio de contribuir para a reconstrução do pacto federativo e para a retomada de parcerias efetivas entre os entes federativos que possam contribuir efetivamente para a melhoria da vida da nossa gente.

|Por Max Augusto
||Foto: Divulgação